O paulistano Alexandre Costa, fundador da rede de chocolates, atrai uma legião de seguidores que quer saber detalhes da sua trajetória de sucesso
Chocolate tem cafeína. Talvez isso explique um pouco a agitação do empresário Alexandre Costa, fundador e presidente da Cacau Show, a maior rede de chocolates finos do mundo. Depois de transformar o setor no Brasil e construir uma marca que tem 2.250 lojas, ele está à frente de outra tendência: a de empresário conectado.
Com a roupa de chocolatier – o equivalente ao sommelier, mas de chocolates –, Costa aparece em diversas fotos de seu Instagram, com mais de 700 mil seguidores, e no LinkedIn, com outros 466 mil. “O que é bacana deve ser mostrado, não é?”, brinca. Apesar do tom descontraído, o que faz é sério. Além de prestigiar franqueados, clientes, fornecedores, mostra nas redes sociais um pouco dos resultados da Cacau Show ao mesmo tempo em que se aproxima de todos esses parceiros contando sua filosofia, história e lançamentos. Tanto que, ao caminhar por um shopping em Curitiba (PR), enquanto se dirigia à abertura de mais uma megastore da marca, era parado por fãs emocionados, que o reconheciam e pediam fotos.
Para o americano Mark Babbitt, autor do livro A World Gone Social – How companies must adapt to survive (O mundo se tornou social – como as empresas devem se adaptar para sobreviver, em uma tradução livre), existe uma tendência global de aumento da presença em redes sociais por fundadores de empresas. “Várias pesquisas comprovam que as pessoas já não se ligam tanto em propagandas e sim muito mais no que os empresários e executivos das empresas transmitem pessoalmente na internet”, afirma Babbitt.
E Costa é bom em se mostrar na rede. Ele posta fotos com a família, fala de como é grato pela esposa e os três filhos e compartilha o que acredita ser essencial para empresários de sucesso, como dedicação. Seus clientes-seguidores saboreiam mais do que chocolate – descobrem que ele trabalha duro inclusive aos finais de semana e, assim, sentem a paixão com a qual comanda a empresa que criou aos 17 anos. A exposição funciona aqui como estratégia.
Paulistano, nasceu em uma família simples da zona norte. A mãe vendia doces, lingeries e outros itens porta a porta, enquanto o pai atuava como tecelão. Chegou a trabalhar como frentista em um posto de gasolina para atingir o objetivo de comprar uma bicicleta. Acompanhando a mãe, aprendeu a negociar e a identificar a necessidade dos clientes. Em 1988, investiu em uma empreitada solo no mercado de chocolates, motivado pelas lembranças da experiência familiar. Começou vendendo 2 mil unidades de ovos de Páscoa de 50 gramas. Como o fornecedor disse que não conseguiria atender ao pedido, pediu 500 dólares emprestados ao tio. Fabricou o chocolate e sua primeira venda já foi suficiente para pagar o empréstimo e ampliar a operação. Ele nunca mais parou. Agora, está à frente de uma companhia que no ano passado faturou 3,5 bilhões de reais e que prevê crescimento de 20% em 2020. “Gosto, sim, de poder inspirar outras pessoas a trilharem caminhos parecidos, de motivar para que não se apeguem a desculpas ou que fiquem culpando governos”, avisa.
Tanto empenho pode passar a imagem de um empresário sisudo, mas Costa é visto quase sempre com um sorriso no rosto. Como uma celebridade, não poupa esforços para tirar fotos com franqueados, clientes e parceiros, que fazem fila ao seu redor. Nesse embalo, o presidente da companhia também conduz as reuniões às segundas-feiras, em que são apresentados os resultados da semana anterior. Toca violão, bateria, guitarra ou cajón para receber os participantes. “Isso também me ajuda a lembrar das minhas origens, o que é muito importante”, diz. Na adolescência, Costa teve uma banda com os amigos do bairro.
O fundador da Cacau Show conta que se considera um vendedor, mas admite que tem dentro de si muito de um profissional de marketing. Foi ele, por exemplo, quem planejou as primeiras embalagens dos chocolates, porque sabia da importância da apresentação do produto. São tantos exemplos do toque pessoal de Costa em prol da marca que ele é visto como um fenômeno de marketing. “Ele foi brilhante ao identificar um nicho carente e ao aliar o negócio à parte técnica”, afirma o professor e pesquisador de marketing da Universidade Federal de Goiás, Marcos Severo.
É inegável que a combinação de habilidades está dando certo. Nesses mais de 30 anos da empresa, o Brasil atravessou crises econômicas, mas a Cacau Show manteve o ritmo de crescimento de cerca de 20% ao ano (de 2010 até agora). Em tempos em que as pessoas tomam decisão de compra baseadas na presença online dos executivos dessas empresas – 61% dos americanos afirmam ter mais tendência a comprar de empresas lideradas por executivos que comunicam claramente os seus valores, segundo a pesquisa The Global CEO –, Costa mais uma vez mostra pioneirismo. Prestes a fechar uma parceira nas Américas para iniciar a expansão internacional, ele garante que o Brasil está pequeno para tamanha ambição. Aos moldes de Willy Wonka, quer continuar ampliando sua Fantástica Fábrica de Chocolate – e contando tudo isso em tempo real.
Rede business
Assim como Costa, outros empresários assumiram a responsabilidade de controlar seus perfis sociais:
Nome: Alexandre Costa
Cargo e empresa: fundador e presidente da Cacau Show
Seguidores online: 466 mil no LinkedIn e 741 mil no Instagram
Nome: Luiza Helena Trajano
Cargo e empresa: presidente do conselho da Magazine Luiza
Seguidores online: 284 mil no LinkedIn e 201 mil no Instagram
Nome: Guilherme Benchimol
Cargo e empresa: fundador e presidente da XP
Seguidores online: 491 mil no LinkedIn e 336 mil no Instagram
Nome: Luciano Hang
Cargo e empresa: fundador e presidente da Havan
Seguidores online: 59 mil no LinkedIn e 2,6 milhões no Instagram
Nome: Rachel Maia
Cargo e empresa: CEO da Lacoste
Seguidores online: 88 mil no LinkedIn e 52 mil no Instagram