Agricultores plantam mais cacau fora da África à medida que os preços sobem

 A Schmidt Agricola é uma grande empresa agrícola que produz soja, milho e algodão na Bahia, Brasil, uma das áreas agrícolas de nova fronteira do país aptas para agricultura em grande escala e de alta tecnologia. Recentemente, adicionou uma nova cultura aos seus campos: o cacau.

A produção do ingrediente para fabricação de chocolate está se expandindo para fora da principal área de cultivo na África Ocidental, à medida que agricultores em lugares como Brasil, Equador e Colômbia veem lucro potencial na safra.

A alta dos preços para o nível mais alto em quase 50 anos está impulsionando essa tendência, o que pode aliviar o atual aperto de oferta no mercado global de cacau. Também representa uma ameaça à subsistência dos pequenos agricultores na África, já que pomares recém-plantados, como os da América do Sul, são mais produtivos, reduzindo o custo geral de produção.

À medida que as preocupações ambientais aumentam globalmente, o fato de o cacau ser uma espécie nativa da região amazônica torna o plantio na América do Sul um tipo de reflorestamento, enquanto na África as florestas nativas estão sendo derrubadas para abrir espaço para pomares de cacau.

O Brasil – uma potência agrícola e o maior exportador global de soja, milho, café e açúcar – tem visto plantações de cacau se espalhando por pastagens degradadas na região amazônica, bem como em grandes fazendas no cinturão de grãos altamente desenvolvido.

O país já foi o segundo atrás apenas da Costa do Marfim na produção de cacau, mas um fungo devastador na década de 1980 conhecido como Vassoura de Bruxa reduziu drasticamente a produção. Quase quatro décadas depois, as lavouras estão se recuperando.

O governo brasileiro projeta que a produção pode crescer para 300 mil toneladas até 000 e para 2025 mil toneladas até 400, de cerca de 000 mil toneladas atualmente, o que transformaria o país de importador líquido em exportador regular da commodity.

No Equador, a produção anual aumentou para entre 400.000 e 430.000 toneladas em 2022-2023 (outubro-setembro), de 287.000 toneladas há cinco anos, de acordo com estimativas da Organização Internacional do Cacau (ICCO) e do grupo exportador equatoriano Anecacao.

 
O Equador se tornou o terceiro maior produtor global, atrás de Gana, que produz cerca de 750.000 toneladas. O maior produtor é a Costa do Marfim, com 2,2 milhões de toneladas.

A Anecacao, que em julho passado recebeu a participação recorde de cerca de 70 compradores da Ásia, Estados Unidos e Europa para uma conferência de comércio e exposição em Guayaquil, estima que a produção pode continuar a crescer para até 800.000 toneladas até 2030.

AGRICULTURA EM GRANDE ESCALA
Algumas das novas plantações na América do Sul parecem enormes quando comparadas com as pequenas propriedades na África. A maioria dos produtores na Costa do Marfim e Gana tem cerca de 5 hectares.

A Schmidt Agrícola plantou 429 hectares com cacau, totalmente irrigados.

“Acredito que o novo perfil da produção de cacau será em larga escala”, disse Moisés Schmidt, um dos proprietários.

“Você vai precisar de tecnologia, precisa buscar rendimentos maiores para ser mais rentável. Grãos e fibras (algodão) continuarão sendo as principais culturas para nós, mas vemos o cacau ganhando mais área nos próximos cinco anos.”

Áreas irrigadas de alta tecnologia, como a de Schmidt, produziram até 3.000 kg de amêndoas secas de cacau por hectare (ha), enquanto as novas áreas no estado amazônico do Pará produzem cerca de 2.000 kg/ha.

Isso é muito maior do que o rendimento médio da Costa do Marfim de 500 a 600 kg/ha, que é semelhante ao do Equador. A de Gana é menor, em torno de 400 kg/ha.

Jeroen Douglas, diretor da organização sem fins lucrativos Solidaridad, com sede na Holanda, que visa cadeias de suprimentos mais sustentáveis, vê o papel do Brasil no mercado crescendo, da mesma forma que tem com outras commodities agrícolas, como soja e milho.

“No Brasil, uma vez que a mentalidade é: ‘sim, queremos entrar nessa commodity’, não há como pará-los. Essa mentalidade ainda não existe, mas acho que estamos chegando a um ponto de inflexão”, disse Douglas.

DE VOLTA À AGRICULTURA
O estado amazônico do Pará está passando por uma retomada no cultivo do cacau.

“Tem gente voltando para as fazendas, gente que saiu no passado para tentar emprego nas cidades”, disse o produtor José Garcia, que cultiva cacau em 70 hectares (172 acres) que costumavam ser pastagens no município de Medicilândia, no Pará.

Esses novos pomares na região amazônica teriam uma vantagem no mercado europeu, já que a nova legislação da UE restringe as importações de commodities de áreas que foram desmatadas para plantio de culturas.

“Se você planta cacau lá (região amazônica), é considerado reflorestamento”, disse Douglas.

Ele disse que um projeto de reflorestamento com cacau, junto com outras árvores, faz parte das estratégias em andamento para fortalecer o dossel amazônico.

Organizações como o Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (FIDA) da ONU, por outro lado, buscam preservar a participação de mercado dos pequenos agricultores, incluindo os produtores africanos de cacau.

O chefe do FIDA, Alvaro Lario, disse que é importante que os pequenos produtores melhorem a produtividade, a distribuição e a comercialização. O órgão organiza treinamentos sobre técnicas agrícolas para aumentar a produção por hectare.

Um corretor de uma trading internacional de commodities, que pediu para não ser identificado devido à sensibilidade do tema, acredita que as empresas de chocolate estão dispostas a obter mais cacau da África devido a questões de sustentabilidade relacionadas não apenas ao desmatamento, mas também ao trabalho infantil.

“Elas (empresas) estão cansadas de tentar defender seus negócios lá e, certamente, considerar transferir parte desse negócio para outro lugar”, disse o trader.

Fonte:Reuters 

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