A pouco mais de um ano do início da COP 30, em Belém, no Pará, uma preocupação começou a tirar o sono dos produtores de cacau do Estado: eles temem que o grande afluxo de pessoas para a conferência do clima possa levar à região a monilíase, uma doença devastadora para a cultura, e que já afetou lavouras em países que enviarão representantes ao encontro.
A enfermidade já destruiu plantações de cacau em países latino-americanos, como Equador e Peru. E acendeu o alerta entre autoridades sanitárias e produtores no Brasil após a confirmação de dois focos no país, o primeiro em Cruzeiro do Sul, no Acre, em julho de 2021, e o segundo no Amazonas, na região da Tríplice Fronteira entre Brasil, Colômbia e Peru, em outubro de 2022. Acre e Amazonas, porém, não cultivam a amêndoa.
A monilíase pode ser introduzida por transporte e plantio de material vegetal infestado e até por sacarias, equipamentos e roupas utilizados em plantações onde a enfermidade existe. Por isso, o deslocamento de pessoas oriundas de áreas com ocorrência da monilíase para aquelas sem a presença da doença pode disseminar a praga, com o transporte involuntário dos esporos do fungo.
Recursos para contenção
Para impedir a chegada da monilíase em seu território, o Pará gastou cerca de R$ 2 milhões em medidas de contenção em 2023. Parte do recurso foi destinada também a ações no Amazonas e no Acre, segundo Ivaldo Santana, coordenador do Programa de Desenvolvimento da Cadeia Produtiva da Cacauicultura no Pará (Procacau), vinculado à Secretaria de Estado de Desenvolvimento Agropecuária e da Pesca do Pará (SEDAP).
Há dois meses, o secretário estadual de Desenvolvimento Agropecuário e da Pesca do Pará, Giovanni Queiroz, solicitou, junto ao Ministério da Agricultura, R$ 6 milhões para o combate à doença. Mas o dinheiro ainda não foi repassado. “O ministério tem a obrigação por lei, mas nós tomamos a frente das ações porque a praga não espera”, disse Santana. Neste momento, a doença é considerada controlada no Acre e Amazonas.
Segundo ele, os custos de fiscalização são elevados em função da vigilância ativa na divisa do Pará com o Amazonas com balsas, escritórios flutuantes no rio, técnicos e policiais. “Fazemos apreensão de amêndoas vindas do Amazonas, temos postos fixos nas divisas, mas isso requer muito recurso. O combustível dos barcos custa muito, por exemplo”, afirmou.
No início de 2022, o governo federal enviou R$ 1,7 milhão para o Acre combater a monilíase, com um contrato vigente até fevereiro de 2025. Em agosto deste ano, o Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal do Estado do Acre (Idaf) solicitou a prorrogação do contrato e mais R$ 3,4 milhões. Mas ainda não obteve resposta de Brasília.
Segundo o coordenador estadual de combate e erradicação da monilíase no Acre, Altemar Lima, o Estado não consegue bancar as ações de contenção, já que o custo de deslocamento e hospedagem dos profissionais é alto. Cruzeiro do Sul fica a 640 km da capital Rio Branco. “Precisamos do aporte. Se não tivéssemos esse investimento até aqui, não teríamos os resultados de contenção”. Fora do convênio, o Estado gasta entre R$ 500 mil e R$ 700 mil por ano com as medidas, disse Lima.
Efeito para a cadeia
O Pará e a Bahia são responsáveis por quase 94% da produção de cacau do Brasil, empatados cada um com uma produção de cerca de 140 mil toneladas em 2023, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Mas 80% de toda a produção nacional é processada na Bahia. Um foco no Pará poderia levar ao impedimento do transporte do cacau entre os Estados, e as amêndoas não chegariam às indústrias processadoras concentradas no sul da Bahia.
“As autoridades baianas automaticamente vão fechar as barreiras e não vão receber mais nossas amêndoas. A preocupação é o que fazer com nossa amêndoa, já que não temos indústrias para absorver nossa produção”, vislumbrou Orleans Mesquita, produtor de cacau e coordenador do conselho fiscal da Cooperativa Agrícola Mista De Tomé-Açu (CAMTA).
A cerca de 190 km de Belém, a preocupação na sua cooperativa é sobre qual barreira será imposta para visitantes durante a conferência. “Se não tomarem nenhuma medida, a chance de essa doença chegar ao Estado é grande. Eu diria que é quase certo, não passa da COP30. Isso nos preocupa muito”, afirmou.
Segundo Santana, do Procacau, o Pará tem fiscalização nos aeroportos de voos oriundos de áreas que têm foco da doença, sobretudo do Amazonas e Acre. “[Durante a COP30] vai haver uma intensificação dessa vigilância”, disse. Procurado para comentar o tema, o Ministério da Agricultura não retornou aos pedidos.
Governo federal
Mas o assunto preocupa o governo. Segundo uma fonte do setor, o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, deve participar de uma reunião com secretários de Agricultura dos Estados da Amazônia para tratar da questão.
Em condição de anonimato, uma fonte do governo disse que a Pasta está centralizando esforços e recursos para o combate à monilíase em quase toda região Norte. Segundo essa fonte, são ações de monitoramento de ocorrência da praga. Quando há identificação, é feita poda e manejo com ureia. A mesma fonte afirmou que o governo já gastou mais do que os R$ 6 milhões para controlar o foco do Acre, e que a COP30 é um ponto de atenção, “mas nada fora do normal”.
Também fez uma previsão preocupante. Como a monilíase já ocorre em todos os países da América do Sul “é inevitável a ocorrência no Brasil, só não é possível estimar quando”, afirmou.
Fonte: Globo Rural
2 Comments
O REMÉDIO MELHOR , QUAL É. ?
SEM DUVIDA É O ” ISOLAMENTO ” , DIGA QUAL DESSAS REUNIOES ALTEROU OU MELHOROU AS QUESTÕES CLIMÁTICAS ?
ENTAO É PASSSAR A TRANCA NA PORTA E ACABAR COM OS OBA OBA NÉ….
Barreiras Sanitárias urgentes, antes da COP30 p impedir chegada da moniliase ao Brasil/Pará, em especial e Bahia e outros estados.