Adrian Cadbury, dos chocolates à corporate governance

 

Se estas palavras tivessem sabor, seria o do chocolate. Não o do popular Dairy Milk, mas sim o dos bombons Milk Tray ou o da barra Time Out, ambos da Cadbury. Os primeiros, porque foi assim que Adrian Cadbury começou a sua carreira na fábrica familiar em Bournville, na Inglaterra, em 1952. O diploma em Economia do reputado King’s College, de Cambridge, não o isentou de passar por várias secções na Cadbury Brothers, onde teve até de pintar à mão as caixas de Milk Tray. Aí aprendeu uma das maiores lições da sua vida: "A ouvir, a aprender, a conhecer e a trabalhar em conjunto".

 

A Time Out era o chocolate com que Adrian acompanhava o café nos últimos 20 anos, no fim de um percurso de sucesso que incluiu estar na direcção do Banco de Inglaterra (BI) e da IBM, e lhe valeu várias condecorações como a de cavaleiro, entregue pela Rainha. Não só transformara o negócio da família num império global como reescrevera as regras de gestão das empresas, tornando o seu nome obrigatório em todo o mundo naquilo a que se chama corporate governance (ou seja, como definiu, "o sistema pelo qual as empresas são dirigidas e reguladas"). Porém, o que recordava como "o melhor que lhe acontecera na vida" tinha a ver com desporto. Em 1952 ficou em 4.o lugar nos Jogos Olímpicos de Helsínquia com a equipa britânica de remo.

Este inglês alto, de voz pausada e "abordagem de cisne" (a imagem é de um dos seus colaboradores) levou a vida toda a provar que não nascera "com uma colher de chocolate na boca". 

 

George Adrian Hayhurst Cadbury nasceu numa família quaker (religião conservadora que defende a filantropia e a austeridade dos costumes) a 15 de Abril de 1929. O bisavô, John Cadbury, comercializava café e chá e depois passou a produzir cacau em pó. O avô desenvolveu com o irmão uma fórmula para chocolate e os dois construíram a fábrica em Bournville, que se tornou, em 1905, ano em que inventaram a marca Dairy Milk, na maior do mundo. O pai seguiu o percurso familiar mas não se ficou por aí: foi presidente da Cadbury sim, mas também do News Chronicle e chegou a director do BI. 

 

Na sucessão dinástica, Adrian, um dos seis filhos (três dos irmãos morreram), não estava na primeira linha para assumir a Cadbury. A família projectava-o antes para as publicações. Mas a morte do irmão mais velho num acidente de carro levou-o para a fábrica. Já a conhecia bem. Trabalhara lá na adolescência, nas férias de Verão, a fazer recados. Só nesse período podia fazer uma pausa na estrita dieta de doces e devorar todos os chocolates que quisesse. Manteve-se guloso até morrer, no dia 3, aos 86 anos: todos os dias comia um pedaço de chocolate.

 

Aos 36 anos subiu à presidência da Cadbury e rapidamente a modernizou (sem acabar com a tradição altruísta da empresa), eliminando a gestão autocrática e o nepotismo. A fusão com a Schweppes, em 1969, abriu-lhe o mercado dos Estados Unidos. Adrian admitiu que teve dúvidas em se ligar a uma empresa que estava associada ao álcool, proibido aos quakers. Resolveu o problema argumentando que "pelo menos era a companhia que fornecia a água tónica e não o gin".

Quando se retirou, aos 60 anos (idade com que os outros administradores saíam) a Cadbury multiplicara por dez o volume de negócios e aumentara os lucros. Porém, o seu contributo para o universo empresarial não se ficou por aí. No final dos anos 80, com as empresas britânicas a viverem escândalos de corrupção e fraude, o BI pediu-lhe em 1991 ideias para devolver a credibilidade ao meio. Surgiu o Cadbury Code, o código de boas práticas que ainda hoje é uma referência em todo o mundo, tendo seguidores como a General Motors, por exemplo. 

 

Discreto, o gentleman de madeixa rebelde e blazer impecável, que lia John Le Carré e David Lodge, dizia não ser um "génio financeiro". O segredo do seu sucesso? Simples: "Sempre compreendi as pessoas e gostei de trabalhar com elas, de forma a que cada uma desse o seu melhor". Fonte: Sabado.pt

Curtiu esse post? Compartilhe com os amigos!

Facebook
Twitter
LinkedIn
WhatsApp
Telegram

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *