Além de ter o protagonismo na produção destas três culturas no país, o Estado do Pará tem potencial suficiente para expandir o cultivo
O potencial natural está posto: solo, água e incidência solar favoráveis. Fatores que, aliados ao desenvolvimento de pesquisa e tecnologia e à aplicação de políticas públicas, levam o Pará ao protagonismo no cultivo de três importantes culturas, o dendê, o cacau e o nativo açaí. Responsável pelo maior percentual da produção nacional nos três produtos, o Estado não apenas se mantém na liderança, como ainda conta com potencial suficiente para expandi-la.
Diante da necessidade de receber no mínimo 2 mil horas de sol e 2 mil milímetros de chuva por ano, a palma encontrou no Pará as condições ideais para fazer do Estado o responsável por cerca 95% da produção nacional de óleo de dendê. Para que isso fosse possível, a combinação de diferentes políticas foi necessária. “No caso do dendê foi isso, estamos no clima favorável, na região favorável, o setor público e o privado aderiram, temos pesquisas acerca do dendê há muitos anos. Quando tudo isso se junta, você cria condições ideais para uma cadeia prosperar”, aponta o agrônomo, pesquisador e chefe-geral da Embrapa Amazônia Oriental, Adriano Venturieri.
A história do país com o dendê iniciou há mais 350 anos, quando populações escravizadas vindas da África fizeram os primeiros plantios de palma, principalmente no litoral da Bahia. Apesar deste início e do estado baiano manter um grande consumo do óleo, ao longo dos anos o Pará se tornou o maior produtor nacional da palma, tendo iniciado a sua produção na década de 1970. “O dendê encontra, em algumas regiões aqui da Amazônia, as características ideais para a sua produção e nós temos um conjunto de empresas e políticas que, ao longo do tempo, foram fortalecendo essa expansão”, reforça.
Adriano explica que um zoneamento agroecológico do dendê, realizado pela Embrapa, analisou o clima e o solo das áreas que foram desflorestadas até 2008, ano de lançamento do novo Código Florestal, e hoje existe uma indicação de áreas preferenciais, áreas regulares e áreas inaptas para o dendê. “Ou seja, o Brasil é o único país do mundo em que os produtores seguem essa indicação, então não é permitido que se plante dendê fora dessas áreas que já foram estabelecidas”, aponta o chefe-geral da Embrapa Amazônia Oriental.
“E como está crescendo? Se utiliza pastagens, se utiliza capoeira, outros tipos de uso que já tinham desmatado até 2008, então existe a conversão dessas áreas. Foi esse conjunto de fatores que têm levado e garantido que o Pará seja o maior produtor nacional, com cerca de 95% da produção do país”.
Mesmo com todo esse desempenho, a produção de palma no Estado ainda tem potencial de expansão. Responsável por 35% da produção de óleo de palma do Pará, a Agropalma aponta que o Estado tem, aproximadamente, uma área potencial em torno de 16 milhões de hectares, o que significa dizer que este seria o potencial de expansão disponível pelo Estado para a cultura do dendê.
ÁREAS
“É claro que esses números variam de momento para momento, mas existe uma ideia de se recuperar áreas degradadas usando a cultura da palma”, aponta Homero dos Santos Sousa, diretor industrial da Agropalma. “Os dois óleos mais produzidos no mundo são o de palma e o de soja, mas a palma possui características muito interessantes. Ela produz 10 vezes mais óleo por hectare do que a soja. Significa que, para mesma quantidade de óleo, precisaríamos dez vezes mais terras na cultura da soja do que na cultura da palma”.
No Brasil, o consumo do óleo de palma ou de dendê ainda é majoritariamente alimentício, podendo ser usado na produção de biscoitos, como gordura para fritura, para pães, para bolos e massas, etc. Além deles, há a possibilidade de aplicação em biocombustível e ainda na indústria de cosméticos.
“Quando a gente fala de óleo de palma, que no Pará começou em 1974, a gente não está falando de algo novo. O registro de óleo de palma pelo mundo data de mais de 5 mil anos, então a palma vem sendo usada pela humanidade há muito tempo e tem potencial para continuar crescendo, com certeza”, considera Homero. “A Agropalma produz, em média, 170 mil toneladas de óleo por ano. Para 2020 estamos considerando uma produção de 600 mil toneladas de óleo no Estado do Pará”.
PROTAGONISMO DO PARÁ
– Para explicar como o estado chegou a esse patamar, Fernando volta um pouco no tempo. Nativo da região amazônica, o cacau é cultivado desde entre 1675 e 1677, quando o então rei de Portugal, determinou que o cacau deveria ser cultivado aqui. “Plantar cacau foi uma ordem régia”, explica, ao lembrar que anos mais tarde a cultura foi levada para a Bahia, que dominou a produção nacional durante muito tempo. “Durante muitos anos a Bahia foi o maior estado produtor de cacau, o Pará é o primeiro produtor de cacau somente nos últimos três anos. Antes disso, ele foi o primeiro produtor apenas na época do Império porque, à época, não havia cacau na Bahia. O cacau foi levado daqui para a Bahia em 1746”.
