Cacau brasileiro aposta no desenvolvimento sustentável para entrar no mercado europeu

Os produtores se encontraram nesta sexta-feira (27), na embaixada do Brasil em Paris, com representantes comerciais franceses e chefs, para fazer uma apresentação de todos os derivados do cacau, desde as amêndoas da fruta, até os produtos finais, como o chocolate fino.

“O cacau é o fruto que tem o maior poder de antioxidação, antes mesmo da uva e do açaí”, explica Kassandra Renê, da fazenda Abelha Cacau, na rodovia Transamazônica, entre as cidades de Altamira e Brasil Novo. “A Abelha Cacau é uma empresa que tem valores baseados e pautados nos conceitos de origem totalmente amazônica, onde também desenvolvemos a educação ambiental”, relata. A fazenda extende a pauta orgânica à criação de abelhas e derivados da apicultura.

“Nosso objetivo é trabalhar sempre com amêndoas de cacau de qualidade, com certificação orgânica e mercado justo, priorizando sempre pequenos produtores como uma forma de buscar novos mercados e agregar valores”, explica Jedielcio Oliveira, da Cooperativa Central de Produção Orgânica da Transamazônica e Xingu.

Rastreabilidade
Entre os desafios enfrentados pelos produtores, Oliveira destaca a rastreabilidade, que é uma exigência cada vez mais presente no mercado internacional. “Mas precisamos quebrar alguns paradigmas, porque até então se dizia que o Brasil não tinha cacau de qualidade e recentemente temos mantido lugar entre os países produtores de cacau fino”.

Gerson Marques, produtor e “chocolate maker” da Fazenda Yrerê, na Bahia, lembra que o cacau brasileiro sofreu grande desgaste por causa da doença da vassoura de bruxa, nos anos 1980. “Isso levou à desestruturação da indústria da cadeia a partir da base, levando ao empobrecimento do produtor, e obviamente, uma queda profunda da qualidade do cacau”.

“E como todas as crises, elas também nos ensinam e abrem caminhos”, ressalva Marques. “Isso levou à migração de produtores de cacau a produtores de chocolate, na busca de potencializar o próprio negócio. A cadeia ainda tem problemas, mas temos ações de ponta focadas na produção de chocolate de alta qualidade, com muito resultado”, explica. “Essas iniciativas estão reposicionando o Brasil nesse mercado e hoje há um reconhecimento dos aspectos e também dos valores intrínsecos, que são valores ambientais. É nosso chocolate, o nosso cacau. Ele é feito em consórcio com a floresta, no caso, a floresta atlântica brasileira, que é um ecossistema extremamente degradado, mas muito rico”.

“Terroir amazônico”
Além de usar discursos em torno da sustentabilidade, os produtores brasileiros também adotam termos estrangeiros para valorizar o cacau nativo, como “terroirs”, emprestado do francês. “O cacau amazônico é diferente dos demais pelos ‘terroirs’, que são sabores e aromas derivados da região e do clima”, explica Francisco Pereira Cruz, que representa uma cooperativa de pequenos agricultores, a CooperCau, na cidade de Novo Repartimento, no Pará.

Já a CAMTA (Cooperativa Agrícola Mista de Tomé-Açu) tem uma história de revezes e superações. Ela foi fundada por descendentes de japoneses que desbravaram a Amazônia a partir de 1929, implementando extensas áreas de monocultura de pimenta-do-reino. A decadência desse cultivo, vítima da doença fusariose, foi um tombo para os produtores, mas que acabaram se dirigindo ao desenvolvimento da agricultura sustentável na região. A cooperativa tem um amplo leque de produtos amazônicos, que conta ainda com a pimenta-do-reino, mas também muitos sucos tropicais e cacau. Outro carro-chefe da CAMTA, explica o gerente comercial José Ono, é o açaí, que já é exportado para a Alemanha.

Fonte:Diplomacia Business

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