Cacau: dobrar a produtividade é possível

Árvore nativa da floresta Amazônica, o cacau representa o sustento de mais de 93 mil estabelecimentos rurais no Brasil, segundo os dados do último Censo Agropecuário (2017) do IBGE. Deste montante, 69 mil (74%) estão na Bahia e 18 mil no Pará (19%), estados que juntos representam 93% das propriedades destinadas ao cultivo da amêndoa. O restante (7%), mas não menos importante, se encontra no Espírito Santo, Rondônia e Minas Gerais.

Segundo dados de institutos de pesquisa, nos últimos anos, o país registrou uma produção média de 200 mil toneladas por ano, número muito aquém do potencial nacional. O desafio é a baixa produtividade – 300 kg de cacau/hectare, de média, no período de 2010 a 2019.

O baixo indicador é um desafio antigo, que teve suas origens na infestação por vassoura- de-bruxa no final da década de 80, que devastou as lavouras cacaueiras na Bahia, deixou os produtores endividados e minou a capacidade de investimento no setor. Com árvores velhas, falta de tratos culturais e renovação, as lavouras deixaram de ser produtivas e os produtores passaram a não ter rentabilidade com a atividade.

Mas é possível reverter esta situação e aumentar a produtividade? Rosana Leite e Gilson de Assunção, produtores de cacau do Quilombo Laranjeiras, em Igrapiúna (BA), mostram que sim. Por muitos anos, Gilson migrava para o Espírito Santo para trabalhar na colheita do café e trazer o sustento para família. Com disciplina, juntou dinheiro e adquiriu um sítio de 3 hectares, em que planta cacau consorciado com seringueira, com cravo, e com guaraná e ainda cultiva milho, banana, laranja, têm horta e criação de frangos, diversificando assim a produção.

Em 2020, Gilson e a esposa Rosana começaram a participar do Cacau+, programa vinculado ao Ciapra Baixo Sul, consórcio de 14 municípios do Sul da Bahia, que tem como meta elevar a produtividade do cacau. A equipe do programa inicialmente os capacitou em clonagem e manejo do cacaueiro.

“A maior dificuldade era comprar adubos. Às vezes, passava a hora de adubar, porque não tínhamos dinheiro”, conta Gilson. Com o Cacau+, além da assistência técnica, a família ganhou uma análise de solo, 2 toneladas de calcário, 1 tonelada de gesso, 1 kit viveiro rústico e 500 mudas. “Nossa produtividade no cacau saltou de 37 arrobas/ha para 100 arrobas/ha em dois anos”, diz Rosana.

Não por acaso, a vida da família se divide em antes e depois do Cacau+. O programa ensinou Rosana a manejar o casqueiro (as cascas que sobram da quebra do cacau) e transformá-lo em adubo. Atualmente, a família fornece alimentos para projetos como o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE). “Hoje, trabalhamos e vivemos do que é nosso”, diz Rosana.

O exemplo de Rosana e Gilson evidencia como práticas básicas de manejo – análise de solo, adubação e podas para entrada de luz no cacaual – colaboram para o aumento substancial da produtividade e, consequentemente, da renda dos produtores. Um dos elementos fundamentais é a assistência técnica, que pode ser provida por cooperativas, entidades, projetos governamentais ou parcerias como as fomentadas pelo CocoaAction no Brasil.

*Vitor Stella é agrônomo e consultor do CocoaAction Brasil, iniciativa da Fundação Mundial do Cacau (WCF, na sigla em inglês), que desde 2018 atua no país para aproximar os atores da cadeia cacaueira, gerar diálogo e esforços coletivos a fim de superar os desafios da cadeia e avançar com a sustentabilidade no campo.

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