Por Caio Santos – Operador de commodities agricolas da Stone X
O cacau terminou a segunda semana de março em leve alta, com a tela de Mai’21 alcançando 0,27% de valorização, encerrando os negócios na última sexta-feira cotado à 2570. Embora a perspectiva para este ciclo ainda sinalize um superávit, a menor percepção de risco em relação à recuperação econômica e avanço dos programas de vacinação podem contribuir para reacender o ímpeto comprador no curto prazo.
Estamos entrando em um período sazonalmente mais altista para o cacau. Nos últimos dez anos, ao menos em seis os preços médios praticados durante fevereiro foram menores do que os preços de maio – em 2021 as negociações de março começaram a refletir nos preços essa tendência sazonal. Também, historicamente, no mesmo período analisado, os anos de superávit registraram preços médios mensais mais altos na primeira metade do ciclo.
Este ano, sabemos, espera-se um superávit de cacau, estimado pela ICCO em aproximadamente 100 mil toneladas, conforme divulgado na semana passada. Com esse cenário resultante para o final do ciclo, projeta-se a relação estoque/esmagamento ao redor de 38,6%, subindo de 37,15% na safra passada. Como em outras comodities, a relação estoque/esmagamento (ou estoque/uso) normalmente guarda uma correlação inversa com a média de preços praticados ao longo do período (quanto maior os estoques, menores os preços, historicamente). Projetando esse resultado para estoque/esmagamento em 20-21, projeta-se preços médios de 2342 para o NY (segundo contrato entre out/20 e set/21). Dado que até o momento temos preços médios ao redor de 2500, preços mais baixos no segundo semestre seriam necessários para aproximar a média realizada das projeções de acordo com seu comportamento histórico.
O que mantém a dúvida dos agentes em relação à performance desse movimento ou não são as incertezas em relação à demanda. Mais de 355 milhões e pessoas já receberam algum tipo de imunizante contra a Covid-19, representando 4,6% da população mundial. Os novos casos de Covid-19 nos Estados Unidos caíram para 36.896 no domingo, registrando quase 100.000 infecções a menos na semana passada, menor número desde o início de outubro. Já o número de óbitos caiu a uma média de 1.326 por dia, a menor contagem desde novembro. A imunização nos EUA expandiu com o aumento da produção da Pfizer e Moderna, juntamente com a aprovação da vacina da Johnson & Johnson, com um governo apoiando as medidas anti-Covid. A taxa de vacinação no país na última semana foi de cerca de 2,5 milhões de doses por dia. Atualmente, mais de 105 milhões de americanos foram vacinados, 31,6% da população. Na Europa, a situação é mista. Enquanto o Reino Unido desponta, outros países ainda seguem com medidas mais restritivas e avançando de forma mais lenta com a vacinação.
Outro aspecto que impacta diretamente as expectativas em relação à demanda foi o anúncio na semana passada de mais um programa de estímulos nos EUA, que totalizará US$ 1,9 trilhão de dólares, e contribuirá para a retomada econômica no país. Tudo isso mantém um viés positivo para a demanda de cacau no curto prazo, e contribui para preços suportados, em conformidade também com a tendência sazonal de valorização – hoje, com 24.505 contratos comprados no saldo líquido pelos especuladores, a posição da categoria ainda reflete essa expectativa. Passado o primeiro semestre, com o início da safra intermediária (até o momento avaliada de forma positiva devido ao clima favorável), e números sobre a moagem do 1T21 e 2T21, a força da demanda e a pressão da oferta poderão ser mais bem auferidas e servirão de base para remontagem das expectativas.