– A maior força produtiva do cacau no Pará só iniciou em meados 1970, quando foi feito o primeiro plano para o desenvolvimento da cacauicultura no Pará. A Ceplac já existia à época e foi convidada pela então Secretaria de Agricultura do Estado para ser um parceiro técnico na transferência de tecnologia para o cacaueiro.
Com o plano apresentando bons resultados e sendo expandido, a partir 1975 o governo transferiu para a Ceplac a responsabilidade do desenvolvimento da cacauicultura no Estado e o Pará entraria como apoio, ou seja, inverteram-se os papéis. “Em 1976 o Brasil fez um Plano Nacional para o Desenvolvimento da Cacauicultura, que dentre as metas era que o Pará em 10 anos deveria plantar 50 mil hectares de cacau. Quando o plano chegou ao fim, dos 50 mil hectares o Pará só havia plantado 32 mil”, contextualiza.
“Outros programas foram aparecendo e em 2012, de novo, o Governo Federal estabelece o que chamou o Planejamento Estratégico para a Cacauicultura e dentro dele o Pará está incluído. A ideia era que o Pará pudesse plantar 10 mil hectaresa cada ano”.
– Em meio aos programas nacionais, um imprevisto acabou por levar o Pará a atingir o protagonismo da produção, na medida em que a da Bahia foi afetada. O problema da vassoura-de-bruxa – praga que atinge o cacaueiro – na Bahia fez com que a produção do Brasil diminuísse de 460 mil toneladas, para menos de 100 mil toneladas . “O problema da vassoura-de-bruxa é muito grave na Bahia, mas para o Pará nem tanto porque estamos acostumados aqui com essa doença”, considera. “O Pará nunca comemorou o que aconteceu com a Bahia, mas com esse acontecimento, o Pará começou a plantar aproximadamente de 8 mil a 9 mil hectares de cacau por ano e veio crescendo”.
– É por esse cenário que Fernando aponta uma diferença experimentada, hoje, na forma de plantar cacau na Bahia e no Pará. Na Bahia eles utilizam clones de plantas, já no Pará continuam sendo usadas as sementes híbridas. “Está nas sementes híbridas a conservação da diversidade que a natureza imprimiu para o cacau. Então, as nossas plantações têm uma preferência internacional porque ela conserva a diversidade da sua origem. A capacidade genética dessas plantas em termos de produzir chocolate diferente é maior do que qualquer clone”, aponta. “Então, hoje, como o consumo de chocolate está cada vez mais especificado e diferenciado, quando se tem produtos que têm esse tipo de origem, eles são preferíveis no mercado internacional”.
– Emprego
Palma – gera 1 emprego a cada 10 hectares
Soja mecanizada – gera 1 emprego a cada 80 a 100 hectares.
– Produção
Palma – produz até 5 toneladas de óleo por hectare
Soja – produz 500 kg de óleo por hectare
– Uso mundial
Uso de óleo de palma no mundo:
66% – alimentos
21% – incremento em energia e biodiesel
8,5% – indústria química
3,5% – outros (alimentação animal, cosméticos, etc)
Fonte: Agropalma.
CACAU
– Emprego
Com 200 mil hectares de cacau plantado – sendo 150 mil já produzindo e 50 mil na fase de desenvolvimento – o Pará consegue gerar, hoje, apenas na lavoura de cacau, 320 mil empregos, sendo 68 mil diretos e os demais indiretos.
– Renda
Para cada hectare de cacau, um agricultor tem uma receita líquida anual de R$9 mil. A média, no Estado, é de 7 hectares de cacau por produtor. Com essa média, um produtor consegue gerar R$5.250 líquidos por mês apenas com o cacau.
– Demanda
99% da demanda de cacau é para a produção de chocolate
– Regiões
Medicilândia é o maior município produtor de cacau do Brasil. Das 140 mil toneladas de cacau previstas para o Estado, Medicilândia deve ser responsável, sozinho, por cerca de 45 mil toneladas. A Transamazônica – considerada de Novo Repartimento até Rurópolis – é responsável por 80% da produção de cacau do Pará.
– Consumo
A Europa é responsável por 52% do consumo de chocolate no mundo
O brasileiro consome, em média, 2,5 kg de chocolate por ano.
