A próxima safra intermediária de cacau na Costa do Marfim, maior produtor mundial da commodity, deve ser menor neste ano, agravando um quadro de oferta já tenso no mercado global. O impacto do clima adverso comprometeu a produção e pode retardar a recuperação de um déficit que elevou os preços do cacau a níveis recordes.
De acordo com estimativas de seis traders e analistas consultados pela Bloomberg, a safra intermediária deve atingir cerca de 400.000 toneladas, abaixo das 440.000 toneladas registradas no ano passado, segundo fontes ligadas ao governo marfinense.
A preocupação com a oferta ocorre em um momento de estoques reduzidos e cotações ainda elevadas, mesmo após uma leve correção desde o pico registrado em dezembro. O regulador do cacau no país, Le Conseil du Cafe-Cacao, afirmou que é cedo para prever o volume da safra e se recusou a comentar sobre os dados do ano anterior.
Impacto Climático e Atraso na Colheita
O calor intenso e a seca prolongada desde novembro, somados ao forte Harmattan – ventos sazonais secos vindos do Saara – comprometeram a safra intermediária. Essa situação destaca a vulnerabilidade da produção de cacau às mudanças climáticas e a desafios estruturais, como doenças nas plantações e baixos salários dos agricultores, que desestimulam investimentos na renovação das lavouras.
Além disso, a colheita deve sofrer um atraso de cerca de um mês, para permitir que as vagens amadureçam completamente. Apesar desse cenário, a previsão de chuvas a partir do próximo mês pode ajudar na recuperação da safra, e algumas regiões ocidentais do país já começam a registrar precipitação.
Efeitos no Mercado e Moagem Local
A safra intermediária costuma ser direcionada principalmente para os moedores locais, que processam os grãos para a produção de derivados do cacau usados pela indústria de confeitaria global. Com uma colheita menor, algumas fábricas podem enfrentar dificuldades para operar em plena capacidade.
Outra preocupação do setor é a qualidade do cacau. O clima adverso afetou o desenvolvimento das vagens, e em algumas áreas entre Abidjan, no sul do país, e Danane, no oeste, as árvores apresentam um volume muito baixo de frutos, pois a seca fez com que as flores caíssem.
Perspectivas para a Safra Principal
O mercado agora volta sua atenção para a safra principal, que começa em outubro. As chuvas dos próximos meses serão cruciais para definir a capacidade produtiva do país e a direção do mercado global de cacau. A Organização Internacional do Cacau (ICCO) projeta um superávit global de 142.000 toneladas nesta temporada, impulsionado pelos altos preços, que incentivaram a produção e reduziram a demanda. No entanto, alguns analistas ainda preveem um pequeno déficit, o que manteria os preços elevados no curto prazo.
Fonte: mercadodocacau com informações bloomberg