Por: Claudemir Zafalon
O mercado do cacau sofreu uma retração nos preços após a corretora JSG estimar um superávit de 99 mil toneladas para a safra de 2024/25. Apesar disso, os estoques certificados continuam em queda, atingindo 2.324.246 sacas, o que sinaliza incertezas no mercado. Além das dinâmicas de oferta e demanda, o setor enfrenta um desafio iminente: a nova regulamentação europeia de desmatamento, conhecida como EUDR (Regulamento da União Europeia para Desmatamento).
A EUDR entrará em vigor no final do ano e exigirá que os importadores da União Europeia provem que produtos como cacau, café, soja, carne bovina, óleo de palma, borracha e madeira não são produzidos em áreas desmatadas. A falta de clareza na implementação das novas regras tem gerado preocupação entre produtores, governos e indústrias, com receios de que muitas empresas fiquem despreparadas, o que pode resultar em desabastecimento e aumento de custos.
Pressão para Adiamento da Lei
O chanceler alemão, Olaf Scholz, é o mais recente líder a criticar a legislação, pedindo à presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, que suspenda a EUDR. A Alemanha se junta a outros países, como Brasil, EUA, Austrália e Indonésia, que também expressaram preocupação com os impactos econômicos e logísticos da lei. A resistência à regulamentação reflete temores de que o comércio global de produtos agrícolas seja severamente afetado, especialmente para países em desenvolvimento.
A indústria do óleo de palma, por exemplo, já começou a desviar fornecimentos não rastreáveis para fora da Europa, enquanto comerciantes de café estão estocando grãos antes que as novas regras entrem em vigor. A indústria pecuária europeia, que depende das importações de soja para alimentação de aves e suínos, também está preocupada com os custos crescentes. Segundo o grupo de lobby Fefac, o aumento nos custos da soja e de alimentos alternativos pode chegar a 2,25 bilhões de euros (2,5 bilhões de dólares) no próximo ano, impactando os preços finais ao consumidor.
Impacto nos Países Tropicais
As economias menores, muitas delas nos trópicos, são as mais expostas às novas exigências. Países como Costa do Marfim, Honduras, Libéria e Uruguai têm uma dependência significativa do comércio com a UE. A Costa do Marfim, por exemplo, que é o maior produtor mundial de cacau, vê 5,7% de seu PIB atrelado a exportações que poderão ser afetadas pelas novas exigências de rastreabilidade.
O Brasil, um dos maiores exportadores de soja, carne bovina e café, é outro país que pode sofrer impactos significativos. Nesta semana, o governo brasileiro formalizou um pedido para que a UE adie e revise a lei de desmatamento, argumentando que as novas regras poderão prejudicar até 1/3 das exportações brasileiras para o bloco.
Desafios e Ajustes Necessários
Embora a EUDR seja uma medida importante para conter o desmatamento global e proteger florestas tropicais, os custos econômicos e as complexidades de implementação estão sendo amplamente debatidos. O CEO da JBS, uma das maiores empresas de carne do mundo, observou que os consumidores, embora exijam padrões ambientais mais altos, não estão dispostos a pagar mais por alimentos sustentáveis, o que torna o aumento da produtividade uma prioridade para manter os preços acessíveis.
O futuro da legislação depende da capacidade da União Europeia de encontrar um equilíbrio entre as metas ambientais e as realidades econômicas dos países produtores e do mercado global. Caso contrário, o impacto da EUDR pode ser sentido não apenas pelos produtores de commodities, mas também pelos consumidores europeus, que enfrentarão preços mais altos em produtos essenciais.
Fonte: mercadodocacau