Organizada pelo CocoaAction Brasil e AIPC, a viagem levou jornalistas para o Sul da Bahia, com visitas a propriedades rurais e instituições de pesquisa & inovação
De 19 a 23 de setembro, o CocoaAction Brasil, iniciativa da Fundação Mundial do Cacau (WCF) e a AIPC (Associação Nacional das Indústrias Processadoras de Cacau) levaram um grupo de jornalistas para uma imersão em regiões cacaueiras do Sul da Bahia. A viagem foi pautada em modelos produtivos eficientes; a ideia foi permitir que os jornalistas vivenciassem a realidade local e pudessem conferir in loco as histórias de vida de produtores, que conseguiram melhorar a produtividade no cacau e, consequentemente, a renda familiar, após a adoção de boas práticas agrícolas e orientação técnica qualificada.
A visita inicial foi ao Ciapra, consórcio intermunicipal de 14 municípios do território do Baixo Sul da Bahia, que representa 1/3 da produção cacaueira do Estado. São mais de 25 mil agricultores familiares, distribuídos em 99,6 mil hectares cultivados com cacau. Esta é a região de atuação do programa Cacau+, iniciativa voltada ao aumento da produtividade, da qualidade e sustentabilidade das lavouras de cacau, que atende 2.400 famílias.
O programa trabalha na difusão de conhecimento através de assistência técnica, e já conseguiu impulsionar produtividade média dos produtores assistidos de 320 quilos por hectare (em 2021, quando foi lançado) para 630 kg/ha em 2023. Hoje, o Cacau+ conta com 40 técnicos agrícolas, que dispõem de moto e tablet para facilitar o atendimento aos produtores. Cada família beneficiada recebe 1 kit viveiro (para fazer as próprias mudas de cacau) e tem 1 hectare selecionado na propriedade para ser alvo de análises de solo, e receber calcário e gesso para adubação, funcionando como uma Unidade Demonstrativa de Resultado (UDR).
Josenildo de Jesus Souza, produtor de cacau em Ituberá (BA), é um dos contemplados. Ele ingressou no projeto piloto do Cacau+ em 2018, época em que colhia 405 quilos em 1,3 hectare. No entanto, com os conselhos do técnico agrícola do projeto, ele viu sua produção na mesma área saltar para 2.400 quilos “Com o aumento da renda, estou realizando um sonho de criança e cursando a faculdade de agronomia”, diz Souza.
O programa Cacau+ também foi um divisor de águas na vida de José Alberto e da esposa Zulmira Vilas Boas, produtores de cacau em 4,5 hectares no município de Igrapiúna (BA). Antes do projeto, ele adubava a roça uma vez por ano, mas usava um quantidade exagerada de fertilizante. “Com a instrução do técnico, passei a adubar três vezes por ano. O resultado foi um aumento na produção de 2.700 quilos (colheita de 2021) para 4.200 quilos em 2023”, conta Vilas Boas.
Adailton Sepulveda, produtor de cacau em Ituberá (BA), também viu a vida se transformar com a assistência técnica do Cacau+. “Eu saí de uma produção pequena de 600 quilos/hectare em 2021 para 1.905 quilos/hectare no ano passado. E minha expectativa é alcançar 3.000 quilos por hectare neste ano”, diz Sepulveda. Hoje, o produtor adota boas práticas agrícolas, faz análise de solo, manejo do casqueiro (compostagem das cascas após a quebra do cacau) e está renovando a lavoura com talhões monoclonais, que facilitam a condução da lavoura. Com tantos resultados positivos, hoje o Cacau+ tem mais de 1.000 famílias na lista de espera para participar do programa.
Além da visita aos produtores, o grupo de jornalistas conheceu o trabalho da Casa Familiar Rural, escola em que jovens de 14 a 19 anos fazem o Ensino Médio integrado ao Curso Técnico de Agronegócio. Os alunos passam uma semana estudando em período integral na escola e duas semanas em casa, aplicando em campo o Projeto Educativo Produtivo (PEP) que idealizaram. Voltada exclusivamente a filhos (as) de produtores rurais, a Casa Familiar abre os horizontes de centenas de jovens, com ensino teórico e prático. O resultado é a formação de profissionais qualificados; inclusive, 40% dos técnicos do Programa Cacau+ atualmente são oriundos da Casa Familiar Rural.
