Entidades dos EUA articulam lista de exceções para proteger importações como café, manga e cacau das altas tarifas anunciadas por Trump
Entidades e empresas dos Estados Unidos articulam nos bastidores uma ofensiva para tentar barrar os impactos das tarifas de 50% que o presidente Donald Trump ameaça impor a produtos importados do Brasil. De acordo com a CNN Brasil, uma das principais estratégias em avaliação é propor ao governo estadunidense uma lista de exceções, com foco em bens naturais que não têm produção significativa dentro do próprio país.
A proposta parte de setores que seriam diretamente atingidos pelas novas taxas. A National Coffee Association (NCA), maior entidade do setor cafeeiro dos EUA, é uma das protagonistas dessa mobilização. A informação foi confirmada por Eduardo Heron, diretor técnico do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), que tem mantido interlocução direta com empresas americanas em meio à crise tarifária.
O café aparece no centro das preocupações, já que praticamente toda a demanda interna dos Estados Unidos depende de importações. O Brasil é o maior fornecedor do produto aos americanos, sendo responsável por cerca de 35% do total de grãos comprados pelo país. “As incertezas são muitas, inclusive sobre cargas já embarcadas”, afirmou Heron, destacando que ainda não está claro se os produtos em trânsito ao território americano estarão isentos da nova tarifa, caso cheguem após 1º de agosto.
Entre as empresas que podem ser mais impactadas está a rede Starbucks, símbolo global do café norte-americano, que compra do Brasil cerca de 22% dos grãos que utiliza. Um eventual aumento nos custos pode levar ao repasse nos preços ao consumidor final, num mercado em que 76% da população consome café regularmente.
Ainda de acordo com a reportagem, além do café, outros produtos brasileiros também podem ser incluídos na lista de exceções. É o caso das frutas tropicais, especialmente a manga — item cuja produção doméstica nos EUA é mínima. O Brasil ocupa a terceira posição entre os exportadores do fruto para o mercado americano, com cerca de 8% das vendas. O cacau é outro exemplo relevante. Embora pouco lembrado nesse debate, o produto é um dos dez principais itens da pauta de exportações do agro brasileiro para os EUA, que entre 2020 e 2024 responderam por, em média, 18% das compras internacionais do cacau nacional.
A logística é um fator central nessa disputa comercial. Segundo o Cecafé, mais de 70% do café exportado do Brasil para os Estados Unidos sai pelo Porto de Santos (SP), e chega por Nova Orleans (30%) e Nova York (15%). Como o trajeto marítimo pode durar até 30 dias, cargas já enviadas correm risco de desembarcar após a entrada em vigor das tarifas, o que acentua a insegurança jurídica para os exportadores.
Diante desse cenário, uma das principais reivindicações do Cecafé ao governo brasileiro é a negociação com os EUA para adiar a implementação das medidas por ao menos 90 dias. O pedido é compartilhado por diversos setores da economia nacional, da agroindústria ao setor fabril, que temem os efeitos colaterais da política tarifária anunciada por Trump.
Fonte: brasil247