Por Caio Santos – Operador de commodities agricolas da Stone X
Mesmo em meio à forte valorização do petróleo na semana, o movimento de alta dos futuros de cacau desacelerou na primeira semana de março, com a tela Mai’21 oscilando entre 2667 e 2541 entre 1-6/mar (126 pontos) e encerrando a semana em queda de -2,23% (52 pontos). Acompanhado do recuo desde às máximas da semana anterior, observamos também aumento de 15% no volume total de negócios nessa semana.
Analisando a atividade do mercado, o último relatório de posição dos agentes divulgado pelo COT (Commitments of Traders), na sexta-feira, nos traz informações interessantes. A categoria dos Specs trabalhou ativamente na ponta compradora durante o período de 23/fev e 02/mar, período em que os futuros de cacau em NY subiram 5,84%. A maior parte do volume de compras (73%) foi de fato posicionamento comprado no mercado (abertura de posições), enquanto uma minoria de 26% esteve relacionada com o fechamento de posições vendidas, resultando em um incremento de 11.310 contratos no saldo líquido da categoria, hoje comprada em 24.174 contratos. Dando liquidez para esse movimento, do outro lado vimos os agentes comerciais na ponta vendedora, mas com fluxo de venda mais equilibrado – 45% do volume vendido veio associado à abertura de novas posições, e 55% do volume associado ao fechamento de compras no setor.
Vindo desse retrospecto, o movimento de queda observado ao longo da semana passada parece ser motivado pela realização de lucro por parte de alguns desses especuladores, que compraram entre 23/fev e 02/mar, e liquidaram parte dessa posição a partir daí até a última sexta-feira – o que faz sentido considerando a alta de 5,84% no período (ou 7,44% considerando a mínima e a máxima) e a alta de 1,06% no dólar index na semana passada, que tende a pressionar commodities dolarizadas.
O que essa movimentação nos diz, em face dos fundamentos atuais? Primeiramente, chama a atenção a assimetria entre a abertura/fechamento de posições entre especuladores e agentes comerciais. Como apresentado, o fluxo comprador dos especuladores no período analisado do último relatório do COT foi majoritariamente derivado da abertura de novas posições, enquanto no caso do segundo grupo, foi bem mais equilibrado. A resultante disso é que hoje os especuladores se encontram há cerca de 25 mil contratos da maior posição liquida comprada dos últimos 3 anos, enquanto os comerciais estão há cerca de 32 mil contrato da maior posição vendida, o que sugere que os comerciais teriam mais munição, ou maior potencial, para movimentar os preços caso desejem acelerar seu posicionamento.
Essa hipótese faz sentido observando a situação do mercado físico atualmente, de amplos estoques de amêndoa em posse dos produtores no Oeste da África, e fraco volume de compra por parte das esmagadoras (sem compras no mercado físico, as esmagadoras não precisam proteger seus estoques e, portanto, não precisam vender bolsa – o que explica o baixo volume vendido da categoria atualmente). Os comerciais poderiam seguir posicionando suas vendas em patamares mais altos, buscando melhorar a média de venda, mas se o fôlego comprador dos especuladores perder sopro e o mercado físico voltar a se reaquecer (motivando cobertura dos estoques), seria iminente um maior volume de vendas à mercado por parte dos comerciais. Estaremos atentos à essa movimentação nas sessões que estão por vir.
Por fim, importante notar que o mercado segue em tendencia de alta no curto prazo, e que os preços estão seguindo sua tendencia sazonal de valorização por conta do encerramento da safra principal no oeste africano. Esse movimento historicamente tem seu pico ao redor de meados de maio, o que não nos deixa descartar a hipótese de preços ainda mais altos nas próximas semanas. O pico de preços do “meio de safra” vai chegar, e a manutenção do viés altista dependera do resultado da safra intermediária e do avanço da demanda. Com clima e umidade do solo favoráveis, mais as projeções apontando superávit para o ciclo 20-21, o momento é muito interessante para os produtores estruturarem suas estratégias de comercialização.