– Ambiental
Por conta da sua fisiologia, a lavoura cacaueira precisa ser cultivada sub-bosque, promovendo a recuperação da área. Desde 1996, a Ceplac tem como diretriz só distribuir sementes para plantio de cacau, se o plantio for feito em área já degradada anteriormente e nunca em mata virgem. Com isso, o Pará já recuperou 150 mil hectares de passivo ambiental apenas com o cultivo do cacau.
– Produção
O Pará hoje detém 49% da produção nacional de cacau, seguido pela Bahia com 45% e o restante está dividido entre Rondônia, Amazonas, Mato Grosso e Espírito Santo.
Fonte: Ceplac.
60% da produção de açaí no Pará é consumida no Estado
No caso do açaí, todo o potencial alimentício e nutricional do fruto ainda não foi abraçado completamente pelo mercado internacional. De toda a produção de açaí do Pará, apenas 10% é exportada para os Estados Unidos, o Japão e outros 28 países. Cerca de 30% é destinada para outros estados, como São Paulo, Rio de Janeiro, Distrito Federal e Minas Gerais e a maioria, 60% do total da produção do Pará, é consumida no próprio Estado.
“Quando se vê esses números temos uma perspectiva de ampliação de mercado internacional muito grande”, destaca o agrônomo e pesquisador da Embrapa Amazônia Oriental, João Tomé de Farias Neto. “Segundo estimativas, o Pará produz atualmente 1,4 milhão toneladas de fruto por ano. Sendo que 95% da produção vem do extrativismo, do manejo”.
A dependência quase integral do extrativismo de açaizeiros nativos acaba por gerar um grande desafio para a produção do açaí no Estado, a alternância entre o período da safra e da entressafra. “Temos dois períodos bem distintos sobre a produção do açaí no Estado. De agosto até dezembro/janeiro é onde se concentra a produção do Estado do Pará. Estima-se que 70% a 80% da produção do fruto total anual ocorra nesse período, o período da safra”, explica João Tomé, que pesquisa o açaí há 20 anos. “Apenas 20% a 30% ocorre entre janeiro a junho/julho, ou seja, a entressafra. Portanto, essa sazonalidade na produção do açaí ainda continua sendo o maior desafio da pesquisa”.
RENDA
Tal ocorrência gera problemas como a diminuição da renda, a perda de empregos e problemas de segurança alimentar, quando se considera que o açaí faz parte da alimentação majoritariamente da população de classe média e baixa.
Do ponto de vista da renda, os mais prejudicados são os processadores artesanais. “Estima-se que acima de 70% dos processadores artesanais na grande Belém fecham no período da entressafra devido a falta de produto e pelo preço ser muito elevado”, aponta o pesquisador.
“Então o que mais preocupa são os processadores que trabalham em família porque a grande indústria não trabalha na entressafra. Ela trabalha na safra, quando o preço está bom, processam e armazenam em câmara fria”.
Para minimizar esses efeitos, o uso de tecnologia e o desenvolvimento de pesquisas são os grandes aliados. João Tomé aponta que nos municípios de Afuá, Chaves e Anajás, no Marajó, existem espécies que produzem exatamente na entressafra. Motivo que levou a Embrapa a coletar material genético da região em 2002. “Em 2002 fui em Afuá e Chaves para coletar material genético, trouxe para Belém, confeccionei as mudas e em 2003 eu plantei no nosso Campus Experimental de Tomé-Açu em terra firme e com irrigação”, explica. “Esse estudo originou a variedade BRS Pai d’Égua. Durante a nossa avaliação, em termos de produção, identificamos que é perfeitamente possível produzir de 40% a 45% da produção total anual nesse período de entressafra plantando essa variedade em terra firme, com irrigação”.
Outra maneira de estender um pouco o pico de produção do açaí é através do manejo adequado de populações nativas de açaizeiros, uma tecnologia já bastante consolidada, mas que, sozinha, não resolve o problema. “Há uma perspectiva muito grande de que, se essa variedade for lançada em terra firme com irrigação e tratos culturais adequados, no futuro próximo possamos minimizar esse problema da sazonalidade”, destaca João Tomé. “É uma cultura altamente rentável, mas temos desafios, como gerar tecnologia para aprimorar o sistema de produção do açaí, precisamos de estatísticas mais exatas sobre a dimensão da produção para que o empreendedor tenha mais planejamento, e a questão da água necessária para irrigação”.
Açaí
l Rendimento
Estima-se que a partir do 5º ao 6º ano de produção do açaí, seja possível obter até R$6 mil por hectare, por ano.
l Empregos
Cada hectare de açaí gera de 5 a 7 empregos diretos.
l Consumo
Estima-se que 60% de todo o açaí produzido no Estado vá para o consumo local; 30% é destinado para outros Estados, principalmente São Paulo, Rio de Janeiro, Distrito Federal e Minas Gerais; e 10% é exportado para outros países: Estados Unidos, Japão e mais 28 países.
Fonte: Embrapa.