Nascido no Espírito Santo, Paulo Gonçalves trabalha com a produção cacaueira desde os 14 anos. Hoje, aos 59, comanda a empresa Espírito Cacau, criada por ele uma década atrás, apostando na fabricação de chocolate 100% natural.
Os quase 40 produtos do portfólio têm alto teor de massa de cacau. Tal característica têm conquistado não apenas o mercado brasileiro, como também o árabe. Com certificação halal e kosher, o foco agora é aumentar a presença internacional, que também já alcança os Estados Unidos.
Ainda na década de 1970, seu pai, Pedro, fundou uma fábrica de processamento de cacau e chocolate, ensinando o filho a trabalhar com as melhores amêndoas, “fazer chocolate e ter amor” — tanto pelo cacau como pelo produto final. “Cultivar o fruto é um legado que ele quis manter e eu também quero. Produzir cacau, para mim, é uma paixão e legado”, afirma.
O primeiro contato de Gonçalves com esse universo envolveu a classificação do fruto para exportação, na adolescência. Aos 17, ele assumiu a administração das fazendas da família. Dois anos mais tarde, foi estudar nos Estados Unidos, no Wagner College, onde concluiu os estudos em Comércio Exterior.
Quando retornou, estagiou no Centro de Pesquisa de Cacau na Bahia. Trabalhando no setor, tornou-se grande conhecedor do fruto. Posteriormente, reassumiu a função de administrar as terras.
“Consegui implantar mudanças na lavoura de cacau, aumentar os stands de planta por hectare, melhorar a qualidade dos frutos e a produtividade. Minha vida sempre foi produzir e trabalhar no segmento de cacau”, atesta.
Há tempos ele alimentava o sonho de produzir chocolate funcional, natural e que fizesse bem à saúde. Foram 13 anos de pesquisas intensas, desde a melhoria do cacau até o processo de produção do chocolate. Foi quando nasceu a Espírito Cacau.
A principal característica dos produtos é ser um chocolate 100% natural. No portfólio de aproximadamente 40 produtos, há várias opções veganas, com baixo teor de calorias e altos teores de massa de cacau e antioxidantes. Igualmente não contam com aditivos químicos.
A Espírito Cacau produz hoje em torno de 30 toneladas de chocolate por mês — algo em torno de 375 mil barras de 80 g, quantidade que pode mudar, dependendo da gramatura da barra em produção. A região capixaba é conhecida como um dos melhores “terroirs” do país para essa cultura.
Desastre em Mariana
Em 2015, apenas dois anos após o nascimento da empresa, a produção foi reduzida em cerca de 90%, pois a plantação foi afetada pelo desastre ambiental em Mariana (MG), onde houve naquele ano o rompimento de uma barragem da mineradora Samarco. “Foi muito grave! A lama destruiu todas as fazendas, levando irrigações e matando os pés de cacau”, lembra-se.
Três anos depois, Gonçalves começou a replantar o cacau perdido e ainda aguarda a indenização para continuar a reconstrução da fazenda. Atualmente, a produção envolve 340 hectares, que chegaram a produzir 6 mil sacas de cacau por meio de um projeto com novos clones, irrigação e manejo integrado, com projeção para 8.000 sacas.
Entre 2021 e 2022, foram feitos investimentos, na ordem de R$ 2,6 milhões, na aquisição de novos maquinários e certificações, com o objetivo de aumentar e diferenciar a produção. Da mesma forma, investe-se na abertura de novos mercados, no Brasil e no exterior.
Nesta busca contínua, a marca tem aparecido constantemente em feiras internacionais e nacionais. Hoje, metade de toda a produção mensal da Espírito Cacau é voltada para o mercado interno e a outra metade para o exterior. A exportação hoje representa 50% do faturamento, sendo a outra metade responsabilidade do mercado local.
“Ajuda” do isolamento
A pandemia acabou sendo benéfica à Espírito Cacau, pois impactou no aumento das vendas. “Como todos estavam em casa procurando alimentos mais saudáveis, conseguimos atender a demanda e ter um crescimento”, diz Gonçalves.
Desde 2018, o empreendedor tentava entrar no mercado árabe. A primeira exportação, finalmente, aconteceu em 2020, coincidindo com o início da pandemia. Hoje, além dos Emirados Árabes Unidos, exportam para os EUA.
Gonçalves revela que o mercado árabe prefere produtos mais naturais e com pegada saudável, o que coincide com a proposta da empresa. Tanto que a empresa chega a desenvolver itens exclusivos para Dubai que, depois, são lançados no Brasil.
Alcançar mercados externos é uma conquista para o empreendedor. “Trata-se de valorização e reconhecimento dos chocolates. Quando comparados a outros, nossos produtos possuem os menores percentuais de calorias e, por isso, também estão sendo apreciados por fabricantes de outros países”, argumenta.
Internamente, ele conta que o consumidor brasileiro passou a ver os chocolates de origem — com maiores teores de cacau e elaborados com ingredientes naturais — como opções melhores. “Essa mudança de cultura que vem ocorrendo no país, parecida com o que aconteceu com o café, está despertando o interesse das pessoas por chocolates diferenciados”, aposta.
A conquista dos selos halal e kosher também ajudou a aumentar ainda mais sua presença no mercado estrangeiro. Outras certificações da empresa são o NON-GMO (produtos sem transgênicos) e da SVB (Sociedade Vegetariana Brasileira).
Sem glúten e conservantes, alguns chocolates Espírito Cacau (Linha Origens) são produzidos sem ingredientes de origem animal — a única exceção é o chocolate ao leite. Por isso, podem ser consumidos por veganos e pessoas com restrições alimentares.
Hoje, a Espírito Gourmet faz parte do grupo de apenas 3,5% do mercado mundial de chocolates, classificados como de origem única e gourmet. Coleciona prêmios, como o segundo lugar no Salão de Chocolate de Paris, além de ter sido reconhecida como Cacau de Excelência pela International Cocoa Awards, sendo apontada como um dos melhores da América do Sul.
Fonte:Pequenas empresas & Grande negócios