Por: Claudemir Zafalon
O mercado do cacau segue aquecido e com sinais de consolidação em torno do suporte técnico de US$ 7.750 por tonelada. O contrato de maio apresentou oscilações entre US$ 7.884 e US$ 8.249 na última sessão, fechando em US$ 8.121/ton, uma alta de US$ 100. O volume negociado atingiu 5.812 contratos apenas para maio, enquanto o total somou 15.167 contratos. O interesse em aberto segue estável em 104.480 contratos, refletindo um mercado ainda atento às dinâmicas globais de oferta e demanda.
Os estoques certificados nos portos dos Estados Unidos monitorados pela ICE continuam em crescimento, atingindo 1.769.953 sacas. Esse aumento reforça a liquidez do mercado norte-americano, embora os desafios globais ainda pressionem a oferta do cacau.
Movimentações Cambiais e Impactos no Setor
A recente desvalorização do real frente ao dólar ocorre em meio às expectativas sobre a ação dos bancos centrais. Na manhã desta quinta-feira, o contrato futuro com vencimento em 31 de março de 2025 está cotado a R$ 5,68, após fechar o último pregão em R$ 5,645. Essa variação impacta diretamente os produtores e exportadores de cacau, influenciando custos e margens de lucro.
Fundo Kawa: Apoio aos Pequenos Produtores Brasileiros
Em meio a um período desafiador para o setor, quatro organizações brasileiras lançaram o Fundo Kawa, uma iniciativa para levantar R$ 1 bilhão (US$ 176 milhões) até 2030, visando o financiamento de pequenos produtores de cacau no país. O fundo é resultado de uma parceria entre o Instituto Arapyau, a plataforma de investimentos Violet, o grupo de advocacia Toboa e a MOV Investments.
Inicialmente, o Kawa disponibilizará cerca de R$ 30 milhões para beneficiar 1.200 produtores nos estados da Bahia e do Pará. Pequenos agricultores frequentemente enfrentam dificuldades para acessar crédito e capacitação técnica, comprometendo sua produtividade. Segundo Vinicius Ahmar, gerente de bioeconomia do Instituto Arapyau, “a maior parte da produção está nas mãos de pequenos produtores, que, por falta de investimento e assistência técnica, encontram dificuldades para expandir seus negócios”.
Cenário Global e Perspectivas para o Brasil
O lançamento do fundo acontece em um momento crucial para a produção global de cacau. Costa do Marfim e Gana, dois dos principais exportadores, enfrentam desafios devido a condições climáticas adversas, doenças nas lavouras e desvio de terras para mineração ilegal de ouro. Esses fatores impulsionaram os preços globais do cacau.
No Brasil, a produção de cacau registrou uma queda de quase 20% no ano passado, e 2025 promete ser um ano desafiador. Anna Paula Losi, presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Processamento de Cacau, alerta para a necessidade de investimentos para fortalecer a cadeia produtiva.
O Fundo Kawa oferecerá condições acessíveis de crédito, com três anos para pagamento e um período de carência de seis meses. Os empréstimos terão juros de 12% ao ano e serão utilizados para aquisição de insumos, irrigação e equipamentos. Atualmente, 85% dos produtores de cacau no Brasil estão fora do sistema financeiro, dificultando o acesso a linhas de crédito. Como 80% da produção nacional provém de pequenos agricultores, a falta de investimentos impacta diretamente a produtividade e a renda dessas famílias.
Com essa nova iniciativa, espera-se que o setor de cacau brasileiro tenha melhores condições para enfrentar os desafios do mercado e aumentar sua competitividade global.
Fonte: mercadodocacau