Movimentação moderada na semana reflete compasso de espera pela temporada 24/25
Na última semana, entre os dias 23 e 30 de agosto, os preços do cacau no mercado futuro apresentaram movimentação baixista. Em Nova Iorque, o contrato mais negociado, com vencimento em dezembro de 2024 (CCZ24), recuou 1,8%, encerrando o período a 7.671 USD/tonelada. Em Londres, o mesmo contrato registrou uma queda de 2,5%, fechando o último pregão da semana a 5.586 GBP/tonelada.
No mesmo período, o Dollar Index (DXY) avançou cerca de 1%, enquanto o índice CRB de commodities, principal referência para ativos dessa categoria, recuou 0,5%. Esses movimentos indicam que fatores macroeconômicos podem ter influenciado a tendência de queda nas cotações do cacau, com o fortalecimento do dólar, considerado um ativo mais seguro, e um enfraquecimento geral das commodities, sugerindo um possível movimento de "fuga para a qualidade". Analisando os fundamentos do mercado do cacau, ainda, é possível que leves chuvas em regiões do Oeste Africano tenham influenciado as cotações, mas as perspectivas seguem mais secas para a região em setembro.
ATUALIZAÇÃO DO RELATÓRIO TRIMESTRAL DA ICCO
No dia 31 de agosto, a Organização Internacional do Cacau (ICCO) publicou o seu relatório trimestral. O documento é uma das mais importantes fontes de estatísticas sobre o mercado de cacau, amplamente considerada uma das maiores referências para os participantes do setor. Na divulgação mais recente, o relatório revisou as estimativas para o desempenho das temporadas 2022/23 e 2023/24, que têm início nos meses de outubro e encerramento em setembro.
Considerando o histórico do saldo global entre oferta e demanda mundial de cacau, a revisão da ICCO vai no sentido de atenuar o aperto percebido durante a temporada 22/23, e intensificar ainda mais o cenário crítico de 23/24. Os reajustes feitos pela organização ocorrem tanto pelo lado da oferta como pela demanda. Considerando o cenário da safra pregressa, 22/23, a visão de uma demanda menor (reajuste de 16 mil ton) e um leve aumento de 2 mil toneladas na produção fizeram com que o saldo passasse de -76 mil toneladas para -57 mil ton na safra anterior (2022/23).
Em contraste, em 23/24, destaca-se a redução da estimativa de produção mundial de cacau, ajustada de 4.461 para 4.332 mil toneladas. Do lado da demanda, a estimativa de moagem mundial também foi revisada para baixo, mas de forma mais modesta, passando de 4.855 para 4.332 mil toneladas. Como resultado, a nova projeção sugere que a temporada atual resultará em um déficit global de 462 mil toneladas, superior ao déficit de 439 mil toneladas previsto anteriormente.
A estimativa para a relação estoque/uso da temporada atual também foi revisada, devendo consolidar-se em 27,9% segundo o órgão. Esse é o menor número em 45 anos e explica o cenário de forte alta nos preços observado ao longo de 2023 e 2024. A última ocasião em que esse dado esteve tão baixo foi na década de 70, quando se atingiu na temporada 1976/77 a menor relação estoque/uso já registrada, de 19,2%.