Chocolate vira salvação da lavoura no sul da Bahia

Duas décadas depois de a vassoura-de-bruxa e a competição com países africanos derrubarem o império baiano do cacau, a seca tirou do estado o título de maior produtor do país. Pela primeira vez, em 2016, o Pará vai produzir mais o fruto do que a Bahia.

Nesse recente desafio do cacau baiano, no entanto, a nova geração de produtores encontraram uma arma poderosa: o chocolate premium. A venda do produto, mais sofisticado que o de grandes marcas, sofre menos com efeitos da natureza que a do fruto.

“Usamos tiragens pequenas de cacau para produzi-lo. Por isso, se transformarmos mais cacau em amêndoas (base da produção do chocolate), vamos sofrer menos com as intempéries”, diz Marco Lessa, organizador do festival do chocolate e cacau da Bahia.

A oitava edição do evento termina neste domingo, 24, em Ilhéus. A ideia de Lessa ao organizar a primeira edição, em 2009, foi incentivar a fabricação do chocolate. “Queríamos despertar interesse na agregação de valor. O quilo do cacau custa de R$ 8 a R$ 10. O do chocolate pode chegar a R$ 300”.

O objetivo se concretizou e o sul baiano se tornou um polo do chocolate. “Saímos de nenhuma marca de chocolate para 40”, diz Lessa, que é dono da ChOr – Chocolate de Origem. O festival refletiu o crescimento. Saltou de três expositores e seis mil visitantes, em 2009, para 62 estandes e 35 mil visitações.

Os próximos passos de Lessa para alavancar a produção de chocolate são o lançamento de uma plataforma de vendas para marcas baianas e a instalação de uma fábrica que vai atender empresas de chocolate da região. Serão R$ 3 milhões investidos por três sócios. “A indústria será temática e deverá ajudar o turismo local”, afirma Henrique Almeida, sócio do empreendimento e dono da marca de chocolate Fazenda Sagarana.

A fábrica da Mendoá, também no Sul da Bahia, surgiu de forma experimental, para pesquisar a qualidade do cacau da fazenda de da família Almeida. “Um bom chocolate é feito de um bom cacau. Com a fábrica, quebramos o paradigma de que não tinha cacau fino no Brasil”, diz Leandro Almeida, sócio-presidente da Mendoá.

No ano passado, a amêndoa da marca entrou na lista das 50 melhores do mundo no Salão do Chocolate de Paris. Outra marca premiada da Bahia, a Amma Chocolate – que já ganhou o International Chocolate Awards – escolheu instalar a fábrica em Salvador. A empresa foi criada por Diego Badaró, herdeiro de uma fazenda de cacau no sul da Bahia.

Oportunidades no setor
Além de sofrer menos impacto da natureza, a produção de chocolate ainda tem empregado pessoas fora do campo e movimentado outros segmentos. Apenas na Mendoá, são 270 empregados na fazenda e 35 na fábrica. A Amma tem 70 funcionários. A ChOr e a Fazenda Sagarana, 18 e 5 pessoas nos quadros, respectivamente.

As marcas movimentam o segmento de embalagem e o setor do varejo. Neste último, ensaiam os primeiros passos independentes com lojas e quiosques próprios. Para o sócio-presidente da Mendoá, essa estratégia é uma forma de apresentar melhor o valor da marca para o cliente final.

A Mendoá pretende lançar modelo de franquias para pontos exclusivos de venda. O mesmo planeja a ChOr e a Fazenda Sagarana. Já a Amma fortalece a presença em São Paulo, onde inaugurou loja no ano passado e ganhou o prêmio de melhor chocolate da cidade.

Para o dono da marca, o chocolate é a resposta não apenas para salvar a produção de cacau da Bahia, mas também para preservar a Mata Atlântica. Isso porque os cacaueiros são plantados no meio da floresta. “Por meio do chocolate, a gente consegue preservar os recursos naturais. Ele é uma ferramenta do futuro”, diz Badaró. Por: Renato Alban / A Tarde

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