Cacau: conheça a nova fronteira agrícola do Norte de Minas Gerais

Minas Gerais é um dos estados brasileiros cuja produção agrícola é uma das mais variadas. O clima diferenciado, as tecnologias implantadas e a dedicação dos produtores rurais são fatores que permitem essa diversificação. Além de ser o Estado do café, do leite, Minas também inova e produz itens não tão tradicionais, como azeites e vinhos e, agora, avança na produção de cacau – cultura tradicionalmente reportada à Bahia, mas que atualmente disputa uma “boa briga” com o Pará como maior produtor nacional. Na região Norte de Minas Gerais, onde há uma das fruticulturas mais pujantes do País, o cacau está sendo cultivado em consórcio com a banana. É uma nova fronteira para o agronegócio mineiro e do País.

O professor e pesquisador da Unimontes, Victor Martins Maia, está há cerca de 10 anos pesquisando a cultura do cacau na região Norte. Com os estudos, a fruta que normalmente é produzida em regiões de clima tropical – onde se tem calor e umidade – também está gerando bons resultados no semiárido. As pesquisas já mostraram que a produtividade do cacau nessa nova fronteira pode superar em 10 vezes a registrada no Sul da Bahia, por exemplo.

“Quando a pesquisa é bem feita e aplicada, a gente consegue levar os resultados – que na maioria das vezes tem como fonte dinheiro público – de volta à sociedade, gerando emprego, gerando renda local. Pesquisamos o cacau há cerca de 10 anos na região Norte de Minas e os estudos indicaram viabilidade econômica e financeira. Com os estudos, estamos conseguindo indicar para os produtores os melhores clones de cacau a serem plantados”, reforça o pesquisador.

Cacau do Norte de Minas Gerais tem alta qualidade e produtividade 10 vezes maior

Ainda conforme Maia, a região Norte do Estado se diferencia por se tratar de uma região seca, sendo que, normalmente, os cultivos de cacau ao redor do mundo e no Brasil são feitos em trópicos úmidos, regiões muito chuvosas.

Utilizando técnicas da região e que são aplicadas na fruticultura, as pesquisas já mostraram que a produtividade do cacau nessa nova fronteira pode superar em 10 vezes a registrada no Sul da Bahia, conforme reitera o pesquisador. Hoje, há cultivo comercial do cacau nas cidades de Pirapora, Janaúba, Matias Cardoso e Jaíba, mas toda a região Norte é apta ao cultivo.

“Como nossa região é mais seca, embora haja necessariamente obrigação de irrigação, nós temos menos problemas sanitários e conseguimos, com a tecnologia já muito bem utilizada aqui na região, atingir altas produtividades. O ganho é justamente a qualidade, a produtividade e a sanidade do produto”, explica Maia

Em relação à qualidade, conforme Maia, o clima também favorece as amêndoas, tanto na produção quanto no processo de fermentação e de secagem, resultando, portanto, em um produto final de qualidade diferenciada.

Com preços lucrativos, tendência é que cultivo cresça expressivamente

A área plantada no Norte de Minas Gerais com o cacau ainda é pequena, girando em torno de 500 hectares e pertencente a oito produtores. Mas a estimativa é de avanço significativo nos próximos anos

“A área ainda é pequena se comparada com a produção no Brasil, mas a tendência é de crescimento na região, tanto no área cultivada quanto em produtividade e produção. A gente imagina que, nos próximos anos, essa área ultrapasse 5 mil hectares e, no médio prazo, possa até ultrapassar 10 mil hectares de cacau”, analisa o professor e pesquisador da Unimontes, Victor Martins Maia.

Além do cacau ter se adaptado bem à região, o estímulo para o desenvolvimento da produção vem da demanda de mercado. Uma análise econômica do cultivo do cacau nessa região do Norte de Minas apontou que a cultura é lucrativa, com bom retorno econômico e também de excelente retorno ambiental.

“Hoje, a gente vive um momento de preço do cacau extremamente alto por uma questão de falta de cacau no mercado mundial. Isso torna a atividade ainda mais lucrativa, extremamente rentável e muito atrativa. No entanto, a gente fala para os produtores não considerarem a análise de viabilidade econômica somente com esse preço momentâneo. Pode ser que o valor atual até dure por alguns anos, mas ele é um valor de alta histórica, por isso, é importante uma média histórica. Então, considerando a média histórica, o preço é, com certeza, lucrativo”, aponta.

Projeto Agro+Verde vai estimular a produção do cacau

Com o potencial para a produção do cacau no Norte de Minas e o crescente interesse pelos produtores rurais da região, o Sistema Faemg Senar e a empresa Cargill, por meio do Instituto Antonio Ernesto de Salvo (Inaes), estão desenvolvendo na região o Projeto Agro+Verde.

Inicialmente, um grupo de 30 produtores terá acesso às ações e assistência técnica. O objetivo é promover o uso sustentável das propriedades rurais que estejam degradadas, alteradas ou com baixa produtividade. Ao longo dos dois primeiros anos do projeto, o plantio do cacau será feito em consórcio com a área de banana já instalada, até que a substituição deste terreno plantado seja efetivada.

Por meio do Agro+Verde, a expectativa é que se forme uma cadeia produtiva local mais fortalecida para a cultura do cacau. Nos últimos 10 anos, o cultivo do fruto no Norte de Minas foi tema de estudos e análises, com algumas fazendas já com área plantada e colhendo o fruto. Hoje, são cerca de 500 hectares já implantados na região.

Conforme explica o gerente executivo do Inaes, Bruno Rocha, o Agro + Verde será uma importante ferramenta para implementar de forma mais abrangente o cacau no Norte de Minas.