No penúltimo dia da Press Trip, o grupo visitou Rodrigo Costa, produtor em Uruçuca (BA), cuja fazenda é palco de experimentos e eventos de diversas empresas do agro. Com 35 hectares de cacau em sistema cabruca (sombreado por árvores da Mata Atlântica), ele tem uma produtividade média de 1.050 quilos/hectare nos últimos 5 anos, quase seis vezes a média do Litoral Sul da Bahia). Mas isso graças à renovação da lavoura – que tinha apenas 220 plantas de cacau/hectare, quando a fazenda foi comprada em 2015 – com variedades de cacau adequadas, e o aumento da densidade de plantio para 1.100 pés/hectare. Outros fatores determinantes foram a contratação de assistência técnica, investimentos em adubação, em manejo de sombra e mecanização da lavoura, que contribui para minimizar a contratação de mão de obra (grande gargalo no cacau, nos dias de hoje).
As últimas visitas foram voltadas à ciência e inovação. Os jornalistas conheceram a CEPLAC, instituição com 67 anos de trajetória, voltada à pesquisa, inovação e transferência de tecnologia. Lá, conheceram o campo experimental de plantas genotipadas de Uilson Lopes, cientista da área de genética da CEPLAC. Desde 2009, ele vem trabalhando o Melhoramento Genético Preventivo, que visa identificar cultivares com resistência à monilíase, doença detectada no Brasil em 2021, com potencial de causar perdas de até 80% da produção. Por fim, o grupo conheceu o Centro de Inovação do Cacau, que há sete anos vem ajudando o produtor a avaliar a qualidade do cacau, através de análises físico-químicas e sensoriais, e cujo trabalho contribuiu para colocar Brasil de volta na lista de países produtores de cacau fino no mundo.
“A Press Trip foi uma experiência fantástica! Não só profissionalmente, mas também pessoalmente. Cada visita, cada produtor, técnicos e pessoas engajadas no setor me inspiraram”, diz Rafael Bruno, jornalista do site Agro, do Jornal Estadão. “Eu chamo este tipo de Press Trip mais longa de viagem conceito, você vai e volta com material e ideias para escrever umas 15 matérias sobre o cacau”, diz Vera Ondei, editora de Agro na Forbes. “Eu fiquei impressionada com o poder da assistência técnica em alavancar a produtividade de pequenos produtores, promovendo uma verdadeira transformação na qualidade de vida das famílias”, finaliza Lívia Andrade, jornalista do CocoaAction Brasil.
FOTOLEGENDAS
Jornalistas conheceram o programa Cacau+, do Ciapra, consórcio de 14 municípios do território Baixo Sul da Bahia (crédito: Ciapra)
Assistência Técnica: 40 técnicos agrícolas acompanham 2.400 famílias beneficiadas pelo programa Cacau+; na foto acima, o produtor Adailton recebe a visita do técnico Ronaldo, o Rony (Divulgação Ciapra)
Plantando o amanhã: Com o aumento de produtividade no cacaual, Josenildo está realizando o sonho de cursar a faculdade de agronomia (Divulgação Ciapra)
Talhões monoclonais: na hora de fazer a renovação da lavoura, os técnicos do Cacau+ recomendam talhões monoclonais para facilitar o manejo (Foto: Ana Lee – Banco de imagens AIPC e CocoaAction Brasil)
Casa Familiar Rural: escola em que os filhos(as) de produtores rurais recebem dupla formação: ensino médio integrado e Curso Técnico em Agronegócio (Divulgação Ciapra)
A família Costa: com orientação técnica, manejo adequado da cabruca e boas práticas agrícolas, Rodrigo alcançou produtividade de 1.050 quilos por hectare, e aumentou a renda familiar (Foto: Ana Lee – Banco de imagens AIPC e CocoaAction Brasil)
Novas Cultivares: Desde 2009, Uilson Lopes, pesquisador da Ceplac, faz o melhoramento preventivo para encontrar cultivares de cacau resistentes à monilíase (Foto: Ana Lee – Banco de imagens AIPC e CocoaAction Brasil)
Fonte: CocoaAction/WCF