Aproveitando partes que seriam descartadas, ele criou uma bebida destilada que acabou movimentando do Espírito Santo
André Scampini, de 51 anos, trabalha com tecnologia da informação. Mas seu sogro, Antonio Manuel de Jesus, é produtor de cacau no norte do Espírito Santo. Observando o cultivo cacaueiro, André se deu conta de que algumas partes do fruto eram descartadas ou subaproveitadas no manejo – apenas as amêndoas eram usadas para fazer chocolate.
Pensando nisso, ele elaborou uma aguardente feita com essas partes descartadas e acabou aquecendo a economia local com o desenvolvimento desse novo produto, batizado de “Cacahuatl”. “Eu sempre apreciei boas bebidas, aprendi a fazer cerveja artesanal e destilados e tive a ideia de criar uma aguardente de cacau para aproveitar partes do fruto, como a polpa”, diz ele.
No início, o trabalho foi, mesmo, de formiguinha. André pesquisou exaustivamente na internet sobre como aproveitar a polpa do cacau para a produção de bebidas. Também consultou artigos científicos, sem grandes resultados satisfatórios.
“Tive que partir realmente do zero, a partir de tentativa e erro. Li toda a documentação, artigos científicos. Juntando minha experiência como cervejeiro e destilador artesanal eu tracei um caminho mental do que eu deveria fazer e aí defini uma estratégia e comecei a fazer os testes”, conta ele. “Logo na primeira tentativa, consegui um bom resultado e passei a testar a receita. Fui refinando até onde ela está hoje.”
Mucilagem e polpa
Usando o espaço da fazenda do sogro, no Espírito Santo, e com a contribuição de outros produtores locais, André começou a produzir a aguardante a partir da mucilagem, a polpa que envolve as amêndoas do cacau. Dessa fruta, as amêndoas são as partes mais valiosas, pois são elas as matérias-primas do clássico chocolate.
Há quase 3 anos, o empresário se divide entre seu trabalho oficial em TI e a fabricação da bebida. “De lá pra cá, requeri a patente, registrei a marca, fiz todo o estudo da legislação, foram dois anos só de preparação. Em 2020, eu fiz a parceria com alambique pra terceirizar a produção e lancei o primeiro lote novembro”, afirma ele.
A ideia é fornecer a bebida nacionalmente e, quem sabe, até para outros países. Hoje, além de obter uma bebida com aroma e sabor muito frutados, que lembram, de fato, a polpa do cacau, André contribui para aquecer a economia local, pois os produtores têm uma forma a mais de ganhar dinheiro com a fruta, com partes que antes eram pouco aproveitadas.
Hoje, a aguardente pode ser comprada virtualmente, no site velhocarvalho.net.br. O custo para o consumidor ainda é elevado: uma garrafa de 700 ml chega a R$ 190. Porém, o impacto social de sua produção já é visível e ocorre em duas frentes: primeiro, o próprio agricultor consegue obter renda a partir de um que um produto que ele desprezava, e que passou a ter valor comercial.
Afinal, o agricultor consegue aproveitar partes da fruta que, talvez, iriam até para o lixo, o que gerou um aumento em seus lucros, uma renda extra, que independe do valor variável das amêndoas de cacau (por serem consideradas commoditie, são sujeitas à flutuação do mercado). “Essa renda extra, fixa, passou a ser uma colaboração bem-vinda a eles, para reduzir custo e aumentar lucro”, afirma André.
Em segundo lugar, o escoamento da polpa e da mucilagem do cacau para a produção da aguardente também gerou outra oportunidade de renda para o trabalhador e sua família. “A gente contrata o serviço dele ou ele fornece o produto pra gente, e a família pode trabalhar nessa extração da polpa. A esposa, por exemplo, pode ter essa renda, só dela”, explica o empreendedor.
Por conta da pandemia do novo coronavírus, a produção da bebida começou com 2 mil litros iniciais. “A gente até tem bebida em estoque, a fabricação continua, mas estamos indo mais devagar. A meta é chegar a 10 mil litros durante o semestre, com um lote, para fornecer para outras capitais, como São Paulo.” Fonte: https://virtz.r7.com/empreendedor-capixaba-usa-sobras-de-cacau-para-fazer-aguardente-20012021