Agricultores da Costa do Marfim Sofrem com Desafios Climáticos e Desigualdade Econômica

Os agricultores da Costa do Marfim, responsáveis por 45% da produção mundial de cacau, estão enfrentando grandes dificuldades devido às mudanças climáticas e à desigualdade no mercado. Apesar do aumento dos lucros das grandes empresas de chocolate, os produtores marfinenses continuam a lutar para sobreviver.

Impacto das Mudanças Climáticas

A Costa do Marfim e seu vizinho Gana, os maiores produtores de cacau do mundo, foram duramente atingidos pelo fenômeno climático El Niño. Esse padrão climático, caracterizado por temperaturas mais altas na superfície do Oceano Pacífico equatorial, tem trazido condições de seca para a África Ocidental. As alterações climáticas, com temperaturas mais elevadas e padrões de precipitação alterados, agravam ainda mais a situação das colheitas de cacau.

Dificuldades Cotidianas

A luta dos agricultores marfinenses não é novidade. Akoua, uma produtora local, descreve a situação como extremamente desafiadora. “A lavoura de cacau exige muito trabalho físico e tempo. Não podemos arcar com mais mão de obra, então fazemos tudo sozinhos com a ajuda dos meninos da família. Mal conseguimos sobreviver a tudo isso”, relata Akoua.

Christian Kouassi, outro agricultor da aldeia de Aboude, ecoa essas dificuldades. “Não temos absolutamente nenhuma palavra a dizer sobre o preço do fruto que produzimos. Isso tem que mudar de alguma forma. Como sindicato, nos preocupamos em tornar o cacau mais sustentável e em produzir de forma que beneficie a comunidade”, afirma Kouassi.

Ajustes de Preços e Medidas Governamentais

Recentemente, o governo da Costa do Marfim aumentou o preço de um quilograma de cacau para 1500 francos CFA (US$ 2,48), marcando um aumento de 50%. Esta medida, anunciada em 2 de abril, foi uma resposta ao aumento dos preços na Bolsa de Nova York, onde o cacau atingiu uma alta recorde de US$ 5.874 por tonelada em fevereiro.

Em 2021, Costa do Marfim e Gana introduziram um prêmio de US$ 400 por tonelada, conhecido como “diferencial de renda decente”, para garantir uma renda mínima aos agricultores, independentemente das flutuações do preço do cacau no mercado global. Apesar disso, os produtores marfinenses esperam por novos aumentos na próxima temporada.

O Papel das Autoridades Governamentais

O Conselho do Café-Cacau (Conseil du Café-Cacao) é a principal entidade encarregada de regular os preços e supervisionar a indústria do cacau na Costa do Marfim. Normalmente, no início de cada temporada de cacau, o governo faz anúncios públicos sobre os preços, considerando fatores como taxas do mercado global, despesas de produção e feedback dos produtores e outras partes interessadas. A adoção de um sistema de estabilização de preços visa garantir um rendimento fixo por quilograma vendido, protegendo os produtores das variações externas.

Disparidade de Lucros

Enquanto os agricultores marfinenses enfrentam dificuldades, as grandes empresas de chocolate continuam a prosperar. Em 2023, o valor de mercado global do chocolate foi estimado em US$ 119,39 bilhões e espera-se que cresça a uma taxa anual composta de 4,1% de 2024 a 2030. A Mars Wrigley Confectionery liderou o mercado global de chocolate e cacau em 2023, com vendas líquidas de US$ 22 bilhões.

De acordo com uma análise da Oxfam, as fortunas coletivas das famílias Ferrero e Mars subiram para US$ 160,9 bilhões em 2023, superando os PIBs combinados da Costa do Marfim e Gana. Este cenário destaca a disparidade entre os lucros das grandes corporações e as condições de vida dos produtores de cacau, evidenciando a necessidade urgente de um sistema mais justo e sustentável na cadeia de valor do cacau.

Fonte: mercadodocacau

* com informações aljazeera

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