Depois de ter ficado por um tempo em segundo plano nas operações da Olam International – uma das maiores companhias de agronegócio do mundo, com sede em Cingapura -, o Brasil, que lidera a exportação global de diversas commodities agrícolas com as quais a empresa trabalha, voltou ao foco de atuação da empresa.
No último mês, a múlti, que faturou US$ 19 bilhões no ano passado, fortaleceu a equipe de executivos em seu escritório de São Paulo e trouxe Danilo Carapa, que trabalhava em Londres, para liderar a área de originação de açúcar no Brasil, conforme informou a Bloomberg. Carapa é o segundo reforço da empresa no país, que em maio contratou Catia Jorge, que trabalhava como trader sênior de milho e trigo da cargill, para realizar função semelhante na Olam.
Um dos focos de expansão da companhia no Brasil é a Bahia, onde já atua com lavouras de café irrigado na região de Barreiras, no oeste do Estado, e com plantações de cacau em Ilhéus. É nessa cidade que a companhia deve inaugurar, no próximo mês, um centro de pesquisa e inovação em cacau em parceria com a Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacau (Ceplac).
Neste ano, a empresa também adquiriu uma fazenda em Porto Seguro para produzir pimenta-do-reino voltada para abastecer o mercado externo. O investimento foi negociado com o governo da Bahia, que garantiu suporte logístico, como extensão de linhas de energia para assegurar a irrigação da cultura e manutenção de estradas para garantir seu escoamento, disse o secretário de Agricultura do Estado, Vitor Bonfim.
De acordo com o secretário, a companhia está concluindo estudos para fechar um plano de expansão de investimento nas culturas de cacau e café na Bahia para os próximos quatro anos.
Segundo fontes do mercado, a múlti busca formas de retomar o espaço que já teve há alguns anos no Brasil e que foi reduzido depois que a companhia, listada na bolsa de Cingapura, passou por um abalo em suas ações em 2012, quando circularam boatos sobre uma possível insolvência. O rumor foi levantado pelo especulador Carson Block, acusando a Olam de ter adotado uma estratégia “agressiva” de expansão e supervalorizado ativos biológicos. O CEO da companhia, Sunny Verghese, foi a público negar as acusações, mas afirmou na época que poderia “recalibrar” sua política de aquisições para acalmar os acionistas.
Naquela momento, a Olam estava com a caneta na mão para assinar a comprar uma usina sucroalcooleira no município mineiro de Passos para estrear na produção de açúcar no país, mas voltou atrás diante da perda de 10% de seu valor de mercado.
Nos últimos dois anos, a Olam passou por uma recomposição da estrutura acionária – iniciada em 2014, quando o fundo soberano de Cingapura Temasek Holdings assumiu o controle majoritário da companhia, e consolidada no ano passado, com a entrada da Mitsubishi. De acordo com fontes, isso teria dado mais segurança para o reposicionamento da companhia no mundo.
A retomada pelo interesse no Brasil não é meramente conjuntural, mas já estava prevista no plano estratégico que a companhia atualiza a cada três anos. Verghese, que esteve no mês passado em São Paulo, afirmou no início do ano que a América Latina era uma das regiões onde a companhia tinha planos de crescimento.
E o avanço sobre a área de comercialização de açúcar brasileiro ocorre em um momento promissor para as tradings que atuam no segmento. Segundo um trader, apesar das recentes parcerias formadas por grandes companhias para originar açúcar no país, entre Wilmar e Raízen e entre Copersucar e Cargill, a Olam não deve sofrer uma competição acirrada, já que o Brasil tem uma oferta de açúcar elevada para vender ao mundo em um cenário de aperto em relação a uma demanda crescente. A companhia origina no país de 300 mil a 400 mil toneladas de açúcar branco, conforme estimativas. Fonte: Valor