Desde a disparada dos preços do cacau, há mais de um ano, os produtores africanos – responsáveis por mais de 70% da oferta global da commodity – não têm colhido os benefícios dessa alta. Problemas estruturais nas pequenas propriedades africanas e questões fundiárias são os principais empecilhos, afirmou Chris Vincent, presidente da World Cocoa Foundation (WCF), durante o Partnership Meeting, evento mundial realizado em São Paulo nesta quarta-feira (19/3).
“Precisamos aumentar a produtividade e a rentabilidade para aqueles produtores de baixa renda, porque o declínio na produção não foi compensado pelos preços altos“, disse Vincent. Enquanto no Brasil, o momento é encarado como de “bonança” pelos valores pagos aos produtores, na África é notada o abandono da atividade. Entre as razões, estão “a falta de incentivo, o envelhecimento dos cacaueiros e os impactos das mudanças climáticas”, complementou o diretor da WCF.
O secretário- executivo da Iniciativa Cacau Costa do Marfim-Gana (ICCIG na sigla em inglês), Alex Assanvo, reforçou que os altos preços não refletem o que chega aos produtores. Os dois países são responsáveis por 60% da produção global de cacau. Além disso, o secretário destacou que a África, mesmo com toda força produtiva, tem pouco acesso ao chocolate.
“Apesar de todos os esforços, nós não consumimos chocolate. Não estamos no nível da Alemanha, Holanda e até mesmo do Brasil. Produzimos algo que é exportado. Se quisermos estimular a produção, precisamos ser recompensados, os produtores precisam ganhar mais”, destacou Assanvo.
Neste cenário, Marcello Britto, secretário executivo do Consórcio Amazônia Legal, defende que a abordagem mais regenerativa da agricultura seja a saída para o setor do cacau. “Essa pode ser a chave da longevidade da produção e da rentabilidade dos produtores. É em momentos de crise como o atual, em que não conseguimos prever nem como serão as próximas semanas, que as grandes transformações nascem”.
Em meio às quebras de produção na África, o Brasil está inserido em um cenário de responsabilidade cada vez maior, acredita Pedro Neto, secretário de Inovação, Desenvolvimento Sustentável, Irrigação e Cooperativismo do Ministério da Agricultura. “O Brasil teve grande relevância na produção de cacau e agora estamos retomando o protagonismo. É uma cadeia de elevado valor florestal, inserida em biomas especiais, especialmente na Mata Atlântica e Amazônia, e agora também no Cerrado”.
Para o líder global, Chris Vincent, o encontro no Brasil é estratégico. “Há muito o que aprender com o Brasil enquanto líder da agenda climática, país-sede da COP 30 e uma potência agrícola mundial”.
Fonte: Globo Rural