Trento: o chocolate que fez uma empresa do RS triplicar de tamanho e chegar a R$ 670 milhões

Às vezes, um único produto pode transformar completamente uma empresa. E foi exatamente isso que aconteceu com a Peccin, uma fabricante de balas e doces de Erechim, cidade no norte do Rio Grande do Sul, a 370 quilômetros de Porto Alegre.

Durante décadas, a Peccin manteve uma operação estável, mas discreta, produzindo balas e outras guloseimas para um público fiel. Tudo começou a mudar em 2010, quando a empresa decidiu apostar em um segmento até então novo para ela: o chocolate.

Naquele ano, 30% do que a Peccin produzia ia para fora do Brasil, e os efeitos da crise econômica global de 2008 começaram a bater na porta. “Participamos há mais de 30 anos de feiras internacionais, onde há exposição de novos produtos”, diz Dirceu Pezzin, CEO da Peccin. “Lá, via uma mobilização por um chocolate com qualidade superior aos encontrados em supermercados brasileiros.”

Foi daí que nasceu o Trento, um tubo de wafer recheado e coberto com chocolate que, aos poucos, conquistou o coração (e o paladar) dos consumidores.

O que começou com uma ideia em 2010 logo virou um fenômeno nacional, ajudado por trends nas redes sociais e pelo bom e velho boca a boca. Hoje, 14 anos depois, o Trento já representa 70% do faturamento da Peccin, prestes a bater 700 milhões de reais em receita anual. E a empresa já tem planos para investir 250 milhões de reais nos próximos anos para continuar crescendo com o Trento.

Mesmo com os desafios do setor em 2024, principalmente como a disparada do preço do cacau, a Peccin mantém o crescimento acelerado.

A história da Peccin e a criação do Trento

Peccin começou como uma típica empresa familiar, com foco regional. “Iniciamos com três irmãos, há muitos anos. Ela sempre foi uma empresa regional, atuando no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina”, afirma Pezzin.

Na época, a Peccin tinha apenas 40 funcionários e produzia balas e doces voltados para o mercado do sul gaúcho e para o exterior. Fora dali, a marca era pouco conhecida. Foi com a entrada da segunda geração, liderada por Dirceu, que a empresa passou por uma transformação.

“A empresa começou a crescer muito, combinando a esperança do jovem com a experiência do velho”, afirma Pezzin. Em 2010, depois de uma fase complicada com exportações, a Peccin decidiu diversificar e investir em chocolate, nascendo assim o Trento.

“Sempre fui grande apreciador de chocolate, principalmente o europeu, que tem mais sólidos de cacau”, diz. “A ideia era criar um chocolate de qualidade superior, e o Trento foi se tornando um case de sucesso.”

A jornada para criar o Trento foi intensa. Segundo Pezzin, foram mais de 200 testes antes de chegar ao produto final. “Enquanto a gente não comer e não dizer ‘uau’, esse produto não poderia sair para venda.” Além disso, a equipe enfrentou resistência interna. “Tive muita dificuldade em convencer a equipe de vendas de que esse produto seria um sucesso”, diz. “O consumidor brasileiro tinha preconceito com chocolates que não eram marcas famosas.”

O que a Peccin faz hoje

Hoje, a Peccin é uma das maiores fabricantes de doces e chocolates do Brasil, e o Trento é o carro-chefe, com várias linhas de produtos. A empresa triplicou de tamanho nos últimos anos, e sua capacidade de produção é de mais de 2.000 toneladas de chocolate por mês, com 50 produtos diferentes. Entre os principais sucessos estão o Trento Allegra, com creme de amendoim, e o Trento Especiale, com avelã, além das inovações mais recentes, como o Trento Banoffee.

“A nossa estratégia foi trabalhar o Trento de forma contida no início, não queríamos ser notados pelos grandes players. Fomos crescendo aos poucos, primeiro no atacado e, só depois, fomos para as redes de supermercados”, conta Pezzin. Não à toa, o Trento foi considerado um porduto de entrada.

Hoje, o Trento é o segundo chocolate mais vendido do Brasil, ficando atrás apenas do KitKat.

A empresa mantém seu foco na qualidade do produto, com um diferencial importante: “Mesmo com a crise do cacau, estamos mantendo os 38% de sólidos de cacau, não vamos baixar a qualidade. Isso faz parte do DNA do Trento.”

Os desafios: preço do cacau e competitividade

Como todo gigante da indústria, a Peccin também enfrenta desafios. E, atualmente, o maior deles é o preço do cacau, que disparou em 2024, pressionando os custos de produção.

“Esse ano é de estabilidade, devido às grandes altas de cacau. Os preços subiram demais, mas acreditamos que haverá uma retomada de crescimento no ano que vem”, afirma Pezzin.

Outro desafio é manter a competitividade em um mercado com players globais de peso. “Quando fomos notados, já esávamos grandes o suficiente para competir com as multinacionais. Hoje, somos a segunda marca em chocolates no Brasil”, diz o CEO.

Os planos para o futuro: expansão e investimento

Apesar dos desafios, o futuro da Peccin é promissor.

Nos últimos três anos, a empresa investiu mais de 200 milhões de reais em novas linhas de produção do Trento. A fábrica de Erechim ocupa uma área de 41.000 metros quadrados e tem potencial para crescer ainda mais, já que o terreno onde está instalada tem 100.000 metros quadrados.

exportação também está no radar da Peccin. Embora a empresa já exporte seus produtos para 50 países, o foco ainda é mais forte no setor de balas. “Até agora, não tínhamos capacidade para exportar chocolate, mas isso vai mudar. No ano que vem, começamos a exportar o Trento”, diz Pezzin.

Além disso, a empresa pretende expandir a linha Trento para novos segmentos, como bombons de chocolate com qualidade superior. “Essas caixas de bombom que estão no mercado hoje nem são mais chocolate, usam gordura vegetal. Queremos surpreender o consumidor com novidades, mantendo o que o Trento oferece: qualidade.”

Para isso, a Peccin vai continuar investindo pesado. A empresa já está planejando mais 250 milhões de reais em investimentos nos próximos anos, buscando consolidar sua posição de destaque no mercado e expandir ainda mais a marca Trento. “Queremos trazer novos produtos com a marca Trento. O consumidor está esperando e nos provocando para entrar em novos segmentos”, afirma o CEO.
Fonte: exame

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