O furor mundial pelo chocolate começa a diminuir. A redução da perspectiva para a economia global está forçando os consumidores a buscarem meios de cortar gastos e, com isso, a demanda pelo cacau em 2015 terá o crescimento mais lento dos últimos seis anos, prevê o Rabobank International. Estão em jogo os US$ 114 bilhões que, segundo estimativa da Euromonitor, serão gastos em todo o mundo com o doce neste ano.
A queda no consumo ocorre depois de a compra recorde do produto ter ajudado a impulsionar três anos seguidos de ganhos dos contratos futuros do cacau. Os custos mais altos do ingrediente levaram a Hershey e a Mondelez International, fabricante do biscoito Oreo, a aumentarem os preços. A alta estimulou uma produção maior e, agora, a demanda está diminuindo logo depois de os produtores rurais terem colhido uma safra recorde na Costa do Marfim, o maior produtor mundial. O processamento da semente do cacau sofreu um declínio na Ásia, na Europa e na América do Norte no quarto trimestre, a temporada alta de vendas, segundo relatórios do setor do mês passado.
— O chocolate é uma dessas coisas que viram luxo em épocas difíceis — disse Sameer Samana, estrategista global do Wells Fargo Investment Institute em St. Louis, que gerencia US$ 1,6 trilhão. — Os chocólatras estão percebendo que o chocolate é mais uma vontade do que uma necessidade. Mais uma vez, parece que o mundo tem muito cacau e que o abastecimento não será colocado em perigo.
Os contratos futuros do cacau caíram cerca de 14% desde que atingiram em setembro a maior alta em três anos. Os preços, que entraram em um mercado de baixa em 29 de janeiro, ampliarão as perdas em 18%, para US$ 2.400 a tonelada, até o final do ano, contra US$ 2.931 na sexta-feira, segundo a média de dez estimativas compiladas pela Bloomberg News.
A produção deverá igualar a demanda neste ano, estima a Organização Internacional do Cacau, que também afirma que uma oferta menor é possível. Se a produção superar o consumo, será a terceira temporada consecutiva de ofertas excedentes e a sequência mais longa desde 1991, mostram dados do grupo.
A demanda resiliente nos EUA poderá ajudar a compensar as quedas na Europa e na Ásia. No período de 12 meses que terminou em 28 de dezembro, as vendas americanas de chocolate no varejo, em supermercados, farmácias e outras lojas, subiram 2,4% em relação ao ano anterior e chegaram a US$ 3,88 bilhões, segundo a IRI, uma empresa de pesquisa de mercado com sede em Chicago.
Investimentos dos produtores
— No longo prazo, ainda precisaremos ver investimentos no setor cacaueiro para atender ao consumo crescente de chocolate — disse Bill Pearce, vice-presidente da McKeany Flavell, corretora com sede em Oakland, Califórnia, que tem clientes como a Barry Callebaut, a maior processadora de chocolate a granel do mundo. — Se os preços caírem muito, os produtores não investirão e a safra não acompanhará a demanda.
Na temporada passada, os produtores da Costa do Marfim colheram a maior safra da história, o que aumentou os estoques e permitiu um amplo abastecimento apesar de o clima seco ter prejudicado a colheita deste ano. Até 8 de fevereiro, a chegada de cacau aos portos do país atingiu 1,165 milhão de toneladas, 2,6% a mais que no ano anterior e o ritmo mais rápido em uma década, segundo dados compilados pela KnowledgeCharts, uma unidade da Commodities Risk Analysis em Bethlehem, Pensilvânia.
— Esperamos que a demanda por chocolate continue limitada durante a maior parte do ano, especialmente na Europa e na Ásia — disse Carlos Mera Arzeno, analista de commodities do Rabobank International, em Londres, em entrevista por telefone. — A demanda tem sido relativamente fraca, e as chegadas à Costa do Marfim vêm melhorando também. Fonte: Infomoney