A recente divulgação dos preços do cacau na Costa do Marfim reacendeu as preocupações entre produtores e observadores do mercado. Segundo o governo marfinense, as cooperativas agrícolas passarão a receber US$ 3,2 por quilo, enquanto o preço mínimo por fazenda será de US$ 3,03 por quilo. Embora esses números representem um aumento, eles ainda estão bem abaixo dos valores praticados nos mercados internacionais, onde o cacau chegou a ser negociado por até US$ 12.000 por tonelada em abril deste ano. Essa discrepância tem gerado um mal-estar crescente entre os agricultores.
Para muitos observadores e sindicatos agrícolas da África Ocidental, a diferença entre os preços pagos aos produtores e os valores alcançados nos mercados globais expõe um desequilíbrio econômico significativo. Com base no modelo de vendas antecipadas predominante na região, o cacau é frequentemente comercializado um ano antes da produção. Nesse contexto, comerciantes de commodities se beneficiam do aumento dos preços, enquanto os agricultores ficam com uma parcela muito menor, estimada em cerca de um quinto do valor internacional. Esse cenário alimenta o descontentamento e reforça um problema estrutural, especialmente em países como a Costa do Marfim e Gana.
Desafios persistentes para os agricultores
Ange-Laurent Gnagne, da Cooperativa de Cacau da Costa do Marfim (Scoopega-Scoops), destacou a preocupação dos produtores locais com a disparidade de preços. “A diferença entre os preços na Costa do Marfim e os valores globais é um problema. Não entendemos por que não conseguimos aumentar significativamente os preços enquanto o mercado internacional está em alta”, afirmou.
Esse cenário se agrava pela baixa remuneração dos agricultores, muitos dos quais ganham menos de US$ 2 por dia – um valor abaixo da linha da pobreza global. Além disso, as condições climáticas adversas e a proliferação de doenças como o vírus do broto inchado do cacau têm comprometido as colheitas nos últimos anos, afetando a produtividade e a capacidade de reinvestimento em insumos agrícolas essenciais, como fertilizantes.
Contrabando e questões de sustentabilidade
A baixa remuneração dos agricultores na Costa do Marfim tem incentivado o contrabando de cacau para países vizinhos, onde os preços são mais elevados. Esse fluxo ilegal representa uma ameaça à sustentabilidade da indústria, privando os agricultores de retornos justos e enfraquecendo a economia agrícola local.
No entanto, essa não é a única preocupação. A iminente implementação da legislação EUDR, que exige que as empresas provem que suas cadeias de suprimentos estão livres de desmatamento, criou incertezas entre os produtores. O esquema, que agora foi adiado por 12 meses, levanta questões sobre quem arcará com os custos do monitoramento das novas diretrizes no nível das fazendas.
Situação em Gana e o apelo à sustentabilidade
Gana, embora tenha um preço ligeiramente superior ao da Costa do Marfim, enfrenta problemas semelhantes. Durante a celebração do Dia Internacional do Cacau, o Cocobod – órgão regulador do setor no país – reafirmou seu compromisso com métodos de produção sustentáveis e melhoria dos meios de subsistência dos agricultores. Sob o lema “Sustentando o Cacau para as Gerações Futuras”, a instituição apelou à ação coletiva de todas as partes envolvidas no setor para combater ameaças como a mineração ilegal e o contrabando de cacau, que comprometem a sustentabilidade do setor e afetam diretamente os agricultores.
A mineração ilegal, em particular, tem sido um problema crescente, degradando terras agrícolas e colocando em risco o futuro da indústria do cacau no país. Além disso, o contrabando continua a prejudicar os retornos financeiros e a viabilidade de longo prazo da produção de cacau, exacerbando os desafios enfrentados pelos agricultores locais.
Fonte: mercadodocacau com informações Confectionery Production