Por: Claudemir Zafalon
O mercado global de cacau enfrenta desafios técnicos e regulatórios significativos. Com uma queda constante nos preços, o nível de suporte de US$ 6.800 por tonelada está prestes a ser rompido, deixando o mercado vulnerável a novos patamares de US$ 6.500 ou até US$ 6.400. Enquanto isso, o setor agrícola, incluindo o cacau, está sob crescente pressão legislativa para adotar práticas mais sustentáveis.
A sustentabilidade das empresas de alimentos e bebidas, especialmente no setor agrícola, tornou-se uma questão central. A destruição florestal é responsável por aproximadamente 15% das emissões globais de gases de efeito estufa, com a agricultura contribuindo para 70-80% do desmatamento global. Nesse contexto, a responsabilidade de agir recai diretamente sobre as indústrias envolvidas, especialmente com a iminente entrada em vigor do Regulamento de Desflorestação da União Europeia (EUDR).
A partir de 30 de dezembro de 2024, o EUDR exigirá que todos os produtos exportados para a Europa comprovem que não causaram desmatamento desde 2020. Empresas que não cumprirem as exigências poderão ser bloqueadas do mercado europeu e sujeitas a multas de até 4% do volume de negócios anual. Segundo o banco ING, cerca de 60% das importações agrícolas da UE – incluindo cacau, café, carne bovina, óleo de palma e soja – serão afetadas por esse regulamento.
Novas Ferramentas e Tecnologias de Conformidade
Para ajudar as empresas a se adaptarem às novas regulamentações, estão sendo desenvolvidas diversas ferramentas tecnológicas. Essas plataformas auxiliam na coleta de dados de geolocalização das fazendas, avaliação dos riscos de desmatamento nas cadeias de abastecimento e implementação de medidas corretivas.
Uma dessas soluções é a plataforma TRACT, lançada em fevereiro, voltada para medir a sustentabilidade das cadeias de suprimento de commodities agrícolas como palma, soja, café e cacau. A TRACT valida dados de geolocalização, analisa fazendas para identificar desmatamento e fornece métricas sobre as ações tomadas para mitigar os riscos. A plataforma também disponibiliza informações sobre leis específicas de cada país produtor, facilitando a detecção de não conformidades.
Além disso, a TRACT colabora com a Global Forest Watch, que oferece dados e alertas em tempo real sobre desmatamento e degradação florestal, e com a Wageningen University & Research, que fornece pontuações de risco relacionadas ao trabalho infantil e forçado. Empresas globais de peso, como Archer Daniels Midland Company (ADM), Cargill, Louis Dreyfus e Olam, estão entre os investidores da plataforma, reforçando seu compromisso com cadeias de suprimento mais responsáveis.
O Futuro da Sustentabilidade no Setor de Cacau
Com o avanço da inteligência artificial e dos dados de satélite, a rastreabilidade nas cadeias de abastecimento de cacau tende a se tornar ainda mais eficiente. As empresas que liderarem esse processo estarão mais preparadas para atender às demandas de sustentabilidade e evitar sanções regulatórias. No entanto, o caminho à frente é desafiador, especialmente com a queda nos preços do cacau e a pressão por práticas agrícolas sustentáveis. As próximas semanas serão decisivas tanto para os mercados quanto para as indústrias de alimentos que dependem dessas commodities.
Fonte: mercadodocacau com informações reuters