Por: Claudemir Zafalon
Os contratos futuros de cacau romperam na quarta-feira (16) o suporte técnico de US$ 8.000 por tonelada e encerraram o pregão abaixo de US$ 7.800/tonelada, pressionados por sinais claros de desaceleração da demanda global e perspectivas crescentes de superávit de oferta. O contrato de setembro oscilou entre US$ 7.782 e US$ 8.250, fechando a US$ 7.884/tonelada, com perda de US$ 403 no dia. O volume negociado foi de 25.727 contratos, com alta no interesse em aberto, que atingiu 96.025 contratos, indicando novas posições de venda.
Com essa movimentação, a queda acumulada no ano chega a 33%, refletindo um realinhamento profundo no mercado após a disparada histórica de 2023, quando os preços superaram os US$ 12.500/tonelada, impulsionados pelo mau tempo nas principais regiões produtoras da África Ocidental.
Agora, as atenções se voltam para uma possível reversão estrutural no balanço global de oferta e demanda. Fontes do setor projetam excedentes de oferta já no ciclo 2024/25, com estimativas de superávit superior a 200 mil toneladas métricas para 2025/26. Essa mudança de cenário tem influenciado o humor dos investidores e ampliado as apostas de que os preços continuarão sob pressão no curto e médio prazo.
Um sinal importante de retração da demanda veio da Malásia — segundo maior processador de cacau da Ásia — que reportou queda de 22% no volume de moagem, um dos principais indicadores de consumo industrial. A retração elevou as preocupações quanto à saúde da demanda global, especialmente diante da persistência de preços historicamente elevados que têm comprimido margens de lucros das indústrias chocolateiras.
Na Europa, maior mercado consumidor de chocolate, o cenário também é de enfraquecimento. De acordo com fontes da Bloomberg, processadores da região estão enfrentando margens reduzidas, refletindo os efeitos combinados da inflação persistente e dos altos custos do cacau ao longo dos últimos trimestres.
A publicação dos dados globais de moagem, prevista para esta quinta-feira, será determinante para confirmar o ritmo da retração na demanda e ajustar as projeções do mercado.
Nos Estados Unidos, os estoques certificados de cacau permanecem estáveis em 2.336.044 sacas nos portos monitorados pela ICE. No câmbio, o contrato de dólar futuro com vencimento em 31 de julho segue cotado a R$ 5,595, sem variação relevante no dia.
No radar econômico norte-americano, os investidores aguardam os dados de pedidos iniciais de auxílio-desemprego, vendas no varejo, índice de preços de exportação e estoques das empresas — todos com potencial para influenciar o apetite por risco nos mercados de commodities.
Fonte: mercadodocacau