O cenário do cacau em Gana, o segundo maior produtor mundial, está passando por uma crise sem precedentes. O país está adiando a entrega de até 350.000 toneladas de cacau para a próxima temporada devido a colheitas insatisfatórias, de acordo com informações obtidas pela Reuters. Este desenvolvimento agrava ainda mais as perspectivas para a indústria global de chocolate, já fragilizada pela escassez de oferta.
Fabricantes de chocolate em todo o mundo já começaram a repassar o aumento dos custos para os consumidores, com o preço do cacau mais do que dobrando este ano. Esta alta é reflexo direto de três anos consecutivos de colheitas ruins em Gana e na Costa do Marfim, que juntos são responsáveis por 60% da produção mundial de cacau.
Desafios Climáticos e Econômicos
A produção de cacau em Gana tem sido severamente impactada por uma combinação de fatores adversos, incluindo condições climáticas desfavoráveis, doenças nas plantações e a mineração ilegal de ouro, que frequentemente desloca as fazendas de cacau. Além disso, muitos agricultores ganeses estão contrabandeando grãos para países vizinhos, onde conseguem preços mais altos do que os oferecidos pelo governo ganês, diminuindo ainda mais a quantidade de cacau disponível para entrega.
Segundo fontes da indústria, Gana pré-vendeu cerca de 785.000 toneladas de cacau para a atual temporada 2023/24, mas provavelmente só conseguirá entregar cerca de 435.000 toneladas. Historicamente, o país vende antecipadamente cerca de 80% de sua safra, que geralmente varia entre 750.000 e 850.000 toneladas. No entanto, a safra caiu para aproximadamente 670.000 toneladas na temporada passada e as previsões indicam que não ultrapassará 500.000 toneladas nesta temporada.
Impacto Global e Projeções Futuras
A Organização Internacional do Cacau (ICCO) projeta uma queda de 10,9% na produção global de cacau, totalizando 4,45 milhões de toneladas nesta temporada. Isso obrigará as empresas de processamento e fabricação de chocolate a utilizar suas reservas para atender à demanda.
O aumento dos preços do cacau está desestabilizando um mecanismo tradicional de comércio a termo. O Cocobod, regulador do cacau em Gana, usa a média das vendas antecipadas para definir o preço mínimo de compra para a temporada seguinte. Com a falta de 350.000 toneladas de grãos nesta safra, Gana enfrenta dificuldades em suas vendas antecipadas para a próxima temporada. Até agora, foram vendidas apenas 100.000 toneladas, muito abaixo das expectativas.
Essas vendas antecipadas foram realizadas a preços significativamente inferiores aos atuais preços de mercado, o que dificulta a capacidade do Cocobod de aumentar os preços pagos aos agricultores. A falha em ajustar os preços pode levar os agricultores a contrabandear mais grãos, mudar para outras culturas ou vender suas terras para mineradores de ouro.
Perspectivas e Estratégias
O Cocobod afirmou que as vendas antecipadas estão ocorrendo normalmente, mas se recusou a divulgar detalhes sobre volumes ou preços. A organização enfrenta um cenário desafiador, onde a necessidade de equilibrar as finanças e garantir um preço justo aos agricultores é vital para a sustentabilidade da produção de cacau em Gana.
Enquanto o mercado global de cacau navega por essas águas turbulentas, a esperança reside em uma recuperação nas safras futuras e em estratégias eficazes que possam mitigar os impactos adversos atuais. A resiliência dos agricultores ganeses e a capacidade de adaptação das políticas do Cocobod serão cruciais para determinar o futuro deste setor vital para a economia global do chocolate.
Fonte: mercadodocacau com informações Reuters