A recente visita do Presidente John Dramani Mahama à Costa do Marfim impulsionou os esforços para revitalizar a indústria do cacau de Gana, um setor essencial para a economia do país. O encontro destacou a necessidade urgente de reformas estruturais, principalmente diante das desigualdades de renda entre os produtores de cacau da região.
Desafios e necessidade de mudanças
Atualmente, Gana e Costa do Marfim, responsáveis por 65% da produção mundial de cacau, enfrentam desafios distintos no modelo de precificação. Enquanto o sistema marfinense é semiliberalizado, permitindo que os produtores se beneficiem diretamente das altas nos preços globais, Gana mantém um modelo rígido com taxas fixas estabelecidas pelo Conselho de Cacau de Gana (COCOBOD). Essa política tem gerado perdas de até 30% para os agricultores ganenses, incentivando o contrabando de grãos para mercados vizinhos, onde os preços são mais atrativos.
Em 2019, ambos os países firmaram a Iniciativa do Cacau, um pacto para estabilizar os preços e garantir a subsistência dos produtores. No entanto, Gana enfrenta dificuldades adicionais, como o aumento da dívida do COCOBOD e atrasos na obtenção de empréstimos essenciais para a produção. Diante desse cenário, a flexibilização do sistema de preços se torna uma demanda urgente dos agricultores.
Brasil como parceiro estratégico
Buscando soluções inovadoras, Gana tem fortalecido alianças internacionais. Durante a recente visita de uma delegação presidencial brasileira a Acra, foi assinado um acordo entre COCOBOD, ApexBrasil e o Ministério da Agricultura do Brasil. A parceria prevê a transferência de tecnologia agrícola e o compartilhamento de conhecimentos sobre o manejo sustentável do cacau, além de abrir novas oportunidades para a exportação de grãos premium ganenses.
As autoridades brasileiras também demonstraram interesse no Diferencial de Renda Digna (LID), um adicional de US$ 400 por tonelada de cacau pago aos agricultores de Gana e Costa do Marfim. A iniciativa, porém, enfrenta desafios, pois críticos apontam que seus benefícios são frequentemente diluídos por intermediários e pela volatilidade da demanda global.
O futuro da indústria ganense de cacau
A aposta na cooperação internacional pode ser um divisor de águas para Gana, que precisa equilibrar suas políticas para melhorar a renda dos produtores e, ao mesmo tempo, garantir um setor sustentável. O sucesso dessas reformas dependerá da implementação de estratégias orientadas pelo mercado e da adoção de novas tecnologias agrícolas para combater desafios como a doença do vírus do broto inchado do cacau (CSSVD).
Entretanto, os obstáculos persistem. A instabilidade financeira do COCOBOD e a continuidade do contrabando são sintomas das disparidades do setor. Medidas regionais, como a criação de um corredor de transporte entre Abidjan e Lagos e a proposta de uma moeda única da CEDEAO (ECO), poderiam aliviar as pressões comerciais, mas seu avanço ainda é lento.
Diante das incertezas, uma coisa é clara: o futuro da indústria do cacau ganense depende da capacidade do país de liderar uma reforma sustentável e eficiente. Como alertou um economista de Acra: “O mundo quer cacau produzido de forma sustentável. Gana deve decidir se quer liderar esse movimento ou se deixará outros estabelecerem os termos.”
Os próximos meses serão cruciais para determinar se essas parcerias renderão benefícios concretos ou se os desafios estruturais continuarão a dificultar as tão necessárias reformas.
Fonte: mercadodocacau com informações newsghana