No Brasil, a colaboração com um consórcio do governo está permitindo a transformação da cacauicultura na Bahia.
O CocoaAction Brasil é uma iniciativa público-privada, pré-competitiva, no vibrante setor cacaueiro do Brasil que reúne os atores, mobiliza a cadeia e cria ações coletivas entre governos, empresas e organizações para o desenvolvimento sustentável. Atuando em todas as regiões produtoras de cacau do país, a iniciativa visa aumentar a produtividade do cacau por meio da adoção de boas práticas agrícolas, melhorar a renda dos produtores e promover o trabalho decente entre produtores e trabalhadores do cacau. Além disso, a iniciativa promove a preservação, restauração e conservação ambiental. Em suma, ajuda a criar um ambiente institucional favorável para que o cacau prospere como negócio.
Pedro Ronca é o diretor do CocoaAction Brasil. Conversamos com ele após sua visita a produtores de cacau no estado da Bahia no início deste mês, juntamente com jornalistas e parceiros do CocoaAction e da Fundação Mundial do Cacau (World Cocoa Foundation – WCF). Juntos, eles viram de perto as melhorias no campo e os avanços sendo obtidos pelos produtores. Enquanto a WCF se prepara para realizar o próximo Partnership Meeting no Brasil, a conversa traça o cenário no qual o evento ocorrerá. A edição 2025 da conferência será realizada em São Paulo, em março do ano que vem, sob o tema “Nosso Futuro: Resiliência através da Sustentabilidade”.
Para começar, o que é diferente na produção de cacau no Brasil em comparação com outras origens do mundo?
Uma característica única do setor de cacau brasileiro é que a cadeia toda está presente no país, desde a produção de cacau até o consumo de chocolate. O Brasil é o sétimo maior produtor de cacau do mundo, bem como o quinto maior país consumidor de chocolate. O brasileiro médio consome cerca de 4 kg de chocolate por ano. Mesmo com uma produção anual de 200 mil toneladas, o país ainda consome mais do que produz. A meta do governo é dobrar essa produção até 2030.
O cacau é cultivado principalmente por pequenos produtores familiares na Bahia, Pará, Rondônia e Espírito Santo. Outros estados também começaram a investir na produção de cacau, como São Paulo, Tocantins e Mato Grosso. O tamanho médio da propriedade de cacau é de 6,5 hectares, um pouco maior do que em outros países, o que traz algumas economias de escala.
O Brasil também é uma potência agrícola e possui legislação social e ambiental avançada. Há terras disponíveis para o aumento da produção de cacau sem necessidade de desmatamento. Na verdade, o cacau é um motor de reflorestamento quando plantado em sistemas agroflorestais para recuperar pastagens. Há crédito disponível com boas taxas de juros para os produtores de cacau. E existe um ambiente de negócios maduro, com livre mercado e sem interferência do governo. Tudo isso favorece o setor de cacau no Brasil.
Quais são algumas das maneiras pelas quais o CocoaAction Brasil faz parcerias com o governo?
Entre outras parcerias, trabalhamos em estreita colaboração com o Cacau+, um programa coordenado pelo CIAPRA (consórcio de municípios do Território Sul da Bahia) que visa melhorar a renda dos pequenos produtores, bem como a produtividade, qualidade e sustentabilidade do cacau por meio de assistência técnica contínua e qualificada. O Cacau+ atualmente atende 2.400 famílias produtoras de cacau (10% dos agricultores familiares do Território Sul da Bahia), que cultivam um total de 6.000 hectares de cacau.
O programa é gerido profissionalmente por uma equipe dedicada e financiado em grande parte pelo governo do estado da Bahia e governos locais. É um excelente caso de aumento de produtividade e de renda entre produtores familiares. A produtividade média de cacau dos produtores quando iniciam o programa é de 340 quilos por hectare (kg/ha). Ela aumenta para 640 kg/ha ao final do segundo ano, com a meta de atingir 1.200 kg/ha ao final do ciclo de quatro anos. Isso gera melhorias significativas na renda familiar, levando à prosperidade e bem-estar dos produtores de cacau e suas famílias.
O CocoaAction apoia o Cacau+ por meio de recursos, mobilização de parceiros, suporte institucional e engajamento, e ampla comunicação das lições aprendidas e impactos do programa.
O que mais te impressionou durante sua visita a campo neste mês para encontrar com produtores participantes do Cacau+?
Os pequenos produtores que visitamos deixaram claro como o projeto mudou completamente a produtividade no cacau e sua renda. Vimos agricultores de 5 hectares com carros novos em suas casas, uma combinação de preços de mercado mais altos e aumento de produtividade. Conhecemos um produtor de 4 hectares, que nunca tinha ido para a universidade e que começou a estudar agronomia, aos 46 anos – um “sonho de criança”, em suas palavras – agora que tem uma renda melhor e pode pagar por isso.
O que vem a seguir para o Cacau+ e o CocoaAction Brasil?
O Cacau+ planeja expandir para atender 5.000 produtores e ampliar seus resultados para o desenvolvimento social e geração de renda. O objetivo é que todas as famílias envolvidas no projeto possam alcançar uma renda anual de R$ 60 mil (aproximadamente US$ 12,000). Muitas já conseguiram. Além disso, o Cacau+ está trabalhando e muito próximo de aprovar um projeto para apoiar a implementação de 10.000 novos hectares de cacau em agrofloresta.
Enquanto isso, o CocoaAction tem diversas metas para os próximos anos, enquanto trabalha em todo o Brasil, apoiando o desenvolvimento sustentável através do cacau. Estamos apoiando o setor para que tenhamos oferta de assistência técnica qualificada a 30.000 produtores de cacau e para aumentar o crédito acessado pelos produtores para US$ 50 milhões através do Plano Inova Cacau 2030. Também coordenamos o Projeto Cacau 2030, que possui atividades relacionadas à capacitação de produtores e técnicos, disseminação de conhecimento e assistência técnica, organização das cooperativas, acesso a crédito e promoção do trabalho decente, para impulsionar a sustentabilidade no campo.
E estamos trabalhando em outras parcerias, sobre as quais esperamos compartilhar mais em breve. Portanto, fique atento!
Fonte: worldcocoafoundation