“Semanas atrás, um fazendeiro antes considerado rico procurou um amigo, também cacauicultor, para falar-lhe de um assunto delicado. ‘Estou precisando de dinheiro e confio na nossa velha amizade na certeza de que você vai me ajudar’, disse o fazendeiro. O amigo relatou que se prontificou a emprestar uma certa quantia, imaginando tratar-se de R$ 10 mil ou R$ 20 mil. ‘De quanto você precisa?’, indagou, ao que o fazendeiro respondeu, de cabeça baixa: ‘De uns R$ 200. É para fazer a feira semanal lá em casa’.” (Gazeta Mercantil, 12/4/95).
Os planos econômicos, denominados Cruzado, Bresser e Verão (a partir de 1986, no Governo de José Sarney), buscavam, sem sucesso, controlar a inflação no país. O congelamento dos preços, medida adotada no Plano Cruzado, por exemplo, acarretou a falta dos produtos por excesso de demanda. Outras consequencias nefastas daqueles fracassados Planos Econômicos foram: o aumento do déficit público e o crescimento vertiginoso da inflação. Como resultados imediatos daqueles malfadados Planos econômicos, houve também o aumento dos encargos financeiros junto ao crédito, a estagnação dos preços internos, os reajustes da mão-de-obra, bem como dos insumos. Tudo isso, claro, se refletiu sobre a economia da lavoura cacaueira, notadamente entre os anos de 1986 e 1989.
Ednaldo Ribeiro Bispo, em Gestão Moderna da Cacauicultura (2011, p. 6), fez a seguinte análise, sobre aquele período, no que se refere à suas consequencias para a cacauicultura: “A partir de 1986, os planos de estabilização colocados em prática no Brasil, interferiram diretamente, em pelo menos, dois setores: na política cambial, dando início a um processo de queda nos preços internos do cacau, e na retirada progressiva dos subsídios aos insumos agrícolas, bem às linhas de créditos existentes, gerando um baixo índice na adoção da tecnologia e um aumento nos custos de produção, com consequente diminuição nas margens de lucro (…)”.
Para maior desgraça ainda, a região vivia uma estiagem prolongada, o que acarretou a redução das safras dos anos de 1987/1988 e 1988/1989. Era, portanto, uma crise (nacional) dentro de outra crise (regional). Porém, a situação pioraria ainda mais: com a redução dos preços do cacau nos mercados internacionais (desde 1984) e o aumento dos insumos, os produtores não puderam controlar o avanço da podridão parda. E, muito embora a lavoura cacaueira já tivesse sido “testada” em outras crises (1929, 1957 e 1964), não podia imaginar que uma crise tão avassaladora estava por vir. Eram os últimos anos da década de ’80 do século XX e também, segundo o que pensavam alguns estudiosos, era o fim do ciclo econômico da cacauicultura: a vassoura-de-bruxa chegara em 1989, devastando tudo à sua volta!
Mais uma vez Ednaldo R. Bispo, em Gestão Moderna da Cacauicultura (idem), fez observações muito pertinentes sobre a profundidade daquela crise sem precedentes: “Com o surgimento da vassoura-de-bruxa em
Diante daquelas circunstâncias a lavoura cacaueira caiu a níveis antieconômicos: a tecnologia empregada era insuficiente para reverter o quadro da perda de produção, o crédito era difícil, caro e escasso. A região cacaueira que havia gerado 1 bilhão de dólares em exportações (1979) e produziu 397 mil toneladas de cacau (1986) na década de ’90, do século XX, importou cacau. Segundo a Revista Globo Rural (2005, p. 27): “as fazendas de cacau eram responsáveis pelos muitos empregos diretos no campo, e, consequentemente, moviam a economia urbana, a qual, devido à falta de diversificação, dependia de outras regiões do estado e mesmo de outros estados da federação, para atender suas necessidades básicas de abastecimento alimentício, pois, importava carne bovina e até hortifrutigranjeiros de outras regiões”.
O forte impacto socioeconômico causado, acentuadamente, pela praga da vassoura-de-bruxa, na região cacaueira, foi impressionante: “Na safra recorde de 1984/1985, mais de 400 mil toneladas de amêndoas foram colhidas no país. Porém, em apenas 15 anos, esse índice caiu 60%” (www.sescsp.org.br/sesc/revistas_sesc/pb/artigo. 07 set. 2011). Deste modo, a partir do final da década de
Não poderia haver notícia mais desastrosa do que aquela que anunciava a chegada da vassoura-de-bruxa em nossa região. Os cacauicultores que já passavam por grandes dificuldades, não sabiam como enfrentar a nova praga. Pior: a Ceplac também não sabia como enfrentá-la! E para desgraçar ainda mais as coisas, a recomendação da Ceplac, inicialmente, era erradicar os cacaueiros. Na Revista Manchete (nº 2.051, p. 66) de 03 de agosto de 1991, um depoimento do produtor Chico Lima, proprietário da Fazenda Barreto, em Uruçuca reveste-se de grande significado para o entendimento do que foi aquela notícia: “foi como se uma bomba atômica tivesse estourado em Uruçuca. Usaram (os funcionários da Ceplac) até o agente laranja, o Thordon, para destruir
A partir dos anos 90 do século XX, a região começou a perder espaço no mercado internacional para a África e para a Ásia. Naquele mesmo período, a inflação alcançou níveis insuportáveis e houve um grande reajuste da mão-de-obra e dos insumos. A dívida no ano 2000, dos agricultores, com os bancos oficiais, foi estimada em 130 milhões de dólares, e com os exportadores, industriais e cooperativas, em mais 70 milhões de dólares, segundo o Banco do Brasil (www.politicaetc.com.br/v1/tag/cacau/. 21. jan. 2011). Ocorreu, na mesma época, um período de excedentes mundiais de produção que, somado ao elevado estoque mundial de cacau, acarretou também um período de preços baixos. Além disso, a existência de elevados níveis de inflação interna com repercussões diretas nos custos da produção e do processamento das amêndoas e uma enorme defasagem no câmbio, aliada à retirada dos financiamentos para o produtor, levaram a região cacaueira à bancarrota.
Um nó “travou” a sociedade cacaueira… Até quando?
O texto expressa exclusivamente a opinião do colunista e é de responsabilidade do autor.
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