A chamada doença conhecida como podridão parda está devastando frutos de cacau na região sudoeste de Camarões, um dos principais cinturões produtores do país. Autoridades e dados da indústria alertam que semanas de chuvas intensas e o aumento no uso de agroquímicos falsificados estão impulsionando o surto.
Jackson Ntapi Nkwentang, delegado de agricultura da região, afirmou que as precipitações têm sido extremamente fortes desde julho, criando o ambiente perfeito para infecções fúngicas. Os principais centros afetados incluem Muyuka, Mbonge e Kumba. “É um problema sério. Estamos aconselhando os produtores a intensificar a pulverização”, disse Nkwentang.
Muitos pequenos agricultores recorrem a fungicidas baratos e não verificados, contrabandeados da Nigéria e de Gana. Segundo Epie Promise Ngolepie, consultora de cacau da empresa de agrotecnologia Help Farmers Cameroon, a resistência dos produtores em seguir orientações técnicas agrava a situação. “A maioria dos revendedores de produtos químicos não são agrônomos; eles só querem vender”, relatou, citando inclusive a experiência negativa de seu próprio meeiro ao usar produtos inadequados.
Autoridades locais também apontam más práticas agrícolas, como poda tardia, limpeza deficiente do campo e pulverização irregular com fungicidas aprovados, como fatores que ampliaram a propagação do fungo.
Uma operação planejada para combater o comércio de insumos falsificados foi adiada devido a um bloqueio de um mês imposto por combatentes separatistas nas regiões de língua inglesa. Enquanto isso, agricultores enfrentam queda nos rendimentos e dificuldade para honrar empréstimos, sustentar suas famílias e arcar com as despesas do novo ano letivo.
“Nós nem sabemos como sobreviver nesta temporada”, lamentou Divine Ntam, produtor próximo de Kumba. “Os produtos químicos que compramos não são eficazes e as chuvas realmente bagunçaram as coisas.”
Camarões é o quinto maior produtor mundial de cacau. O avanço da doença nos frutos representa risco não apenas para a renda de milhares de famílias locais, mas também para a oferta global de grãos de cacau, em um momento de preços internacionais já pressionados por escassez em outras regiões produtoras.
Fonte: mercadodocacau com informações reuters