GUERRA DE ALEIJADOS

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Texto: Claúdio Zumaeta

Para iniciarmos esse arrazoado sobre a cacauicultura proponho aqui um pequeno recorte histórico-econômico. Vejamos: os planos Cruzado, Bresser e Verão (a partir de 1986), buscaram, sem sucesso, estabilizar a economia brasileira. Como consequencias daqueles Planos tivemos: o congelamento dos preços, resultando na falta dos produtos por excesso de demanda, o aumento do déficit público, o aumento dos encargos financeiros junto ao crédito, a estagnação dos preços internos, os reajustes dos insumos e etc. Tudo isso impactou a lavoura cacaueira, sobretudo entre os anos de 1986 e 1989.

Ednaldo Ribeiro Bispo, técnico aposentado da Ceplac, em “Gestão Moderna da Cacauicultura”, pontuou: “A partir de 1986, os planos de estabilização colocados em prática no Brasil, interferiram diretamente, em pelo menos, dois setores: na política cambial, dando início a um processo de queda nos preços internos do cacau, e na retirada progressiva dos subsídios aos insumos agrícolas, bem como às linhas de créditos existentes, gerando um baixo índice na adoção da tecnologia e um aumento nos custos de produção, com consequente diminuição nas margens de lucro” E acrescentou: “Com o surgimento da vassoura-de-bruxa em 1989, a situação se agravou ainda mais, porque outros custos foram incorporados aos existentes, em decorrência das novas recomendações técnicas preconizadas para serem utilizadas nas plantações, na tentativa de conter o avanço da enfermidade”.

A região ainda vivia uma estiagem prolongada, o que acarretou a redução das safras dos anos de 1987/1988 e 1988/1989. Era, portanto, uma crise nacional, dentro de outra crise regional. E, ainda que a lavoura cacaueira já tivesse sido “testada” em outras crises (1929, 1957 e 1964), não podia imaginar que algo tão avassaladora estava por vir, e veio: a praga da vassoura-de-bruxa (1989) que devastou as plantações e já combalida economia cacaueira! Diante daquilo tudo a lavoura caiu a níveis antieconômicos: a tecnologia empregada era insuficiente para reverter o quadro da perda de produção, o crédito era difícil, caro e escasso.

A partir dos anos 90 do século XX, a região começou a perder espaço no mercado internacional para a África e para a Ásia. Naquele mesmo período, a inflação alcançou níveis insuportáveis e houve um grande reajuste da mão-de-obra e dos insumos. A dívida dos agricultores (2000), com os bancos oficiais, foi estimada em 130 milhões de dólares e com os exportadores, industriais e cooperativas, em mais 70 milhões de dólares, segundo o Banco do Brasil. Naquele período, os excedentes mundiais e o elevado estoque de cacau resultaram num período de preços baixos, ou seja, indo direto ao ponto: a região cacaueira foi à bancarrota!

Passados todos esses anos, no entanto, e apesar das dificuldades que ainda persistem, a lavoura cacaueira continua de pé e na luta por dias melhores. No entanto, infelizmente, ainda persistem duas outras “crises” graves: a vaidade e a desunião dos cacauicultores. É certo, igualmente, que o longo desses anos terríveis, alguns produtores se empenharam em acabar com esses entraves. Entenderam e entendem, acertadamente, que só a comunhão dos esforços em favor do cacau pode resolver tantos problemas. Mas, essas barreiras são subjetivas (diferentemente dos problemas econômicos do passado e dos atuais), por isso encontrar um “caminho do meio” não é uma tarefa fácil; ainda que seja óbvio que sem um objetivo comum a vitória pretendida nunca virá.

A desunião dos cacauicultores faz a alegria dos inimigos da lavoura cacaueira: aqueles políticos profissionais que só aparecem para as festas eleitoreiras e nunca estão presentes quando os problemas se agravam. Há dificuldades sérias, reais e urgentes não resolvidas, que têm ficado para depois, porque as vaidades sempre se sobrepõem a elas! Os cacauicultores precisam se unir pelo partido do cacau! As representações dos produtores continuam trocando farpas entre si (e desastrosamente, dentro de suas próprias associações/instituições!) isso, claro, não é nada bom. Tenho dito que a briga entre os produtores de cacau é como uma guerra entre aleijados: uns atirando as muletas nos outros, tendo como resultado consecutivo a imobilidade, a fraqueza, e a morte de todos.

Texto expressa exclusivamente a opinião do colunista e é de responsabildiade do autor 

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