O Conselho de Café e Cacau (CCC) da Costa do Marfim intensificou suas ações contra a armazenagem de grãos de cacau em setembro, levando a uma redução significativa nas reservas, conforme relatado por fontes do próprio CCC, exportadores e compradores. A medida visa combater a prática de estocagem por parte de cooperativas e compradores, que aguardavam um possível aumento no preço garantido ao produtor para a nova temporada.
Produção e Armazenagem Recorde em Setembro
Nos portos de Abidjan e San Pedro, as chegadas de grãos de cacau ultrapassaram 50.000 toneladas nas primeiras três semanas de setembro, um aumento expressivo em comparação com as 19.000 toneladas registradas durante todo o mês de setembro de 2023. De acordo com o CCC, a expectativa é encerrar o mês com mais de 65.000 toneladas de cacau entregues.
Setembro, normalmente caracterizado pela armazenagem de grãos, foi este ano marcado por ações rígidas do regulador, visando conter as práticas de estocagem adotadas por alguns compradores e cooperativas, que esperavam um aumento no preço ao produtor. Com o início da temporada de 2024-25 em 1º de outubro, há uma expectativa de que o novo preço ao produtor seja anunciado, potencialmente alinhado ou até ligeiramente superior ao do vizinho Gana, que recentemente aumentou o preço em quase 45%.
Repressão do CCC e Impacto nas Cooperativas
O declínio do armazenamento de grãos nesta fase da temporada se deve, em grande parte, a uma repressão liderada pelo CCC. Desde maio, o regulador suspendeu cooperativas e alertou sobre a possibilidade de retirar licenças de compradores independentes e cooperativas que estivessem armazenando grãos, o que motivou muitos a entregarem seus estoques. Para reforçar o controle, o CCC lançou uma operação de verificação de estoque nas regiões produtoras e mobilizou centenas de agentes, acompanhados por policiais, para fiscalizar as lojas de armazenamento.
“É difícil manter o cacau armazenado este ano, embora saibamos que o preço vai aumentar”, afirmou um comprador de cacau de Soubre, na principal região produtora do país, que já entregou as 400 toneladas que tinha em estoque. A presença ostensiva do CCC na região impediu os movimentos de armazenagem que geralmente ocorrem no período pré-temporada.
Produção em Queda e Preocupações para Outubro
A queda de 25% na produção deste ano, atribuída às más condições climáticas e doenças, somada aos esforços do regulador para reduzir a armazenagem de cacau, pode impactar negativamente as chegadas de grãos no início da nova temporada em outubro, alertam exportadores. Um diretor de uma empresa de exportação em Abidjan declarou nunca ter visto tanto cacau entregue em setembro ao longo de seus 30 anos de carreira, o que sugere um esvaziamento das reservas para o próximo mês.
“Isso significa que outubro será pobre em cacau porque os produtores colheram tudo e tudo foi entregue. Não teremos estoque para começar a temporada”, afirmou o exportador.
Desafios e Futuro do Mercado de Cacau
O cenário sugere desafios para a Costa do Marfim, maior produtor de cacau do mundo, que precisa equilibrar o controle sobre as práticas de armazenagem com a garantia de que haja grãos suficientes para atender à demanda no início da nova temporada. As ações do CCC visam combater o “dinheiro fácil” por meio da manipulação de preços, mas podem resultar em um mercado desabastecido a curto prazo, caso não sejam adotadas medidas de suporte aos produtores.
Com a previsão de aumento do preço ao produtor, a expectativa é que o setor agrícola seja beneficiado, mas a repressão à armazenagem levanta questões sobre como o mercado irá se comportar no próximo mês, especialmente considerando a redução significativa na produção devido a fatores climáticos adversos. O equilíbrio entre regulação e incentivo à produção será crucial para garantir a sustentabilidade do setor nos próximos meses.
Fonte: mercadodocacau com informações reuters