Por: Claudemir Zafalon

O preço do cacau segue em uma trajetória de alta consistente, pressionado por uma oferta limitada e pela tentativa de racionar a demanda no mercado global. A possibilidade de o mercado alcançar os picos registrados em abril deste ano, quando o contrato de dezembro atingiu US$ 12.261 por tonelada, começa a se tornar uma realidade preocupante para diversos atores da cadeia produtiva.

Um dos maiores desafios está no coração da produção africana. Em Gana, o segundo maior produtor mundial de cacau, o Cocobod – entidade responsável pela regulação do setor – enfrenta crescentes dificuldades para acessar os financiamentos anuais que, historicamente, dependiam de empréstimos de bancos internacionais. Esses recursos eram fundamentais para sustentar a compra de grãos e oferecer insumos como mudas, produtos químicos e fertilizantes aos agricultores.

Dependência de traders internacionais

Com a falta de crédito tradicional no último ano, o Cocobod recorreu aos grandes traders internacionais, como Cargill, Olam Group e Barry Callebaut, para financiar suas operações. Esses gigantes do setor forneceram empréstimos a empresas locais licenciadas para realizar as compras. Contudo, essa dependência crescente tem enfraquecido as empresas locais independentes, que agora enfrentam maior concorrência de subsidiárias dos próprios traders, marginalizando pequenos negócios no país.

A situação é particularmente delicada nesta temporada, com Gana projetando uma colheita de 650 mil toneladas – uma queda de 20% em relação às previsões iniciais. Para complicar ainda mais, cerca de 250 mil toneladas dessa produção serão destinadas ao cumprimento de contratos atrasados da temporada anterior, limitando ainda mais a oferta disponível para novos compradores.

Impacto no mercado global

A escassez de cacau de Gana, combinada com o aumento da posição líquida comprada por fundos no mercado internacional – que subiu para 39.315 contratos entre 3 e 10 de dezembro, de acordo com o relatório mais recente do CFTC – tem exacerbado a volatilidade dos preços. Essa movimentação dos fundos reflete um otimismo sobre a continuidade da alta nos preços, o que pode agravar ainda mais os desafios para indústrias e consumidores finais.

Um futuro incerto

A crise de financiamento do Cocobod expõe fragilidades estruturais de um modelo que há décadas depende de crédito externo para sustentar a produção. Agora, com o mercado cada vez mais nas mãos de grandes empresas internacionais, o futuro da produção em Gana e a estabilidade do mercado global de cacau estão sob risco.

Enquanto isso, consumidores ao redor do mundo podem esperar um impacto direto nos preços de produtos à base de cacau, como chocolates e outros derivados, à medida que a dinâmica de oferta e demanda continua a favorecer uma escalada de preços no curto e médio prazo.

Fonte: mercadodocacau