VAMOS EXPORTAR CACAU DE ALTO PADRÃO?

Os números de exportação do cacau no Brasil não são animadores. Estima-se que em 2019 chegamos perto de 0,09% de participação em todas exportações Brasileiras, ou o 113º lugar no ranking interno! E o maior responsável por isso é o cacau transformado, ou seja, manteiga, pasta e cacau em pó.

Se comparados a outros números do nosso agro e lembrarmos que o Brasil já foi o maior exportador de cacau, nos deparamos com uma triste realidade.

Temos que entender também que o cacau do Brasil tem como seu maior destino o mercado interno de consumo e que nossa produção não dá conta de atende-lo.

Em um mercado que está nas mãos dos grandes exportadores, volume para eles é o que importa.  Ouvimos sempre as oportunidades de exportação em termos de containers de 12 toneladas de cacau! Muito assustador e uma realidade bem distante para quem tem 1, 2 ou 3 toneladas de cacau disponível.

A jornada para o pequeno produtor que quer exportar não é fácil e sempre desencorajadora, uma vez que logística, custos e a burocracia brasileira atrapalham bastante. A estrutura de apoio e a boa vontade dos órgãos em informar sobre todas as etapas do processo não são das mais acessíveis.

Aqui na Bahia temos iniciativas importantes da FAEB, FIEB e do Sebrae para a qualificação e educação sobre o tema, ainda muito distantes do produtor.  A Associação Cacau Sul Bahia já reuniu algumas Cooperativas com a finalidade de criar volume e rastreabilidade ao nosso cacau. Um ótimo começo.

Mas vamos falar de nicho.  O mercado internacional já reconhece e paga mais por um cacau bem fermentado, selecionado, com aroma único, por ser um varietal, de um “terroir” diferente, ou até por ter maior teor de manteiga.

E como já escrevemos aqui, o Brasil tem grande chance de ser em breve o novo “queridinho” do Cacau de Alto Padrão, por conta do nosso chocolate Bean To Bar estar ganhando o mundo. E com isso crescem as oportunidades de exportar nossas melhores amêndoas.

O movimento Bean to Bar não para de crescer no exterior, ainda com uma demanda pequena, porém sempre se firmando com mais espaço e maior número de consumidores conscientes e informados.

Então, esse sonho de grande parte dos cacauicultores brasileiros, de exportar suas amêndoas de Cacau Fino ou de Alto Padrão depende de alguns fatores, o principal sendo a mudança da percepção mundial sobre o grande salto recente na melhoria da qualidade do cacau brasileiro.

Outro fator que pesa é que compradores de marcas de Bean to Bar ao redor do mundo, independente do seu tamanho, querem receber as amêndoas de cacau de uma “Origem”, seja ela uma fazenda, cooperativa ou comunidade. Isso porque o padrão de “entrega” é balizado pela uniformidade nas amêndoas, que é conseguida pelo padrão de variedades colhidas, tamanho e de um pós-colheita de qualidade. A “Origem” é o DNA daquele cacau, que com todas suas características organolépticas ou sensoriais define o potencial sabor em um chocolate.

Então, pelo menos no Bean to Bar, aquela rápida solução de juntar lotes de fazendas distintas para fazer volume e tentar acessar mercado não funciona muito bem para os “chocolate makers”, sempre interessados em mostrar as qualidades que cada Origem pode trazer para suas criações.

Essa “padronização” quando o cacau vem de vários produtores e que vemos acontecer em outras Origens ao redor do cinturão do cacau, é muitas vezas conseguida através de um modelo de unidades centralizadas de Pós-colheita, o que garante aos pequenos e médios agricultores um acesso a melhores preços, compra garantida de suas safras e apoio técnico.

E isso dá ao comprador as garantias necessárias de volume e qualidade.

Outros fatores que são desafios para nós produtores de Cacau de Alto Padrão: a tão enigmática abertura de mercado, que creio ser baseada principalmente na criação de uma relação direta com os “chocolate makers” internacionais (pilar do Bean to Bar); a manutenção de padrão e qualidade das amêndoas a cada safra; a garantia de entrega do volume nas datas combinadas; fluxo de caixa provido por financiamentos com taxas justas; e finalmente o tão necessário apoio institucional para facilitar na burocracia do processo de exportação.

Estamos a caminho, vendo que o movimento de alguns protagonistas está abrindo frentes importantes. Mas não podemos esperar que de uma hora para outra tudo mude. Devemos nos organizar, nos profissionalizar e instruir, pleitear apoio e criar laços fortes para podermos, juntos, não só levar a percepção para compradores do exterior que temos sim cacau de qualidade, como também que estamos preparados para assumir o compromisso sério de exportar nosso Cacau Fino ou de Alto Padrão.

Tuta Aquino

@valepotumuju

@baianichocolates

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