Por Caio Santos – Operador de commodities agricolas da Stone X
Encerrando o mês de abril, a movimentação técnica dos participantes do mercado ante à algumas alterações nos fundamentos do cacau nas últimas duas semanas do mês, conduziram o mercado de futuros negociados em NY novamente para o piso da consolidação em que os preços têm se mantido em 2021. Encerramos o mês com a tela de N21 cotada à 2382, muito próximo do fechamento de março (2385), e após ter atingido a máxima de 2537 ao longo de abril.
Já salientamos algumas vezes que o ano safra 20-21 conta com um superávit relevante, acima de 100 mil toneladas, e que historicamente esse excedente de estoques vem acompanhado de tendência de baixa para a safra. O mercado, que vem trabalhando consolidado em 2021 (ainda que em um intervalo de 300 pontos), parece subir quando o contexto macroeconômico e o otimismo tomam conta das negociações e corrige novamente para baixo quando os fundamentos atuais se evidenciam.
No final do mês de abril, dois fatores reforçaram o contexto atual dos fundamentos, a produção de 2,23 milhões de toneladas para a Costa do Marfim, projetada pela CCC este ano (ante à projeção de 2,150 milhões prevista pela ICCO em fevereiro) e os subsídios para exportadores locais aprovado pelo governo do país, que contribui com a comercialização da produção. Mais uma vez o mercado precifica o contexto de estoques confortáveis em meio à oferta crescente e demanda em lenta recuperação em 20-21 – os preços físicos baixos nas principais praças e os spreads das telas futuras de cacau se normalizando ao longo de abril reforçam essa visão.
O posicionamento dos agentes em meio à esse cenário levou os especuladores à reduzirem suas apostas compradas no cacau, tanto em Lon quando em NY, e ampliar as apostas vendidas, se antecipando à comercialização da safra intermediária de Gana e Costa do Marfim (que seguem atrasadas).
Embora o momento dessa safra seja condizente com os preços mais baixos, ressaltamos que o cenário para o final desse ano (início da próxima safra) sugere um contexto diferente. Mensalmente os PMIs da indústria de grandes economias das Europa, da China e dos EUA tem apresentado avanço, além da estabilidade acima de 50 pontos (sinalização de que a demanda industrial está crescendo).
Além disso, na Europa, duas medidas chamam a atenção, com o potencial de reativar a demanda por chocolates: a abertura econômica; e o chamado “passaporte Covid”, medida que a Comissão Europeia está analisando e que visa permitir novamente receber a entrada de estrangeiros que já tenham sido vacinados (tanto europeus quanto de outros países). São pontos que sugerem maior aceleração na recuperação da demanda ainda este ano, e que podem promover uma virada no balanço de oferta e demanda do cacau de superávit para déficit em 21-22.
No curto prazo, os futuros de cacau seguem em viés de baixa, podendo renovar as mínimas do ano no caso de fechamentos abaixo de 2360 para a tela de N21. Próximos suportes são vistos em 2328 e 2311, com resistências em 2379 e 2396. Fechamentos acima de 2432 podem reativar o viés altista do mercado.