“Boa tarde, estamos tentando falar com seu departamento de marketing mas não conseguimos um contato. Com quem podemos falar sobre produtos de Páscoa?”
Mensagem recebida através do chat privado do nosso Instagram, na semana passada.
Minha resposta:
“Olá! Puxa, estamos honrados em passar a ideia de que somos uma empresa com departamentos específicos… Adorei! Éééé… então… mas… rsrsrs, nosso departamento de marketing é o mesmo departamento de vendas, de compras, de operações, de desenvolvimento de produtos, de comunicação e mídias sociais, da contabilidade, da administração e, de quebra, o mesmo que faz os ovos e coelhinhos… Em que posso ajudar?”
Eles também responderam sorrindo e felizes por estarem lidando com os “donos” do negócio. Acabamos batendo o maior papo.
Ao mesmo tempo que essa face da maioria das empresas Tree to Bar ou Bean to Bar aflige o empreendedor pelo acúmulo do trabalho, é ela que conquista o parceiro lojista, ou o cliente direto. Mas como lidar com isso no dia a dia tumultuado da produção de Páscoa?
Pra quem não imagina o tamanho da encrenca, aqui vai uma ideia: muitos empreendimentos de chocolate fazem até 70% do seu faturamento anual no período de Páscoa. Ou seja, os suores mais intensos do trabalho acontecem entre janeiro e abril de cada ano quando conseguimos planejar receitas e embalagens, fotografa-las, diagrama-las, divulga-las, produzi-las em quantidade e vende-las. Esse trabalho numa empresa grande de departamentos não é menos intenso que o nosso, mas sim, é mais fácil pela distribuição de funções. Para uma empresa Bean to Bar onde o chocolate maker normalmente assume todas as funções descritas acima, o bicho pega! E é nesse momento que nos encontramos agora.
Aqui no Baianí, as funções são muito bem distribuídas entre o Tuta e eu. Sou sortuda. Tenho um “marido polvo” que consegue desenvolver múltiplas funções ao mesmo tempo assim como eu (às vezes melhor que eu… kkkk). Aproveitando, porém, o fato de estarmos também no mês das mulheres, vou acrescentar aqui que essa característica é bem esperada quando a figura à sua frente é feminina. As pessoas olham pra a gente como as grande solucionadoras de todos os impasses, de todas as intemperes, de todos os medos, erros e sim, também e mais ainda, de todos os acertos! Ufa. graças à Deusa Diana… hahaha. Mas acabamos sobrecarregadas… Isso é um fato. Fato que misturado à TPMs e Monopausas então… Afff, como potencializa! hahaha… Hrum Hrum, vamos voltar ao chocolate… Claro, mesmo porque grande parte dos empreendimentos de chocolate Bean to Bar são liderados por mulheres….
Para a percepção do consumidor, esse acúmulo de funções no Bean to Bar acaba por trazer um grande boom de atenções ao nosso chocolate. Toda a criação de cada ideia, de cada conceito, é um parto de trabalho intenso, então a ação de mercado que vem a partir deles é bem específica e inevitavelmente será tocante a cada indivíduo. Essa é uma constante no nosso nicho de mercado, mas na Páscoa isso se intensifica imensamente. Fazemos um trabalho de “pessoas para pessoas”. Essa expressão demagogicamente usada pela indústria, em nós é real. Aqui os consumidores alcançam o fabricante, o dono da empresa, as pessoas que fazem o chocolate, vendem e enviam o chocolate. Então eles podem realmente criticar e/ou elogiar, principalmente via mídias sociais, sabendo que o resultado desse feedback será eficiente. Então o conforto da pessoa que degusta é triplo, quadruplo. E é garantido por todo o caminho que o produto levou até chegar a ele.
Do nosso lado de fabricantes, temos ciência de que precisamos passar tudo isso ao conhecimento do cliente de forma transparente. Por serem tão nossos e tão perto de nós, cada ovo de Páscoa, ou coelhinho de chocolate, ou cestinha de ovos de trilha, viram produtos pessoais, onde depositamos um monte de energia. Então, o cuidado ao passar ao lojista ou ao consumidor final e as atenções dispendidas a cada produto, não podem ser negligenciados porque senão a gente perde todo esse trabalho exclusivamente baseado na “verdade do chocolate” (expressão que nós do Baianí temos usado com força). Então haja criatividade, conceito, planejamento de ações e concisão na agenda pra entregarmos tudo de forma perfeita, como a indústria e suas atividades distribuídas em departamentos…
É tanto que notei um grande movimento dentro do mercado de consultorias e coaching para com o quesito “Planejamento de Páscoa”, especificamente. A Escola Castelli de Chocolataria, por exemplo, ofereceu um curso para tal ação com maestria. Curso on line como vários outros que tem acontecido nesse momento de pandemia. Outras empresas também ofereceram lives e sequencias de vídeo aulas sobre o assunto em todos os canais de mídia social.
E por falar em pandemia, que loucura isso heim? O quanto a vida tem nos ensinado e alertado nesses tempos loucos. Eu sinceramente não achei que viveria para ver o que estamos passando. E nessa segunda onda, então, onde vários dos nossos parentes e amigos próximos estão se contaminando, estamos sendo ainda mais obrigados à reflexão e à reinvenção para a sobrevivência. A Páscoa que já foi bem espremida no ano passado por conta do início da pandemia, agora está bem sacrificada por conta da segunda onda.
Dentro das nossas fábricas, a dualidade aflitiva entre fechar tudo por segurança ou manter os empregos é diária… Ver os olhos dos funcionários que abrigamos quando chegam todos os dias sem saber o que vai ser dito a eles não é aprazível. Fora das fábricas as demandas por produtos de Páscoa continuam, porém muito mais reduzidos do que nos nossos conhecidos anos de glória da Semana Santa. E ficou tudo mais caro…
Dias sim, dias não, vamos sobrevivendo com alguns arranhões… A Páscoa Bean to Bar é trabalhosa, está fragilizada, mas leva Renascimento e Transformação com chocolate de verdade. Isso ninguém tira de nós. Se for ovo de Páscoa, que seja de chocolate Bean to Bar.
FELIZ PÁSCOA 2021
Juliana Aquino