Uma análise sobre as importações de cacau da União Europeia

Por Carolina França, Analista de inteligência de Mercado da Hedgepoint Global Markets

As importações de cacau da União Europeia reduziram nos primeiros meses de 2025. No mês de abriu, o total importado ficou abaixo da média de dez anos e foi inferior ao mesmo período dos dois últimos ciclos. 

No acumulado desde o início da safra corrente (out/24 a abr/25), o volume de importações totais de cacau (amêndoas, pasta, manteiga e pó) foi 12,33% inferior do que o período correspondente para o ciclo 23/24.



Entre as possibilidades que podem ter contribuído para a redução das importações europeias, estão a oferta restrita de cacau nos últimos anos, os baixos estoques e o consequente encarecimento das amêndoas e de seus subprodutos.

Apesar dos reajustes sofridos desde janeiro, os preços do cacau continuam acima da média de 10 anos, o que pode ter impactado nas negociações. Consequentemente, no médio-longo prazo esse desempenho reforça as preocupações a respeito da tendência baixista quanto a demanda de cacau. 

Esse fato já foi corroborado pelos resultados das moagens de cacau do primeiro trimestre desse ano e pelos recentes resultados financeiros de algumas das grandes processadoras do setor, ambos apresentando reduções quando comparados ao mesmo período do ano anterior.

Avaliando as importações de cacau da União Europeia por origem, Costa do Marfim e Gana representam mais de 50% do volume total importado nos últimos períodos. Os dois maiores produtores mundiais de cacau ainda enfrentam os desafios, principalmente em relação ao clima, que provocaram a queda na oferta de cacau na safra 23/24 e, até o momento, ameaçam a recuperação parcial da produção no ciclo corrente 24/25.


Nesse sentido, outro importante ponto a ser avaliado a respeito dessas origens de cacau é o Regulamento Antidesmatamento da União Europeia. O EUDR, previsto para entrar em vigor no final de 2025, tem como objetivo reduzir o desmatamento global e exige comprovação através de mapeamento de que produtos como cacau, café e soja, entre outros, vieram de áreas nãos desmatadas após 2020.

Recentemente um estudo realizado por algumas organizações, dentre elas a Fundação Mundial do Cacau, foi desenvolvido com objetivo de avaliar a qualidade e o desempenho de mapas com dados locais e globais para regiões de Costa do Marfim e Gana. Os resultados divulgados em abril de 2025 mostram que o mapeamento com dados globais via satélite apresenta dificuldade em diferenciar paisagens mais complexas, como plantações de cacau de florestas naturais. Desse modo, o estudo sinaliza que uma abordagem híbrida seria o ideal para evitar a penalização principalmente de pequenos produtores, já que grande parte do cacau produzido nessas regiões vem de pequenas propriedades, o que poderia dificultar a entrada de cacau dessas origens no bloco europeu.

Por fim, vale observar o aumento da participação de outras origens como Equador e Nigéria nas importações de cacau da União Europeia. Isso pode indicar um possível movimento de diversificação do bloco, visto o melhor desempenho das lavouras de cacau nessas origens para o ciclo atual.

 

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