Por Caio Santos – Operador de commodities agricolas da Stone X
Embora as perspectivas da demanda de cacau continuem positivas a longo prazo, pois a eventual reabertura das economias globais deverá resultar em um aumento no consumo de chocolate, o momento atual da pandemia em diversas localidades mundo afora volta a lançar dúvida se essa recuperação será observada (com intensidade) ainda em 2021. Enquanto a América do Norte e a Ásia aparentemente seguem se movendo nesse sentido, a Europa concentra a maior parcela de dúvida.
A movimentação da semana finda em 19/mar refletiu essas incertezas em relação à reabertura econômica da economia europeia, além do cenário externo mais altista para o dólar. No fechamento da última sexta-feira, o contrato de Mai’21 do cacau encerrou os negócios à 2493, com queda semanal de 3%.
As preocupações sobre a demanda europeia a curto prazo, devido a um surto de novos casos de COVID, e a indefinição acerca da originação de vacinas para abastecer os continentes continuam sendo uma importante fonte de pressão sobre os preços do cacau. Embora a notícia de que algumas nações voltaram a utilizar a vacina AstraZeneca melhore os prospectos do continente na batalha contra o vírus, os relatos de que Paris está entrando em novamente em lockdown contribuiu para a quebra da lateralidade nas negociações na semana. Tudo isso, quando condensamos em termos de perspectivas para a demanda, considerando que as nações da zona do euro são responsáveis por mais de 30% do processamento global de cacau – com a Holanda e a Alemanha 2 das 4 principais nações de moagem – as perspectivas de contínuos lockdowns e viagens restritas tem grande impacto negativo sobre a força de recuperação da demanda em 2021.
Do lado da oferta, além do já comentado superávit previsto para o ciclo 20/21, as compras oficiais de Gana estavam cerca de ~11% à frente do ritmo da última temporada, enquanto Gana e Costa do Marfim, somados, já haviam produzido até o final de fevereiro 6,6% a mais do que a média produzida no mesmo período nos últimos 5 anos. Além disso, o mercado comenta que a Costa do Marfim está atrasada em suas vendas a prazo para sua produção 2021/22, o que poderia impulsionar a ponta vendedora do mercado ainda esse ano – sem contar o fato de que as perspectivas para a safra intermediária são otimistas em virtude do clima favorável nos últimos meses.
As ocasiões de baixa para os preços do cacau têm embasamento nos fundamentos projetados para este ciclo. As movimentações observadas em sentido oposto, se apoiaram nas perspectivas em relação à retomada da demanda este ano e no forte movimento de desvalorização do dólar observado na segunda metade de 2020. Com dólar voltando a subir e a falta de clareza em relação à essa recuperação da demanda, o contexto altista para o cacau perde força.