Chocolate da Amazônia faz bem para as pessoas e para a floresta

Ademir Venturin, pequeno agricultor de Medicilândia, no interior do Pará, tem uma rotina dupla. Além de cuidar de seus cacaueiros, acumula o cargo de diretor de mercado da Cacauway, pequena fábrica de chocolate gerenciada pelos produtores locais. A meta é ampliar o mercado das barras e dos bombons da marca dentro e fora do Pará. “É uma iniciativa ainda nova e muito pequena, mas foi uma forma que encontramos de explorar o nosso produto para além da matéria-prima”, diz.

É um desafio bem diferente do que Venturin encontrou em 1985, quando desembarcou na cidade à beira da Rodovia Transamazônica e hoje vizinha da Hidrelétrica de Belo Monte, vindo do Espírito Santo para criar gado. Ele faz parte das grandes levas de brasileiros que migraram para o Norte a partir dos anos 1970 em busca da promessa de terras baratas e cultivo livre. Foi quando a pecuária e monoculturas como milho e arroz se espraiaram pela Amazônia e começou o enorme rombo do desmatamento na floresta. “Não havia contexto ambiental nenhum. Ganhava-se uma premiação para desmatar mais”, conta o capixaba, que há dez anos abandonou a pecuária para se especializar no cacau. “Hoje estamos recuperando todas as áreas desmatadas de Medicilândia com o cacau.” Agora ele faz parte de um outro grupo que cresce: o das centenas de pequenos produtores que estão se beneficiando do boom da fruta do chocolate que tomou o Pará e trouxe uma alternativa de produção mais sustentável.

“A produção cresce a uma taxa de quase 10% ao ano”, diz Fernando Mendes, chefe de pesquisas da Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (Ceplac), do Ministério da Agricultura. O estado, que produzia 90.000 toneladas de cacau ao ano em 2014, chega a 120.000 toneladas hoje, o que o coloca atualmente na posição de maior produtor do país – ultrapassou a Bahia no ano passado, onde uma seca severa ajudou a derrubar a produção do patamar de 180.000 toneladas anuais para a faixa das 110.000 toneladas. “São 172.000 hectares de área plantada no estado hoje”, diz Mendes. “Dessas, 140.000 são áreas de desmatamento recuperadas.”

Isso acontece porque, diferentemente da pecuária ou da monocultura, o cacau precisa de sombra para crescer – ou seja, precisa de floresta. Conforme os pastos antigos se tornam improdutivos e, por outro lado, crescem a fiscalização e o cerco legal ao desmatamento, o cacau, fruto nativo da Amazônia, acabou emergindo nos últimos anos como uma alternativa triplamente vantajosa para a região: não desmata, ajuda a reconstituir as áreas devastadas e ainda gera renda para os pequenos produtores.
“Uma propriedade rural típica aqui tem parte da floresta que já foi tirada para alguma atividade, como pecuária ou extração de madeira”, conta Adalberto Veríssimo, pesquisador do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon). O que se está fazendo com o cacau, explica, é pegar a área desmatada, em muitos casos já pouco produtiva, e criar nela o sistema chamado agroflorestal, que não chega a replicar a mata original, mas mescla o plantio de árvores altas com culturas que crescem em sua sombra. “Plantam-se muitas fruteiras, aumenta o número de pássaros e animais, cria-se uma temperatura agradável, mais água é retida e mais carbono fixado. É o meio caminho entre a floresta e a agricultura”, diz Veríssimo.
Bananeiras são um exemplo de pés que garantem sombra. Jatobá, ipê e andiroba, árvore usada por empresas como a Natura para extrair óleos para hidratantes e sabonetes, também são opções. Dividindo a sombra com o cacau, é possível colocar outras frutas parecidas, como açaí e cupuaçu. “Eram famílias que antes tinham gado, talvez uma plantação de milho ou sorgo”, diz o coordenador de floresta e clima da ONG ambiental The Nature Conservance (TNC), Rodrigo Freire. “Com a variedade, a renda delas acaba ficando de 30% a 50% maior.”

A TNC mantém, desde 2009, projetos de educação e apoio ao produtor de cacau nas cidades de São Félix do Xingu e Tucumã, duas das campeãs de desmatamento do Pará. Feitos em parceria com a Ceplac e a Cargill, os pilotos apoiam hoje 125 produtores e mostram resultados bastante positivos. Mais de 500 hectares de pasto foram restaurados, e a renda das famílias participantes, que apenas com a pecuária girava em torno dos R$ 6 mil mensais, chega até a R$ 8 mil quando os cacaueiros começam a produzir, um ciclo que leva de quatro a cinco anos. “Elas passam a depender menos de uma única coisa, têm diferentes produtos para explorar ao longo dos anos, melhoram a renda e sua diversidade alimentar”, diz Freire. “E ainda ajudam a floresta.”

Esse tipo de história faz parte do Festival Origem, evento realizado pelas revistas ÉPOCA, Globo Rural e Casa e Jardim, dos dias 1º a 3 de dezembro em São Paulo, para unir produtores, chefs e consumidores interessados em alimentos bons para a saúde e para o planeta.
Fonte: Época

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0 Comments

  1. FABRICIO disse:

    DEMOROU MUITO PARA PASSAR NA PRAÇA, AS FAMILIAS ESPERANDO O BLOCO E NADA, EU MESMO NEM VI O BLOCO SÓ VI PAREDÕES QUE NÃO TEM NADA A VER COM O EVENTO ZÈ PEREIRA O QUE EU ACHO , MAIS FORA ISSO TUDO OTIMO…

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