Por Caio Santos – Operador de commodities agricolas da Stone X
Como temos antecipado, o contexto de curto prazo para o cacau ainda conta com uma conotação mais baixista em função da condição de sobre oferta no curto prazo, já que a ICCO espera que a Costa do Marfim alcance uma produção de 2,225 milhões de toneladas, e Gana alcance 950.000 toneladas (alguns analistas esperam que Gana supere 1 milhão).
A normalização das chuvas favoreceram regiões na Costa do Marfim, Togo e o oeste da Nigéria esta semana, e espera-se que a precipitação continue se normalizando na próxima. Esses volumes tem sido suficientes para manter a umidade do solo em condições favoráveis pelo menos até o final da safra intermediária, mas o início tardio das chuvas e a baixa contagem de frutos na África Ocidental deixa em aberto o risco de um déficit global para a próxima safra. Nossas primeiras estimativas apontam para um déficit de 93.000 toneladas em 2021/22.
Além disso, espera-se que o cenário de consumo de chocolate, bem como a moagem do cacau, mantenha seu ritmo de recuperação. Como lembrete, no próximo mês teremos a divulgação dos dados de moagem da Europa, Ásia e América do Norte. As expectativas são de que teremos um aumento entre 7-10% na Europa, 3,5-4,5% na Ásia, e 5-7% provenientes da NCA. Embora este aumento reflita parcialmente a substituição do trabalho perdido na Costa do Marfim – devido à crise de energia – os participantes do mercado relatam que as vendas do varejo e a produção de confeitos voltaram pelo menos aos níveis pré-pandemia, portanto podemos esperar a manutenção da tendência de recuperação na moagem.
Os preços à vista nos principais produtores parecem estar abandonando às mínimas de 2021, com exceção de Gana, onde a condição de excesso de oferta é mais intensa. Os diferenciais estão caindo e continuarão a cair até que as vendas da Costa do Marfim e de Gana se normalizem em relação às temporadas passadas e comecemos a ver uma queda nos estoques certificados.
O atual contexto macro parece continuar a suportar as commodities, não apenas por causa da inflação monetária e da desvalorização do dólar, mas também porque a recuperação econômica pós-pandemia provavelmente manterá a demanda de matérias-primas em alta. A partir da experiência passada, entendemos que os preços do cacau eventualmente seguem a tendência geral dos preços das commodities. Até hoje, desde maio de 2020, o Índice Refinitiv CRB (benchmark para as commodities) aumentou 53,7%, e os futuros de cacau negociados em NY subiram apenas 1,5% – continuaremos a monitorar isso durante os próximos meses. No ambiente atual, especuladores deixaram o cacau, mas mais dinheiro pode retornar assim que virem uma oportunidade.