CEO da Ferrero defende que Brasil assuma ainda mais protagonismo no Mercosul

Fundada em 1946, em Alba, na Ítalia, o grupo Ferrero, dono de marcas como NutellaFerrero RocherKinder e Tic Tac, tem investido de maneira silenciosa na América do Sul, que está entre os 10 mercados mais relevantes de um total de 170 países. No Brasil desde 1994, quando trouxe para o país o Kinder Ovo, a empresa quer continuar a crescer na casa dos dois dígitos nos próximos anos. Tamanha é a importância do mercado brasileiro para o grupo que a fábrica instalada em Poços de Caldas (MG) desde 1997 é a maior da região, produz para o mercado local, para outros 11 países e distribui produtos também para os Estados Unidos e o México.

O CEO da Ferrero para a América do Sul, Max de Simone, afirma que o Brasil deve assumir ainda mais protagonismo no Mercosul para ajudar a orientar as políticas econômicas, comerciais e de investimento do bloco, incluindo harmonizações que garantiriam unidade e economia. Segundo ele, esse processo deve se traduzir em unificação de normas entre os países membros do bloco, o que tem potencial para reduzir custos para as empresas e aumentar a produtividade.

“Uma padronização buscando a harmonização das informações nutricionais e dos formatos de rotulagem em alimentos e bebidas processados, por exemplo, traria uma série de impactos positivos, entre eles a disponibilização de informações claras aos consumidores, a melhor comparação de produtos, a prevenção de enganos, a facilitação do comércio, o fortalecimento da indústria alimentícia que opera na região, a cooperação e a integração regional, além de fomentar o estímulo à inovação, para que empresas possam criar produtos que atendam aos padrões nutricionais estabelecidos regionalmente”, diz.

A companhia também tem acompanhado de perto os debates no Legislativo brasileiro. Simone defende a aprovação da reforma tributária em debate no Congresso e vê com entusiasmo os benefícios que a proposta pode trazer para a economia. O texto unifica impostos federais, estaduais e municipais para criar um Imposto sobre Valor Agregado (IVA), já foi aprovado pela Câmara e aguarda a apreciação do Senado.

“Um dos principais pontos é a simplificação do sistema de tributação, reduzindo a complexidade e o número de impostos, contribuições e obrigações acessórias. Isso poderá ajudar empresas globais, como a Ferrero, a diminuírem custos administrativos e de conformidade, liberando recursos que poderiam ser investidos em atividades produtivas, e por consequência, ajudando a gerar mais investimentos e empregos para o país”, diz.

O apetite dos brasileiros por chocolates premium tem ajudado o desenvolvimento da companhia. Entre 2021 e 2022, o crescimento da empresa chegou a 20%. Em três anos, a Ferrero registrou uma expansão de mais de 60% em faturamento e 40% em volume.

“Em 3 anos, a Ferrero cresceu mais de 60% em faturamento e 40% em volume, fruto de estratégia de longo prazo, apostando em: qualidade de produto, investimentos em mídia, execução no ponto de venda, aumento de distribuição e inovação. Em um contexto global cada vez mais desafiador, entendemos que este é um momento de grande oportunidade de consolidação da América do Sul como um destino estratégico de investimentos, especialmente quando explorado o grande potencial da região na reconfiguração das cadeias globais de valor e como provedor mundial de alimentos”, diz.

Como a reforma tributária impactará os negócios da Ferrero?

Uma reforma tributária bem planejada e implementada pode trazer diversos benefícios para as empresas que operam no Brasil. Um dos principais é a simplificação do sistema de tributação, reduzindo a complexidade e o número de impostos, contribuições e obrigações acessórias. Isso poderá ajudar empresas globais, como a Ferrero, a diminuírem custos administrativos e de conformidade, liberando recursos que poderiam ser investidos em atividades produtivas, e por consequência, ajudando a gerar mais investimentos e empregos para o país. A Ferrero entende que operar em um país com um sistema tributário mais simples e equilibrado pode melhorar a competitividade das empresas brasileiras, tanto em âmbito nacional quanto internacional, ajudando incentivar o crescimento econômico e atrair investimentos.

