APÓS RECORDES EM 2023, PERSPECTIVA É DE NOVAS ALTAS PARA SUCO E CACAU EM NY

No ano passado, cotações dos grãos foram pressionadas pela grande oferta, mas em 2024 o efeito do clima na soja do Brasil pode levar à valorização em Chicago

No início do ano que se encerrou, as expectativas eram de baixa para as chamadas “soft” commodities, como suco e cacau, negociadas na bolsa de Nova York. Mas o movimento foi o oposto, com altas expressivas, a ponto de muitas alcançarem valores recorde no mercado futuro em 2023. Já os grãos registraram reduções na bolsa de Chicago com a forte produção global.

Em 2024, os problemas climáticos no Brasil podem dar fôlego a futuras altas da soja, enquanto as matérias-primas em Nova York devem passar por mais volatilidade.

Das commodities negociadas em Nova York, um grande destaque foi o cacau, cujo mercado atravessa o terceiro ciclo seguido com déficit de oferta global, e redução de estoques nos países consumidores. Em 2023, a cotação média mensal dos papéis de segunda posição subiu 65,97% e alcançou em dezembro o maior valor médio da história, de US$ 4.215 a tonelada.

A situação reflete problemas na Costa do Marfim e Gana, que respondem por dois terços da produção global e receberam chuvas torrenciais no segundo semestre, que favoreceram o surgimento de pragas. Soma-se a isso a indicação de demanda resiliente na Europa, apesar da inflação dos chocolates.

Nas negociações dos futuros de suco de laranja concentrado e congelado (FCOJ, na sigla em inglês), as cotações alcançaram o patamar inédito de US$ 4,0080 a libra-peso durante o ano. Após alguns ajustes, os valores médios dos contratos de segunda posição encerraram 2023 com alta de 73,93%.

O mercado do suco foi definido pela disponibilidade ajustada na Flórida e no Brasil e por uma procura ainda firme em importantes centros, como EUA e Europa.

Para 2024, os fundamentos não indicam trégua para as duas commodities. No caso do cacau, a oferta da Costa do Marfim segue em franca redução. Do início da colheita, em outubro, até 24 de dezembro, as entregas nos portos caíram 36%, para 747 mil toneladas.

O mercado do suco deve seguir apertado pela baixa oferta brasileira, ameaçada pelo avanço do greening e pelo clima quente e seco. Por ora, a relação entre estoques finais e consumo no mundo deve ficar em 13% nesta safra, igual à passada, segundo o Itaú BBA.

Um aperto na oferta global também fez o açúcar subir. Em meados de 2023, o preço do demerara bateu os 27 centavos de dólar por libra-peso — o maior nível em 12 anos — com a constatação de que a falta de chuvas na Índia e na Tailândia enxugaria a oferta asiática.

Na segunda metade do ano, a produção elevada no Brasil amenizou as preocupações, mas não as eliminou. Com isso, o preço médio dos contratos encerrou o ano com ganho de 15,06%. O clima no Centro-Sul favorece novo recorde de produção em 2024/25, mas o mundo segue com oferta restrita.

O café, por sua vez, sofreu forte oscilação com as incertezas sobre a safra brasileira. No ano, o valor médio dos contratos de segunda posição do arábica subiu 12,71%

Já os grãos viveram um ano de pressão dada a ampla oferta global. A supersafra brasileira de soja assegurou ao mundo oferta confortável, ofuscando a produção menor que o esperado nos EUA. No ano, o valor médio mensal do contrato de segunda posição da soja caiu 10,48% em Chicago.

Neste ano, as intempéries enfrentadas pelo Brasil devem sustentar os preços, como já começou a ocorrer. Uma alta pode vir mais na entressafra nos EUA (de fevereiro a maio), mas de forma limitada, diz Ale Delara, sócio da Pine Agronegócios. “A menos que se confirme uma quebra muito grande, para uma faixa entre 140 milhões e 145 milhões de toneladas” na safra brasileira de soja.

Há quem avalie que as perdas no Brasil estão subestimadas. “No início de dezembro, a China estava negociando soja a US$ 14 por bushel, acima do valor em Chicago, o que significa que é um patamar ‘aceitável’ para os consumidores”, afirma João Birkham, CEO da consultoria Sim Consult.

Um fator que pode ser limitante de altas é a Argentina, que deve dobrar sua colheita na nova safra, para 48 milhões de toneladas, segundo o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA). Mas, para Birkham, essa oferta será “insuficiente para preencher a lacuna que será deixada pelo Brasil”.

Os preços do milho e do trigo, por sua vez, cederam ao longo de 2023 diante da forte safra do Hemisfério Norte e da melhora da oferta do Mar Negro, apesar de o prolongamento da guerra na Ucrânia ter interrompido o fluxo comercial em alguns momentos. Os valores médios dos contratos do milho recuaram 25,93% no ano, e os do trigo caíram 17,72%.

Fonte:Globo Rural

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