Por: Dorcas Guimarães
Não é a primeira vez que o sol assola e assusta toda região sul da Bahia; mas, dessa vez, um fato inédito provocado pela situação da falta de água tanto no campo quanto na cidade, ocupa em manchete alguns meios de comunicação da imprensa escrita e ou televisiva, reportando de forma alvissareira o que chamam de “nucleação de nuvens”, como pretensiosa ação com intenção de trazer chuva para o sul da Bahia, através desse referido processo.
Não que eu seja 100% incrédulo desse sistema funcionar, acredito que até possa acontecer, mas, de forma bastante localizada, até imagino que talvez até com a intromissão das hélices ou turbinas do avião nas nuvens, mesmo sem pulverizar com água ou pulverizando, algumas gotículas podem até serem provocadas e caírem das nuvens, mas, analisando que a ação se da através de uma pequena aeronave, a qual leva apenas 300 litros de água, sem nenhuma adição de outros produtos, acho muito difícil que esse método tenha um efeito significativo, a ponto de provocar chuva em toda região sul baiana; fico pensando: Se o método é eficiente ao ponto de merecer tanta mídia aqui na região, porque não se usam esse sistema com mais frequência em outro local Brasil afora; imagino que pelo custo, qualquer industrial, agricultor ou pecuarista de médio porte alto poderia usar esse método, até em beneficio próprio e sabemos que isso não acontece em grande escala, ao menos que seja de conhecimento público.
Sei que o desespero em ver uma região inteira secando seus rios e nascentes, com a agricultura e pecuária em risco de perda de lucro significativo, isso leva pessoas a buscarem soluções a todo custo, por mais absurdas que sejam ou pareçam ser, desde que tragam alguma esperança de mudança, pra quem achava e ou ainda acha que “o mundo vai se acabar agora” e esse fim do mundo começa ou começaria na região cacaueira da Bahia com o forte calor, incêndios e a falta de chuvas.
Mas, em se tratando desse tema tão em voga nesse momento, com tanta repercussão na mídia, principalmente com matéria feita pelos principais atores no processo, vejo aí uma diversificação de interesses, que ao meu entender, foge do verdadeiro foco anunciado, no caso a crise hídrica da região, e passa pelo âmbito da política, de interesses pessoais e industriais. Acompanhem-me, por favor:
Para inicio e dando graças a Deus, estamos vendo as chuvas naturais caindo na região do sul baiano, conforme previsões já feitas anteriormente em diversos sites de meteorologia e essas certamente não foram causadas por esse tal método de “nucleação de nuvens”; pois, se assim fosse, a Maju, aquela simpática moça da rede, Globo, ao anunciar a previsão do tempo em todo país e ou os meteorologistas, quando fossem referir-se ao tempo no sul da Bahia, haveriam de perguntar à MOD CLIMA (Empresa contratada para tal missão de fazer chover), e ou aos envolvidos nesse processo, se iriam fazer chover ou não naquele determinado dia, para assim Maju anunciar com mais precisão a previsão do tempo no sul baiano.
Vejo com certa suspeita a ajuda de deputados de partido comunista e alguns políticos de ocasião, pois, em outras épocas, em se tratando de cacau e região cacaueira da Bahia, desejavam que “o mar pegasse fogo, pra comerem peixe frito”, mas, agora em “boca de política”, se ao falar em carro pipa da um ibope danado, imagina falar em fazer chover. Não entendo o porquê em insistir nessa atitude, inclusive onde já chove e continua chovendo de forma natural e divina, ainda por cima considerando que o próprio presidente do IPC, Águido Muniz, reportou na lista do cacau, que o presidente da Comissão da Agricultura da ALBA, Deputado Vitor Bonfim e o Deputado Eduardo Sales, já lhe informaram, que não existem comprovação nem aprovação dessa técnica que chamam de “nucleação de nuvens”.
Vejo com mais suspeita ainda nesse ensejo, a participação da AIPC, (Associação Nacional da Indústria Processadora de Cacau) promovendo esse feito, pois, imagino que se esta quisesse realmente ajudar a região e especialmente ao cacauicultor, que é quem lhe fornece matéria prima para que exista, deveria primeiramente combater o DESÁGIO, que é quem traz maior consequência negativa para o cacau e para á região por inteiro, principalmente prejuízo financeiro qual certamente é muito maior do que a seca por ventura venha ou viesse a trazer em prejuízo. Nessa pequena “ajuda” dessa citada associação, pode estar incluída aí certo tipo de “golpe de Mestre,” já que o marketing com motivação de “ajudante de salvador da pátria”, como propaganda positiva para a AIPC, tornasse muito maior em termos lucrativos para essa poderosa associação que uma simples contribuição financeira.
Mas, uma coisa positiva me chama atenção nessa história; é o fato de ver que o cacauicultor ainda consegue se mobilizar ou ser mobilizado e convergir para um lado comum; isso sim é importante; são poucas as vezes em que vemos essa classe se mobilizar, antes dessa vez, houve um grande encontro em Gandu-BA, que perdeu o foco principal do movimento, qual seria a luta contra o deságio, mas que ficou na “poeira das nuvens” pena que a motivação dessa união, ainda não tenha chegado de forma constante e consistente a assuntos que pesam mais do que a falta de chuva momentânea e passageira, assuntos que custam passar e que nos causam maiores prejuízos que a falta de chuva, quais são: O deságio sobre a @ de cacau, a anulação das falsas dívidas que nunca acontece, o reconhecimento do crime da VB pelo Governo Federal e a indenização das vítimas, incluindo aí uma política pública para diminuir a violência nesta região, violência essa motivada por esse crime de terrorismo no cacau.
Uma coisa nessa história observa-se com bons olhos, é que a empresa responsável para essa empreitada (MOD CLIMA) reporta as tentativas de nucleação das nuvens com naturalidade, sem estardalhaços, na maioria das vezes explicando o porquê não ter conseguido fazer chover, vezes por falta de nuvens, vezes por espaço aéreo proibido… Enfim, o tempo é o Senhor da razão e no frigir dos ovos, com a devida prestação de contas, com o relatório final dessa empreitada, com analise individual de cada um, é que veremos se vale a pena tentarmos resolver os problemas da terra do cacau lá no céu voando nas nuvens, ou se é melhor pisar em terra firme, enfrentando e lutando contra os problemas que de fato realmente podemos combater, com aglutinação, cooperação e união dos produtores de cacau e demais interessados de fato na melhoria de vida na região cacaueira da Bahia.
Saudações a todos, feliz e próspero Ano Novo !!!
O texto expressa exclusivamente a opinião do colunista e é de responsabilidade do autor