Com uma presença forte no Brasil e na América do Sul, como a Ferrero enxerga o papel do Mercosul?

O Brasil é a maior economia da América do Sul e uma das maiores do mundo. A sua relevância econômica dá ao país uma influência significativa nas decisões e direções do Mercosul e seu protagonismo pode ajudar a orientar as políticas econômicas, comerciais e de investimento do bloco, incluindo harmonizações que garantiriam unidade e economia. Uma padronização buscando a harmonização das informações nutricionais e dos formatos de rotulagem em alimentos e bebidas processados, por exemplo, trariam uma série de impactos positivos, entre eles a disponibilização de informações claras aos consumidores, a melhor comparação de produtos, a prevenção de enganos, a facilitação do comércio, o fortalecimento da indústria alimentícia que opera na região, a cooperação e a integração regional, além de fomentar o estímulo à inovação, para que empresas possam criar produtos que atendam aos padrões nutricionais estabelecidos regionalmente.

Qual a importância do Brasil para a Ferrero?

O Brasil é um dos maiores mercados consumidores de chocolate. Aqui, registramos o crescimento de aproximadamente 20% entre 2021 e 2022. Em 3 anos, a Ferrero cresceu mais de 60% em faturamento e 40% em volume, fruto de estratégia de longo prazo, apostando em: qualidade de produto, investimentos em mídia, execução no ponto de venda, aumento de distribuição e inovação. Em um contexto global cada vez mais desafiador, entendemos que este é um momento de grande oportunidade de consolidação da América do Sul como um destino estratégico de investimentos, especialmente quando explorado o grande potencial da região na reconfiguração das cadeias globais de valor e como provedor mundial de alimentos.

Há espaço para o crescimento do consumo de chocolates do Brasil em América do Sul?

O aumento do consumo per capita de chocolate no Brasil e em outros países da América do Sul é uma tendência influenciada por diversos fatores econômicos, culturais e sociais. Com economias em crescimento, o aumento da urbanização e o acesso a novos produtos, o consumo de produtos indulgentes como o chocolate acaba se tornando mais próximos e presente no cotidiano dos brasileiros. Além disso, o crescimento da classe média e a da indústria de alimentos e bebidas, por exemplo, ajudam a entregar maior disponibilidade e diversidade de produtos no mercado, ampliando oportunidades de consumo, o que para a Ferrero se traduz em perspectivas positivas em relação a categoria de chocolate. De acordo com o estudo encomendado pela Associação Brasileira da Indústria de Chocolates, Amendoim e Balas (Abicab) à KPMG, a indústria de chocolate apresentou um crescimento 9,8% na produção do primeiro trimestre de 2023, quando comparado ao mesmo período do ano anterior. No total, foram 219 mil toneladas, ante 199 mil produzidas nos três primeiros meses de 2022.

E em qual o desempenho do setor em 2022?

Já no consolidado do ano de 2022, o volume produzido atingiu 760 mil toneladas, o que indica um crescimento de 8%, em comparação à produção registrada em 2021, que alcançou 701 mil toneladas. Para a entidade, o setor de chocolates está, cada vez mais, assumindo uma posição de grande relevância para a economia brasileira. Os associados da Abicab têm adotado uma estratégia assertiva ao garantir lançamentos e inovações, sempre acompanhando as tendências de mercado. Vale apontar que o país continua se destacando no setor quando o assunto é exportação. Segundo dados da ComexStat, o setor de chocolate exportou, até junho de 2023, 17,5 mil toneladas, o que corresponde US$ 71,8 milhões. Esse cenário também contribuiu para os resultados positivos da balança comercial, que atingiu 9,1 mil toneladas, o equivalente a US$ 6,5 milhões, até o mês de junho deste ano.

Qual o desempenho global da Ferrero e na América do Sul?