“O projeto será importante para a implantação da cultura no Norte do Estado e também trará desenvolvimento dentro da diversificação da produção. Temos uma grande expectativa. Juntamente com os nossos diversos parceiros, vamos conseguir realmente alavancar esse projeto nessa região”, acrescenta o gerente.

Tradição da fruticultura irrigada favorece avanço do cacau

A tradição na fruticultura irrigada é um diferencial que vai contribuir para a produção do cacau no Norte de Minas. Além disso, o plantio em consórcio, ainda que somente nos anos iniciais, é importante para gerar fluxo de renda para os produtores que estão investindo na nova cultura.

“Nós já temos a cultura da banana bem desenvolvida na região de Janaúba e Jaíba e sabemos que isso é realmente do DNA do Norte de Minas. Temos um processo de irrigação muito bem implantado, temos características que realmente favorecem o consorciamento da cultura do cacau com a banana. Então, a gente espera que isso flua de uma maneira muito adequada, juntamente com a assistência técnica do Sistema Faemg, Senar e Inaes para que a gente realmente consiga ter bons resultados”, aponta Rocha.

O gerente de sustentabilidade da Cargill, Raphael Hamawaki, explica que o Projeto Agro + Verde no cacau atenderá 30 produtores inicialmente e terá um processo de implantação mais ágil, já que há produtores interessados em plantar o cacau de imediato.

“A gente vê a necessidade e a disposição do produtor do Norte de Minas em plantar a cultura desse ano para ano que vem. Então, o projeto já está trabalhando com essa perspectiva. Pretendemos abrir uma segunda etapa para que possamos alcançar um maior número de produtores e também uma área de cacau significativa que dê escala também para a produção na região”.

Produtores apostam na nova cultura

Durante o primeiro Dia de Campo do Projeto Agro+Verde, realizado em Janaúba e promovido pelo Sistema Faemg Senar e a Cargill através do Inaes, cerca de 200 pessoas participaram e o interesse pelo cultivo do cacau foi grande.

Um dos participantes foi o sócio-administrador do Grupo Brasnica, Helton Jun Yamada. A empresa está há 40 anos na região. Pioneira da bananicultura, hoje, o Grupo Brasnica está implantando o cacau em algumas áreas.

“Estamos enxergando o cacau como uma opção muito interessante para a região devido à característica de qualidade e produtividade. As condições aqui, por ter uma adaptabilidade na fruticultura e manejo desenvolvido, permite, assim, uma maior praticidade para a gente implantar uma nova atividade como o cacau, que vem com uma oportunidade de ser uma atividade sustentável de longo prazo”.

Ainda segundo Yamada, pensando no mercado e nas tendências para o cacau, a Brasnica tende, cada vez mais, a ampliar seus negócios na cacauicultura. “Hoje, nós temos um projeto de 100 hectares no Norte do Estado, no qual 77 hectares foram implantados. O planejamento é ampliar ao longo dos próximos cinco anos”, aponta.

Resultados promissores incentivam ampliação de área

A sócia da fazenda Rimo Agropecuária, Margareth Antunes Guimarães, unidade que sediou o Dia de Campo em Janaúba, explica que começou a plantar cacau há cerca de três anos, incentivada pelos resultados da pesquisa do professor e pesquisador da Unimontes, Victor Martins Maia.

“De início, havia outros poucos produtores interessados nesse plantio. Acho que nós fomos a segunda ou a terceira fazenda da região a plantar. Hoje, vemos uma divulgação maior e, para nós, isso é muito importante. O consórcio da banana, que já é tradicional na nossa região, com o cacau traz mais valor agregado para a região”.

Conforme a produtora, a colheita do cacau na fazenda já foi iniciada, e as expectativas são positivas. “Estamos bem motivados com os resultados. Na fazenda da Rima, a gente plantou 120 mil mudas de cacau, e a fazenda tem 400 hectares de banana. O projeto inicial é transformar a metade desta área em plantio de cacau”, explicou..

No consórcio, o cacau é implantado no meio do bananal já existente e as bananeiras vão sendo cortadas ao longo da produção. A partir de três anos do consórcio, são retiradas todas as plantas de banana dando, assim, espaço para o cacau prosperar. Devido às características da região e às tecnologias, a expectativa é que o Norte do Estado se transforme em um polo cacaueiro.

“A região pode virar um polo do cacau. O clima, o solo e toda a pesquisa que foi feita até agora nos mostram que o Norte é bem propício para o fruto. Então, esperamos que outros produtores se sintam incentivados como nós. É uma nova cultura com uma perspectiva muito boa, tanto para a região, como nacionalmente e até mundialmente”, aposta Margareth Guimarães.

Produtor testa espaçamentos diferenciados no cacau

O produtor rural João Marcelo Caires Antunes, que também é diretor administrativo do Sindicato Rural de Janaúba, iniciou o plantio do cacau em 2022. Hoje, são 70 hectares cultivados com o cacau e a banana consorciada. Testando espaçamentos diferentes entre as fileiras dos dois frutos, a estimativa também é de aumentar a área do cacau.

“Nós plantamos 70 hectares de cacau com alguns espaçamentos diferentes para testar. O modelo que adotamos foi o consórcio com a banana nesse momento inicial e que vai durar dois anos e meio ou três anos. Depois disso, vamos cortando a banana para ficar apenas o cacau com o pleno sol. Nosso plano é continuar crescendo e acreditamos na cultura do cacau na região”.

Hoje, a unidade produtiva de Antunes conta com uma média de 1.100 plantas por hectare a 1.428 plantas por hectare. Elas estão distribuídas em áreas com fileiras simples e fileiras duplas. A expectativa é alcançar uma produtividade em torno de 200 arrobas por hectare, volume, que segundo Antunes é um padrão. “Talvez a gente consiga até mais que o esperado”, projeta o produtor rural.

Fonte: diariodocomercio

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