Ainda que os ventos carregados de areia do deserto do Saara, chamados de Harmattan, possam ter afetado o desenvolvimento da safra de cacau que será colhida a partir de abril no oeste da África, maior região produtora de amêndoa no mundo, a oferta deverá continuar folgada diante do comportamento que se espera para a demanda, o que tende a manter os preços internacionais mais pressionados.

Um panorama do mercado de cacau traçado pelo Ecobank, que atua em diversos países africanos, indica que a safra do maior produtor do mundo, a Costa do Marfim, deverá seguir praticamente estável na safra 2014/15, em cerca de 1,6 milhão de toneladas. No ciclo passado, a colheita foi de 1,7 milhão de toneladas.

Chuvas prolongadas em 2014 colaboraram para o desenvolvimento das amêndoas da safra principal, e os ventos secos do deserto perderam intensidade nos últimos dias. O ritmo das entregas nos portos marfinenses se recuperou recentemente e chegou a 1,2 milhão de toneladas desde o início da safra até 22 de fevereiro, superando em 4% o volume do mesmo período da última temporada.

Já em Gana, a oferta tem dado indicações de arrefecimento, com menos lotes chegando aos portos. O Ecobank estima que a produção cairá para 800 mil toneladas, 50 mil a menos que na safra de 2013/14. "A produção robusta na última temporada, rivalizando com a safra recorde de 1,024 milhão de toneladas em 2010/11, levou à exaustão das árvores", avalia o Ecobank. Para agravar o quadro, avança no país um vírus que reduz a produtividade e pode levar as árvores à morte prematura.

No último mês, as plantações de Gana, mais próximas do Saara que as da Costa do Marfim, foram golpeadas pelos ventos Harmattan. O banco africano calcula que a safra intermediária do país, deverá chegar a, no máximo, 50 mil toneladas.

No entanto, ainda que a produção de cacau do oeste africano recue nesta temporada, a região deverá continuar liderando as exportações globais, com embarques projetados pelo Ecobank em quase 2 milhões de toneladas neste ciclo.

Os embarques robustos deverão ocorrer em meio a uma indefinição quanto ao avanço do processamento interno da matéria-prima. Estimava-se que a Costa do Marfim poderia desbancar a Holanda e passar a liderar o processamento mundial de cacau depois da aquisição do negócio de moagem da ADM no país pela Olam, mas o Ecobank indicou que "ainda não está claro se a Olam vai continuar a operar a planta de Abidjan, o que poderia eliminar 86 mil toneladas da moagem da Costa do Marfim".

A demanda externa, por sua vez, não tem dado sinais positivos. Para o Ecobank, a demanda pela matéria-prima deve perder impulso tanto em mercados consolidados, como América do Norte e Europa, como em emergentes, como China e Índia.

"O enfraquecimento dos preços deverá continuar ao longo de 2015, agravado pelo fortalecimento do dólar", assinalou o banco, que projeta uma cotação média neste ano de US$ 2.913 a tonelada, queda de 5% ante o preço médio do ano passado. Fonte: Valor