A diferença de preço de uma barrinha de chocolate e o preço da matéria-prima para produzi-la se explica pelo controle de origem. Uma nova tendência de consumo, afirma a consultora Flávia Carro.
“O consumidor hoje, principalmente quando a gente fala dos produtos mais gourmetizados, aqueles que estão na frente da mesa, ele quer saber de onde veio um vinho, um azeite, qual a origem, o país. No caso de um chocolate, qual o tipo de cacau, de onde vem a fazenda, isso agrega status ao produto, essa origem”, explica Flávia.
O controle de origem é um trabalho minucioso de acompanhamento da produção, que demanda tempo e dinheiro. A Luísa Abraham, por exemplo, formada em gastronomia, aprendeu tudo sobre chocolate na prática. Ela vai cinco vezes por ano para o meio da Floresta Amazônica atrás da matéria-prima: o cacau selvagem.
“A gente vai para mata quando tem colheita e aí orienta o ribeirinho no manejo do pé de cacau, cortar os galhos não tão produtivos, fazer limpeza ver onde os frutos caíram”.
Depois de colhido, fermentado e seco, ele é transportado para a fábrica, em São Paulo. De 2014 a 2016, a empresária investiu cerca de R$ 200 mil em equipamentos e estrutura.
A colheita do cacau é feita pela população ribeirinha, que é carente. Ou seja, ela tem que ter capital de giro para pagar meses antes pelo cacau, e esse é um dos desafios do negócio. Ou outro é que, como nem sempre é fácil achar essa matéria-prima, ela compra tudo que pode e deixa estocado.
Garantido o abastecimento, começa o rigoroso processo de produção do chocolate. Quando o chocolate chega na consistência certa, Luísa faz a temperagem da massa.
“A temperagem vai fazer a aparência do seu chocolate ficar bonita. Ela não vai derreter na sua mão, que está a 34 graus, mas vai derreter na sua boca, que estar com a temperatura de 37 graus”, explica a empresária.
Depois do processo é só embalar as barras e distribuir. Todo esse cuidado e trabalho justificam o preço mais caro do chocolate feito com o cacau selvagem – R$ 20 a barra de 80 gramas.
“O controle da origem acontece porque cada região tem um sabor diferente e o cacau vai imprimir esse sabor no chocolate.”, fala Luísa.
Ano passado, a empresária faturou R$ 220 mil, vendeu 1,2 tonelada de chocolate pela internet e em supermercados e empórios do Brasil e do exterior. Lá fora, ela conta ainda com um outro selo que vale ouro: a marca Amazônia. O acordo que a empresária tem com os ribeirinhos da Amazônia, que colhem o cacau, é feito na base da palavra. Não tem papel. É tudo no ‘fio do bigode’, como se falava antigamente.
Fonte: G1