A Ferrero International S.A., controladora do Grupo Ferrero, divulgou em agosto de 2022 os últimos Resultados Financeiros Consolidados, com um volume de negócios consolidado de 14 bilhões de euros, um aumento de 10,4% em comparação com o volume de negócios do ano anterior de 12,7 bilhões de euros. Durante este mesmo exercício, a Ferrero International S.A. consolidou 109 empresas e 32 fábricas em todo o mundo, vendendo diretamente e por meio de distribuidores em mais de 170 países. Enquanto isso, a força de trabalho média do Grupo em 2021/2022 foi de 36.756 funcionários, aumentando de 34.374 funcionários em 2020/2021. O quadro de funcionários em 31 de agosto de 2022 era de 41.441 funcionários, ante 38.767 em 31 de agosto de 2021. Marcas icônicas como Nutella, Ferrero Rocher, Kinder Bueno e Kinder Joy alcançaram crescimento líquido de vendas, impulsionado pelos EUA e Itália, acompanhado pela consolidação de participações de mercado na maioria das regiões. Vale mencionar que a América do Sul está entre os 10 mercados mais relevantes para o grupo em nível mundial, com tendências de contínuo crescimento de relevância nos resultados da empresa.

A empresa tem reforçado os investimentos no Brasil e na América do Sul?

Nós, da Ferrero, fundamentamos um modelo de negócio que tem como princípio a qualidade. Com base neste fator, buscamos oferecer uma experiência de consumo premium para o público, a todo momento. O lançamento de um produto com características de resiliência ao clima brasileiro, vai de encontro com nosso conceito de entregar a melhor experiência possível ao consumidor dos nossos produtos e referendam nossa aposta para seguir crescendo nacionalmente. Entre 2023 e 2024, vamos manter investimentos em nosso portfólio de snacks, com lançamentos recentes como Kinder Tronky, Kinder Cream e Hanuta e também aumentar a inserção no mercado com nossos já consolidados produtos Kinder Bueno e Nutella B-ready. Nossa expectativa é alcançar um público mais jovem, como jovens adultos, e também ter maior entrada nos lares brasileiros em momentos de descontração das famílias. O mercado de snacks é a grande tendência para os próximos anos, segundo pesquisas da Kantar com a Abicab divulgadas em 2022. Também manteremos investimentos em nossas marcas Nutella e Kinder no país, incentivando-as em sazonalidades e com o Food Service (Nutella para este).

Como o Brasil faz parte dessa estratégia?

Para atender a uma demanda crescente pela Nutella no Brasil, a Ferrero investiu, no fim de 2021, R$ 24 milhões na ampliação de sua fábrica em Poços de Caldas (MG), aumentando a capacidade de produção em 29%. A unidade fabril de Poços de Caldas atualmente produz itens regulares do creme de avelã Nutella, vendidos para todo Brasil e também exportados para alguns países da América Latina. A fábrica ainda produz ovos de Páscoa e bombons Ferrero Rocher e Kinder Chocolate, além do envase de Tic Tac.

Sustentabilidade é um tema importante para a companhia?

Outro foco de investimentos, sem dúvida, foi na sustentabilidade. Recentemente tivemos investimentos robustos em nossa fábrica brasileira com um projeto de descarbonização em andamento, em prol da sustentabilidade, no valor de R$ 33 milhões. no projeto de descarbonização da unidade brasileira da companhia localizada em Poços de Caldas (MG). A primeira etapa do programa foi concluída já em setembro de 2022, permitindo a redução de aproximadamente 15% das emissões de carbono, a partir do investimento de € 400 mil, cerca, cerca de R$ 2 milhões. As outras duas etapas devem ser desenvolvidas entre 2023 e 2024 e preveem o processo de eletrificação dos equipamentos, que permitirá a produção com zero emissão de CO₂ até 2025 no escopo 1. O anúncio é parte do compromisso da companhia com o meio ambiente e com a sustentabilidade. Desde 2019, a Ferrero vem cumprindo compromissos globais de rastreamento nas cadeias produtivas de seus fornecedores para garantir a proteção dos direitos humanos, boas práticas sociais, transparência sobre a origem de seus insumos, proteção ambiental e fornecimento de meios de subsistência que melhorem a produtividade para agricultores e produtores nos 36 países onde atua.

Fonte:Exame 

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