Com produtores campeões, Rondônia entra no mapa de cacau de qualidade do Brasil

O cacau brasileiro vai além do Pará e da Bahia. Entre os 4,5 mil agricultores familiares de Rondônia que plantam cacau, dois deles foram premiados como o melhor cacau do Brasil.

O “Concurso Nacional de Cacau Especial do Brasil – Sustentabilidade e Qualidade” coloca Rondônia no mapa da qualidade do Brasil, destaca Adriana Reis, gerente do Centro de Inovação do Cacau (CIC), organizador do evento. “Isso demonstra que os produtores de Rondônia estão trilhando um caminho positivo em apostar em qualidade, porque isso atrai mercados especiais que pagam prêmios e agregam valor à produção do cacau de seu estado”.

O estado recebeu também no último dia 14 de novembro o registro de Indicação Geográfica para o cacau e passou a integrar a lista de produtos reconhecidos pelas qualidades específicas de produção originária no local, divulgou a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado (Emater-RO). Essa limitação atinge 52 municípios e faz o estado ser considerado referência na cultura do cacau em amêndoas.

A produção total de cacau no Brasil foi de pouco mais de 270 mil toneladas em 2022, com valor aproximado de R$ 3,5 milhões. Do total, Rondônia foi responsável por 5 mil toneladas, sendo o quarto maior estado produtor, atrás do Pará com 145.994 toneladas, da Bahia com 109.748 toneladas e do Espírito Santo com 11.703 toneladas, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Para Adriana, o concurso cumpre seu papel quanto aos estados que não são reconhecidos pela qualidade começam a ser premiados. “Nós buscamos encontrar joias perdidas no Brasil e quem as produz”.

O prêmio foi dividido em duas categorias: Varietal (uma única variedade genética de cacau) e Mistura (blend de variedades), com uma premiação de R$ 60 mil que foi dividida entre os seis primeiros colocados.

Deoclides Pires da Silva, de Jaru (RO)

A variedade de cacau CCN51 foi a responsável por dar o bicampeonato ao produtor de Jaru, em Rondônia. Seu Deoclides conta com orgulho como fez essa variedade, que segundo ele é julgada ácida pelos chocolateiros da Bahia, se transformar no melhor cacau do Brasil.

“Na Bahia essa variedade é plantada na cabruca, no meio das árvores, e aqui em Rondônia no pleno sol. Isso diminui a acidez, e o resto tiramos na fermentação”, explica. “Nosso maior orgulho é pegar o patinho feio e colocar no topo”.

De acordo com o produtor, o CCN51 tem fácil manejo, alta produtividade, casca fina, logo é fácil de quebrar e possui entre 48 e 54 amêndoas dentro.

A terra de Deoclides possui 15 hectares, sendo 2,6 de cacau, alguns pés de café e o restante de mata nativa. “Nós colhemos 7,5 toneladas em 2022, com expectativa para 10 toneladas em 2024”, projetando sempre um ano melhor que o outro.

Para o produtor, esse título prova que Rondônia desponta cada vez mais como destaque na produção de cacau e tem condições de produzir com qualidade e quantidade. “Depois de 40 anos de vassoura de bruxa, o cacau estava adormecido, mas de 2016 para cá, os produtores começaram com uma febre do cacau clonal e estamos colhendo os resultados”.

Campeão em 2022 e 2023, seu Deoclides conta que não esperava o bicampeonato. “Até hoje não caiu a ficha que ganhamos ano passado. E neste ano, eu esperava ficar no pódio, mas não em primeiro porque minhas amêndoas não ficaram como no ano anterior”.

Para Adriana, o prêmio coloca o estado no cenário de chocolates artesanais e até abrem mercados internacionais para o produto. “Como foi um bicampeonato nós vemos a consolidação do cacau do seu Deoclides como um cacau nobre, uma verdadeira joia nacional”.
 

Robson Tomaz de Castro Calandrelli, de Nova União (RO)
 
O cacau premiado na categoria “Mistura” de Robson saiu de uma lavoura de 36 hectares no município de Nova União, região central do estado. A propriedade familiar, dos pais do produtor, tem cacau e uma pastagem com cerca de 30 cabeças de gado. “O cacau faz parte da minha infância, meu pai tem uma lavoura de mais de 30 anos que eu trabalhei desde a adolescência”, conta.

Hoje, Robson também é servidor público e trabalha na cidade, mas não larga a atividade rural. “Também comecei uma nova lavoura de cacau do zero em 2020, que ainda não está em produção”.

O produtor enxerga Rondônia despontando como uma grande região produtora de cacau. “O cacau é daqui da Amazônia, há muitos anos todos os que chegaram aqui tinham uma lavoura de cacau, mas com o tempo abandonaram. Mas de um tempo para cá o interesse pela cacauicultura retornou na região, e agora vemos várias pessoas voltando a formar lavouras de cacau com mais tecnologia”.

Em 2022, Robson inscreveu sua amostra em um concurso estadual e levou o prêmio. Agora, em 2023 resolveu se arriscar no concurso nacional e o resultado foi o mesmo: campeão. “Foi tudo muito rápido, e devo muito à assistência de qualidade do Senar e aos incentivos do meu técnico. Vencer foi uma surpresa para mim, estamos falando de 98 amostras, e na final eu estava disputando com outros 10 produtores experientes”.
 

Recorde de inscrições
 
Na sua quinta edição, o Concurso Nacional de Cacau Especial registrou número recorde de inscrições. 98 amostras de seis estados entraram na disputa pelo título de melhor amêndoa de cacau do país. “Quanto mais estados aderirem ao projeto do Concurso Nacional, mais a gente consegue contribuir com a pauta de colocar o Brasil como referência internacional de cacau de qualidade”, destacou Cristiano Villela, diretor científico do Centro de Inovação do Cacau (CIC).

Fonte:Globo Rural

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