O Boom nos Preços da Amêndoa de Cacau: Perspectivas Globais e Nacionais

A demanda por chocolate tem impulsionado o consumo de cacau, enquanto a oferta enfrenta desafios climáticos. A queda na produção dos dois maiores produtores mundiais, Costa do Marfim e Gana, se torna um dos principais impulsionadores desse fenômeno, como também um terceiro déficit global consecutivo na exportação de cacau oriundo desses países.

Precificação externa e interna
As negociações do cacau na bolsa de Nova York se iniciaram em 1920, com o preço estimado em US$ 300 pela commodity. No contexto atual, de outubro de 2018 até outubro de 2023, o custo médio da tonelada do cacau subiu 72%, passando de US$ 2.134,20 para US$ 3.691,61 a tonelada. Após isso, o preço atingiu seu maior nível desde o início da negociação de futuros da amêndoa, chegando a US$ 4.048,33 1 .

O Boom nos Preços da Amêndoa de Cacau: Perspectivas Globais e Nacionais 

Na perspectiva interna, um levantamento realizado pela Secretaria da Agricultura, Pecuária, Irrigação, Pesca e Aquicultura da Bahia (Seagri) revelou que, em Ilhéus e Itabuna, cidades referências na produção de cacau no sul do estado, a cotação da arroba do cacau atingiu a casa dos R$ 307,65 para cada 15 kg da commodity, marcando o ponto mais alto do ano. Este valor representa um significativo aumento de 54% em relação aos R$ 197,00 2 registrados no início do ano.

O Boom nos Preços da Amêndoa de Cacau: Perspectivas Globais e NacionaisAmbos os gráficos ilustram a tendência de alta da commodity, medida que afeta todos
os produtos derivados da amêndoa de cacau.

Propulsores do Aumento dos Preços e os Impactos
Vários fatores contribuem para o atual boom nos preços do cacau. O declínio na produção das safras na África Ocidental é apontado como um elemento crucial. A região, que historicamente desempenha um papel significativo na produção global de cacau, enfrenta desafios que contribuem para a escassez e, consequentemente, para a alta nos preços, assim como as chuvas intensas e a falta de fertilizantes.

Tudo isso resulta no declínio nas chegadas de cacau aos portos da Costa do Marfim, o maior produtor mundial – uma queda de 25% entre outubro e novembro, em comparação com a temporada anterior. Os impactos climáticos do El Niño e uma ressaca deficitária da safra anterior agravam a situação.

A demanda crescente também desempenha um papel crucial, impactando o consumo de chocolate. Na China, por exemplo, mercado em que não há a cultura do consumo de chocolate semelhante à dos países da Europa, estima-se um crescimento de mercado de US$ 3,83 bilhões em 2023 para US$ 4,85 bilhões em 2028, um crescimento de 26,63%. A Organização Internacional do Cacau (ICCO) também projeta um aumento de 0,2% na moagem global em 2024.

A relação entre estoques e moagem pode atingir uma mínima de sete anos até o final do ano, indicando uma demanda crescente em relação à oferta. A necessidade crescente das indústrias globais de processamento e de chocolate é um dos principais fatores para o aumento dos preços do cacau, já que a demanda aquecida por derivados da amêndoa impulsiona a valorização da matéria-prima.

Perspectivas para o Mercado Nacional e Global
A insuficiência de oferta no Oeste Africano impulsiona as cotações de cacau. Os preços futuros estão em níveis não vistos há décadas, com projeções de ultrapassar US$ 4 mil por tonelada  métrica em breve. A situação impacta agricultores globalmente, com diferentes países enfrentando realidades distintas.

Enquanto Gana e Costa do Marfim têm preços agrícolas definidos antes da temporada, outros países, como Uganda, veem aumentos diários de até 65%. Embora os agricultores na Costa do Marfim estejam otimistas em relação às chuvas abundantes, a incerteza persiste devido às más condições climáticas recentes. O aumento dos preços pode beneficiar os agricultores, mas o impacto total dependerá da capacidade de mitigar os desafios de produção.

O atual boom nos preços da amêndoa de cacau reflete uma complexa interação entre fatores climáticos, doenças, oferta e demanda. Os agricultores brasileiros, em geral, estão se favorecendo dos preços mais altos, mas os níveis de produtividade média impactam diretamente a renda auferida pelos agricultores em razão dos preços elevados das amêndoas.

Entretanto, O Brasil pode se beneficiar ainda mais dessa alta de preço, aumentando ainda mais o desejo de investimentos na cacauicultura brasileira. Levantamento realizado pela Iniciativa CocoaAction Brasil indica que o setor privado irá investir mais de R$ 400 milhões nos próximos 3 anos. Existem diversos projetos em andamento, tanto nas áreas tradicionais, com foco em melhorar a produtividade das lavouras existentes, como nas áreas não tradicionais com a ampliação de hectares plantados.

O mercado brasileiro poderá em poucos anos deixar de ser importador de amêndoas de cacau,  conseguindo abastecer 100% da indústria local. Existem projetos de diferentes atores que tem como objetivo em comum plantar mais de 100 mil hectares de cacau com foco em recuperação de áreas degradadas. A partir do momento que começarem a produzir efetivamente, o Brasil poderá retomar a relevância no mercado global, ofertando para o mundo um cacau de qualidade com sustentabilidade social, ambiental e econômica, e até mesmo se diferenciando como um produto de nicho.

 

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