Por: Claudemir Zafalon
O mercado global de cacau sofreu uma significativa pressão vendedora e registrou queda nos preços durante a sessão de terça-feira, após a União Europeia (UE) chegar a um acordo provisório para adiar a implementação de sua aguardada lei de combate ao desmatamento. A nova legislação, que estava prevista para entrar em vigor no início do próximo ano, terá sua aplicação postergada até o final de 2025, concedendo mais tempo para que as cadeias de abastecimento globais, abrangendo produtos como café, cacau e carne bovina, possam se adaptar.
O impacto no mercado e nas cadeias de abastecimento
O adiamento surge em meio a um cenário de meses turbulentos para uma das mais abrangentes iniciativas ambientais do bloco europeu. A legislação, que visa reduzir o desmatamento florestal causado pela produção agrícola destinada à exportação, foi recebida com resistência de gigantes agrícolas como Brasil e Indonésia, além de países membros da UE, como Áustria e Finlândia. A principal crítica gira em torno dos custos elevados e do tempo necessário para ajustar os processos de rastreamento e certificação exigidos pela nova norma.
Fabricantes de chocolate, que dependem diretamente do cacau, e governos dos principais países exportadores afirmam que o prazo adicional é essencial para evitar impactos econômicos severos. “O adiamento nos dá um fôlego para implementar mudanças necessárias sem interromper a cadeia de fornecimento. No entanto, desafios significativos permanecem”, afirmou um porta-voz de uma grande empresa europeia do setor.
Simbologia e desafios da nova legislação
A legislação contra ao desmatamento tornou-se um marco das ambições ambientais europeias, buscando equilibrar práticas comerciais e preservação ambiental. Contudo, ela também expôs um conflito latente entre a sustentabilidade e a realidade econômica de países que dependem da exportação agrícola.
Para a União Europeia, a lei é mais do que uma regulamentação comercial; é um posicionamento estratégico para liderar a luta global contra as mudanças climáticas. Por outro lado, países exportadores questionam a eficácia da norma e temem que ela penalize produtores locais e aumente a desigualdade no comércio internacional.
Próximos passos
Embora o acordo provisório tenha gerado alívio entre algumas empresas e países, ele ainda precisa ser ratificado oficialmente pelos Estados-Membros e pelo Parlamento Europeu. A Comissão do Ambiente do Parlamento deve votar na quarta-feira, seguida de uma votação plenária no final do mês, etapas que são vistas como meras formalidades.
Se aprovado, o novo cronograma exigirá ações imediatas para começar a preparar as cadeias de produção globalmente, em especial em setores como o do cacau, que já sentem os impactos da mudança de regras no mercado.
Com a prorrogação, o foco agora está em como a Europa e os países exportadores vão negociar os ajustes necessários para tornar a legislação viável, sem comprometer a economia de nações dependentes da exportação agrícola. O mercado continuará atento, especialmente aos desdobramentos no comércio de produtos-chave como o cacau, que sentiu de perto os primeiros impactos das discussões.
Fonte: mercadodocacau